sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Literatura Infantil e História / Efemérides

Sessão 3

"Ler. Ler para (re)viver, construir memória, convertê-la em herança e em pilar de cidadania ativa. Esse é um dos desígnios da escrita. E da Literatura para a Infância e Juventude." (Gomes, 2009: 13)


      Nesta sessão procuramos associar a literatura para a infância às Efemérides (neste caso, ao Natal), e à História: como estamos no mês dos direitos humanos, a nossa escolha recaiu sobre a memória de Rosa Parks e o seu NÃO revolucionário. E porque de fora para dentro, queremos também perpetuar a memória nacional, fomos ao Planeta Tangerina buscar uma obra que tem por base o clima  vivido em época de pré-revolução. Um trio que se completará com as leituras realizadas em família.



     Nesta obra de João Pedro Mésseder e Gabriela Sotto Mayor, assistimos a um interessante diálogo entre os diferentes imaginários de Natal, protagonizados pelo Menino Jesus e pelo Pai Natal. Sob a forma de poesia narrativa e com recurso a ilustrações que ampliam grandemente a leitura do texto verbal, esta obra reaviva memórias de Natais idos, convocando, para o mesmo cenário, imagens muito contemporâneas associadas ao Natal. Um interessante convite à reflexão, pintalgado aqui e ali por subtis notas de humor. 




     Partindo de um contexto histórico nacional bem definido (a ditadura imposta pelo estado novo), esta obra surpreende-nos pela novidade. Fugindo, de certa forma, à abordagem mais usual ao tema, que habitualmente desemboca na revolução dos cravos e num hino mais ou menos explícito à liberdade, este trabalho baseia-se na história de uma família que procura melhores condições de vida, pautada por ideais inexistentes em Portugal, em países como a Argélia, a Roménia e a Checoslováquia - cenário evocado no final da obra. A coragem de iniciar uma mudança, uma revolução é dada a ler através da imagem de uma mãe que com recurso às agulhas de tricotar transforma uma cidade monótona numa cidade colorida, arrastando consigo "toda a população": "com 3 novelos de lã (o mundo dá muitas voltas)".


   Uma história que ocorre em dois planos diegéticos distintos: avô e neto visitam o museu onde se encontra exposto o autocarro que transportava Rosa Parks no dia 1 de dezembro de 1955. O avô também viajava naquele autocarro no dia do histórico Não que veio pôr fim à segregação racial.
Com belíssimas ilustrações de Maurízio Quarelo, esta obra, recomendada pela Amnistia Internacional, perpetua memórias que, sendo tristes, não podem ser esquecidas, eterniza o impacto provocado por um ato de coragem, e leva-nos ainda a refletir sobre a importância da partilha de histórias de vida entre diferentes gerações.