sábado, 14 de novembro de 2020

Programa ELF em Rebordões Souto - Distinção Escola Amiga da Criança (2)

O Programa ELF tem vindo a ser distinguido, nas várias edições desde 2017/2018, com o selo Escola Amiga da Criança. Em 2019/2020 a distinção foi atribuída à EB de Rebordões Souto (Ponte de Lima), a escola que viu nascer o primeiro projeto de promoção da leitura em ambiente familiar, no "longínquo" ano de 2007.

Momentos da Tertúlia de Encerramento

A edição ELF 2019/2020 teve lugar entre janeiro e março, tendo a tradicional tertúlia de encerramento coincidido com a abertura da semana da leitura 2020, um momento que ficará na memória de todos os que nela participaram, não só pelas marcas que o projeto deixa naqueles que o vivem, mas também porque foi o último momento festivo do ano letivo (dias depois assistíamos ao encerramento das escolas).

Mensagem da Direção: o professor João Carlos Gonçalves parabeniza as famílias participantes.

Vale a pena, portanto, no âmbito desta distinção, reviver o passado dia 6 de março e recordar alguns dos momentos marcantes dessa festa, que reúne a leitura e os afetos à mesma mesa. 

Duas mães participantes partilham o seu testemunho com os presentes

O entusiasmo com que cada família partilha a sua experiência é revelador da transformação proporcionada pela participação no projeto. Na imagem acima é visível a alegria da partilha de dois trabalhos que resultaram de uma experiência muito especial em torno das obras O meu avô, de Catarina Sobral e O Princípio, de Paula Carballeira e Sonja  Danawsky, um dos livros mais surpreendentes, sobretudo pelo tema difícil que aborda (falamos desta experiência AQUI).

Sonhos com Asas: Leituras de Mãe. A participação especial da professora Helena Imperadeiro

Às tertúlias ELF, pelo caráter intimista que as caracteriza, trazemos convidados que partilham genuinamente do amor aos livros e à leitura. Este encerramento contou com a participação especial de Helena Imperadeiro, professora bibliotecária no agrupamento de escolas de Barroselas (Viana do Castelo), que partilhou com os presentes a sua experiência de mãe leitora (apesar de os filhos já serem crescidos) e do potencial dos livros (e dos sonhos).

Maria José Machado, mãe ELF, apresenta o projeto Nuvem Vitória

O caminho que os participantes ELF percorrem depois de passarem pelo programa é revelador da mudança que se opera nas suas vidas. A Maria José Machado (de quem falamos AQUI) é uma dessas mães. Depois do programa ELF, tornou-se voluntária da leitura, voluntária na replicação do projeto ELF junto de outros pais, e hoje é uma Nuvem que leva sorrisos, em forma de livro, às crianças hospitalizadas. É voluntária do projeto Nuvem Vitória, experiência que veio partilhar com os mais recentes pais ELF. 

Susana Corvas e uma nova forma de contar histórias: estreia do tapete narrativo

E foi em ambiente intimista que pudemos conhecer, em estreia, o primeiro tapete narrativo de Susana Corvas, uma mãe ELF, que, contagiada pelo vírus da leitura, depois da sua participação no projeto na EB de Trovela, não mais parou. Tornou-se voluntária da leitura e colaborou ativamente na dinamização desta edição do projeto. 
Na imagem acima podemos ver o momento em que conta a história de Herberto, de Lara Hawthorne, através de um original tapete narrativo construído por si. Curiosamente, esta pequena grande obra (que já integrou outras edições ELF) é um hino aos talentos de cada um (e este projeto tem-se revelado especialista em acordar talentos adormecidos...).

Trabalhos baseados na obra de António Mota A Casa de Palavras
(o autor visitou a escola na semana da leitura)


E em ambiente de festa, numa biblioteca já decorada para receber António Mota e Daniel Completo (imagem acima), a tertúlia terminou em alegre confraternização, aquecida por sorrisos, enquanto um sugestivo bolo se encarregava de plantar uma memória doce em cada um dos presentes.


Obrigada!



 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos - Distinção Escola Amiga da Criança (1)

Vale a pena recordar e revisitar esta rubrica, que acaba de ser distinguida com o selo Escola Amiga da Criança, na categoria Escola em Casa, uma das quatro distinções atribuídas ao Agrupamento de Escolas António Feijó. 

São quase 40 sugestões de atividades que em muito poderão contribuir para fazer valer 2020, sobretudo agora que um novo estado de emergência foi decretado, e que é em Casa que somos convidados a permanecer.

Algumas das obras que integraram a rubrica

Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos
 nasceu durante o período de confinamento, no âmbito do E@D, e teve  como principais objetivos colmatar a falta dos livros físicos, uma das principais valências das bibliotecas escolares, e disponibilizar propostas de trabalho a pais e professores, passíveis de integrar quer os planos de aula, quer o tempo em família, tendo como base o livro. 

Guardas iniciais de Cem sementes que voaram, obra que integra as sugestões Dá guardas à Terra


A rubrica, composta por uma (ou mais) sugestões de leitura, em cada entrada, e por propostas concretas de atividades a partir dos livros sugeridos, contou com 15 publicações (entradas) entre os meses de março e maio 2020, que integraram um total de 29 obras literárias e 38 sugestões de atividades. 

Três dos títulos que integraram a viagem pelas Representações da Mãe na Literatura para a Infância, no Especial Dia da Mãe

As diferentes propostas de leitura / atividade foram cuidadosamente selecionadas, tendo em conta não apenas a nova realidade que se instalava (pandemia e confinamento), mas também as efemérides e comemorações que iam tendo lugar(dia do pai, dia do livro infantil, dia da Terra, 25 de abril, dia da Mãe...), no sentido de oferecer contexto e conferir significado à leitura. 

Pormenor do miolo de O Farol, a obra que deu corpo às Sugestões Leituras Luminosas

As obras apresentadas contemplaram autores e ilustradores nacionais e internacionais, clássicos e contemporâneos, géneros e discursos variados, e também novidades de 2020. As sugestões de atividades, embora mais direcionadas para a Educação Pré Escolar e 1º Ciclo de Ensino Básico, eram adaptáveis a qualquer nível de ensino.

Fica o convite para revisitar a rubrica FIQUE EM CASA, onde se encontram as quase 40 sugestões de atividades (interessantes e divertidas) em torno da boa literatura:

- Dicionário das palavras protetoras 

- Andorinhas Mensageiras de Esperança 

- Três Cuquedos para espantar medos 

- Leituras Luminosas 

- Dá guardas à Terra 

- Tranças, Rugas e muitas voltas 

- E se fosses um livro?

- As Casas que moram em nós

- Os Relógios da Família

- Coisas boas para fazer devagar

- Pias de Poesia? Sim! E muito humor!

- Um Tropel de Plavras Poderosas ou um outro modo de Olhar

- Especial Dia do Pai: Um Postal, Uma entrevista e Uma Canção

Especial dia da mãe

- Especial Dia Internacional do Livro Infantil 



sábado, 7 de novembro de 2020

Bruxa que é bruxa faz bruxedos! Será?

Quer celebremos, ou não, o Halloween, a figura da bruxa acaba sempre por se fazer notar nas celebrações do meio do outono. Não podíamos, pois, perder esta oportunidade oferecida pelo contexto, para sugerir uma viagem pelo universo das bruxas, personagens incontornáveis na literatura para a infância (e não só!).
 

Seleção literária "histórias com bruxas dentro"


Quase sempre a representar o vilão, a bruxa desempenha um importante papel nas narrativas que integra. Se é verdade que nem sempre simpatizamos com elas, também é certo que sem os seus feitiços a história não teria o mesmo efeito. 


Três contos populares, "A Bela Adormecida", "Rapunzel" e "Hansel e Gretel", maravilhosamente ilustrados, onde a bruxa desempenha o papel de vilã.


Muito presente no conto popular (quem não se recorda da "velhinha" que mora na Casinha de Chocolate? Ou da bruxa que aprisionou Rapunzel? Ou daquela que garantiu que Bela Adormecida se picasse no fuso? Ou ainda da malvada madrasta de Branca de Neve?), a bruxa continua a marcar presença na atual produção literária para a infância, ora em novas edições do conto popular, ora em registos onde vai deixando cair a sua capa de vilã. 

Pormenores do início da narrativa de Hansel e Gretel

Os dez títulos que selecionamos integram bruxas para todos os gostos. Revisitamos Hansel e Gretel, dos irmãos Grimm, numa bonita edição com ilustrações de Elizabeth Zwerger, uma obra sem condescendências, com total respeito pelo texto dos Irmãos Grimm (imagem acima). 

De Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo, trazemos Os dois Irmãos e a Bruxa, um conto popular português onde ecoa a saga dos irmãos da Casinha de Chocolate (imagem abaixo), mas com "toques" bem portugueses, como este arranque da narrativa:

"Era uma vez uma mulher que tinha um filho e uma filha. Um dia, mandou o filho buscar cinco réis de tremoços, e depois disse aos dois:
- Vou para a floresta apanhar lenha. Se eu não voltar, sigam as cascas de tremoços que vou deitando pelo caminho até me encontrar."

Este belíssimo trabalho de Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo apresenta-nos um conto popular português com fortes ecos de Hansel e Gretel (ou a Casinha de Chocolate).

Fomos em busca da princesa que dormiu o mais longo sono da história dos contos, e descobrimo-la num belíssimo álbum pop-up: A Bela Adormecida. Um interessante trabalho, onde texto verbal e imagem tridimensional dialogam em perfeito equilíbrio, mantendo bem visíveis as dicotomias do conto: a fada e a bruxa, a bondade e a maldade, a alegria e a tristeza..., culminando numa clara vitória do bem sobre o mal com o incontornável "viveram felizes para sempre".

Pormenores da ilustração tridimensional do livro pop-up A Bela Adormecida

A cuidar dos seus rapúncios, fomos encontrar a bruxa que aprisionou Rapunzel, numa original edição da Oqo, da autoria de Iratxe López de Munáin, responsável pelo texto (que recupera dos Irmãos Grimm) e pelas ilustrações. Nesta obra destacamos a originalidade das ilustrações, que conferem um clima muito peculiar à narrativa, condizente com o estado de espírito que vai marcando o percurso das personagens, e, simultaneamente,  complementar em termos de informação enciclopédica: repare-se, por exemplo, nas guardas preenchidas com a flor que acaba por ditar o destino de Rapunzel: os rapúncios (imagem abaixo).

Pormenores da obra Rapunzel: dupla página do miolo, capa e guardas iniciais preenchidas com rapúncios.

Surpreendente e inusitada é a obra que nos chega da editora The Poets and Dragons Society,  Bruxa, Bruxa, vem à minha festa, de Arden Druce e Pat Ludlow, um álbum de dimensões generosas e recheio "assustador", onde cabe ao leitor decidir se a bruxa é, ou não, vilã. Este álbum convoca um conjunto de personagens que habitam o imaginário do pequeno leitor, como o gato, o dragão, o unicórnio, o duende, o pirata, o lobo, ou o capuchinho vermelho, que vão sendo convidados para a festa do narrador, por encadeamento, 

"Bruxa, Bruxa, por favor, vem à minha festa.
Obrigada. Irei sim, se convidares o gato."

"Gato, gato, por favor, vem à minha festa.
Obrigado. Irei sim, se convidares o ..."

culminando num inesperado final...

Pormenor da dupla página inicial e da capa de Bruxa, Bruxa, vem à minha festa.

A nossa viagem pelo universo das bruxas literárias levou-nos, inevitavelmente, a paragens onde esta personagem parece ter-se cansado da fama de vilã. É o que acontece, por exemplo,  em "As duas bruxas gémeas", um texto de Luísa Ducla Soares, com ilustrações de Célia Fernandes, que integra a obra Histórias com Números. Trata-se de uma narrativa bem disposta, onde assistimos ao célebre "virar do feitiço contra o feiticeiro". Começa com o anúncio do nascimento das duas bruxas:

"Querido marido, Feiticeiro do Diabo,

Tivemos hoje duas filhas. Uma é linda, cheia de sardas, com o nariz torto como um papagaio, cabelo espetado e duas verrugas enormes na cara. Vais ter orgulho nela. Vou chamar-lhe Lua Nova, por ser tão escurinha.
Mas a outra... parece defeituosa. Saiu loura, com dois grandes olhos azuis, e não tem sequer um sinal na pele. Que desgraça! Vou chamar-lhe Raio de Sol, porque é mesmo um raio de uma bruxa!
Quando puderes vem cá vê-las, e aproveita para trazeres um caldeirão novo, porque o nosso já está esburacado.
Que todas as maldições te acompanhem!
Bruxa Repuxa

Não estranhem o tom da carta, porque as bruxas não costumam ser muito simpáticas." (acrescenta a autora em jeito de lembrete).

Pormenor do miolo de "As duas Bruxas Gémeas" de Luísa Ducla Soares e Célia Fernandes, e capa da obra que integra o conto.

Já Henriqueta, a bruxinha que protagoniza Henriqueta e o bruxedo da lua, de Lurdes Breda e Manuela Rocha, tem como passatempo favorito fazer bruxarias (que é afinal o trabalho das bruxas), atormentando a vida dos que se cruzam com ela. E tudo corre bem para Henriqueta até ao dia em que decide fazer um bruxedo à Lua, e se vê, literalmente, a andar para trás. 
Trata-se de uma história ternurenta, à qual não faltam os ingredientes típicos de uma história com bruxas (aranhas, morcegos, corujas, caldeirões, poções...), com a particularidade de apresentar os cenários a preto e branco, convidando à cumplicidade do leitor para dar o tom e o toque final à narrativa. 

Capa e pormenor do miolo de Henriqueta e o bruxedo da lua: destaque para a possibilidade de o leitor colaborar na construção dos cenários.

E como bruxa que se preze tem um gato preto, não podíamos deixar de convidar Leonardo, o gato preto que vivia nas ruas e que ansiava encontrar uma bruxa que cuidasse de si. Mora na obra Desculpa... Por acaso és uma bruxa? de Emily Horn e Pawel Pawlak, e conquista qualquer leitor.
Leonardo costuma refugiar-se na biblioteca, pois é um lugar quentinho, e, um dia, ao folhear a enciclopédia das bruxas, descobre que todas as bruxas têm um gato preto, uma vassoura, um caldeirão e usam chapéus pontiagudos e meias às riscas. 
Decidido na sua missão de ser "adotado" por uma bruxa, enceta uma divertida viagem pelas ruas da cidade à procura de uma... será que a vai encontrar? Onde? A imagem abaixo dá-nos uma pista... 

Capa e pormenor do miolo de Desculpa... Por acaso és uma bruxa?

E quem disse que as bruxas não podem ser divertidas? António Mota, no seu célebre poema "Numa casa muito estranha", diz-nos que sim! Este texto, inicialmente publicado em Se tu visses o que eu vi, e recentemente incluído na coletânea Casa de Palavras, uma edição comemorativa dos 40 anos de vida literária do autor, com ilustrações de João Vaz de Carvalho e música de Daniel Completo, é garantia de sucesso e gargalhada junto dos mais novos. (Recordamos, a propósito, uma das vistas que o autor fez em março 2020 à EB da Feitosa):


Tendo como ingrediente principal o humor, e como condimento os jogos de palavras, onde o ritmo e a musicalidade marcam forte presença, este texto apresenta-se ainda como pretexto para refletir e desconstruir alguns dos principais estereótipos veiculados pelo conto popular.

Capa e dupla página correspondente ao texto "Numa casa muito estranha"

 
A encerrar a nossa seleção de livros com bruxas dentro, propomos a leitura de A casa com patas de galinha, um livro de Sophie Anderson, que recupera e reatualiza a figura de Baba Yaga. São 282 páginas de convívio com personagens que oscilam entre o mundo dos vivos e o dos mortos, de reflexão sobre o lugar e a missão de cada um, num registo bastante emotivo: para degustar em família.

"O meu destino não está traçado, e é assim que gosto dele. As possibilidades são tão infindáveis quanto as estrelas. Enchem o mundo dos vivos e o mundo Yaga e até cintilam nas festas para os mortos." (Sophie Anderson)

Capa e contra capa de A Casa com Patas de Galinha.


Desejamos que a magia da leitura conquiste todas as famílias. 
Deixemo-nos, pois, enfeitiçar!