Hoje comemoramos mais um dia Internacional do Livro Infantil, uma efeméride que é uma homenagem àquele que é considerado o pai da Literatura Infantil, Hans Christian Andersen, nascido a 2 de abril de 1805, na cidade de Odense, na Dinamarca.
Girando os assuntos que nos ocupam neste espaço em torno da Leitura, da Literatura e da Educação Literária na Família, hoje, neste especial #Fique em Casa, vou falar-vos das escolhas dos meus filhos (que têm hoje 20 e 15 anos).
A escolha do mais velho e um "caracol literário" |
Questionados sobre que leitura(s) recordavam, de modo particular, da sua infância, obtive respostas curiosas. Enquanto o mais velho, sem grande hesitação, respondeu: Contos da Mata dos Medos de Álvaro Magalhães e Cristina Valadas, o mais novo recordou-se de O Gato Comilão, um conto popular dinamarquês, recontado por Patacrúa e Oliveiro Dumas.
A escolha do mais novo, aprovada pela Luísa. |
Contos da mata dos medos foi (é) uma obra marcante na família. O primeiro volume desta tetralogia foi publicado em 2003. Terá sido aí por 2005 que chegou cá a casa, tendo-se tornado companheiro de leitura diária em família. As personagens que se reuniam na "clareira do pinheiro grande", o Chapim, a Toupeira, o Coelho, o Caracol, e a "Pequenita" (a lagarta peluda) passaram, de certo modo, a fazer parte da família, até aos dias de hoje. Não raro, alguém anda a "ouriçar" (como o ouriço), a descobrir coisas "muito úteis" (como a toupeira), "atarefado e apressado" (como o chapim), com medo de algo (como o coelho), ou em modo caracol, que está sempre a partir para ver o mar.
Os Contos da Mata dos Medos já deram tema a várias festas de família. Na imagem, um caracol literário encontrado numa "Caça aos Caracóis" |
Ao primeiro volume seguiram-se mais três: A
Criatura Medonha – Novos Contos da Mata dos Medos (2007); Um Problema Muito Enorme – Novíssimos Contos
da Mata dos Medos (2008); e O Lugar
Desconhecido – Últimos Contos da Mata dos Medos (2010). Ao longo de cerca de meia década, estas obras foram responsáveis por momentos de verdadeiro prazer, cá em casa.
A par dos aspetos que singularizam a obra de Álvaro Magalhães, que consegue abordar questões tão profundas como o amor e a morte, com uma generosa dose de humor, esta tetralogia levanta questões de ordem ecológica que passam não apenas pelas ameaças do
homem, como o fogo, a caça, ou a poluição, mas também pelos próprios fenómenos
naturais, como as inundações ou as tempestades.
Ilustração inicial: os habitantes da clareira do pinheiro grande. |
É muito fácil, de facto, criar o gosto pela leitura junto de crianças de tenra idade. Se aos bons livros (e hoje há livros muito bons!) juntarmos um pouco de tempo e entrega (total), diariamente, os momentos de leitura entre pais e filhos convertem-se, efetivamente, em memórias positivas duradouras.
Apesar de o meu filho mais velho ter aprendido a ler durante o período em que esta coleção passou por nós, estas obras foram, sempre, lidas em voz alta, por mim ou pelo pai. Era um momento aguardado por todos.
A sugestividade dos capítulos do primeiro volume ou a força das palavras de Álvaro Magalhães |
Gostava, pois, de deixar um apelo aos pais que têm agora crianças pequenas: Não deixem de ler aos vossos filhos, pelo facto de eles já terem aprendido a ler. Na verdade, na maioria das vezes, apenas aprenderam a decifrar, e continuam a precisar de quem os guie e acompanhe na descoberta do prazer de ler.
Pormenor do miolo: o ouriço, a toupeira e o caracol. |
Esta coleção foi, entretanto, "compilada" num único volume que tem por título A Mata dos Medos (2015), uma obra com ilustrações de Sebastião Peixoto, da qual podemos ler alguma páginas AQUI.
Capa da obra que reúne todos os Contos da Mata dos Medos |
Sobre a escolha do mais novo...
Dupla página inicial de O Gato Comilão |
A escolha do mais novo, O Gato Comilão, encontra-se, sem dúvida, associada ao lado lúdico e à vertente jogo que as narrativas de estrutura acumulativa proporcionam. Trata-se de uma divertida história de um gato que come tudo o que lhe aparece: a velha com quem vive, a panela das papas, e todos aqueles que lhe perguntam: "- Ó gato, porque estás tão gordo?", e a quem vai respondendo "- Porque comi...".
Dupla página do miolo: o gato comilão já comeu as papas, a panela, a velha, o anão, o homem do burro, os cinco pássaros, e prepara-se para comer mais alguém... |
É claro que alguém terá de pôr termo à gula do gato...
Dupla página do miolo: "o lenhador empunhou o machado que levava às costas e..." |
O final inesperado desta narrativa, que coincide com o regresso do gato no momento em que a velha se prepara para comer (finalmente) as papas, ao mesmo tempo que acentua o lado nonsensical que permeia a obra, reforça a sua componente lúdica com um convite para "voltar a jogar". É que... um gato tem sete vidas!
Momento lúdico em torno de O Gato Comilão: o livro transformou-se num jogo (criado pela educadora de infância) e circulou pelas casas das crianças (2006/2007). |
(Podem ver AQUI uma recriação que os Triquiteiros de S. João fizeram desta obra)
Que a passagem deste Dia Internacional do Livro Infantil, que este ano se comemora em condições excecionais, em casa, constitua uma oportunidade de reflexão sobre a importância de tornarmos os livros uma presença assídua nos nossos lares, e de fazermos da Leitura um verdadeiro Valor de Família.
Como referiu Pedro Cerrillo (2014), “A literatura, na qualidade de
depositária de conhecimentos que deveriam ser obrigatórios numa sociedade de
pessoas livres, críticas e interventivas, não pode ser considerada um luxo
cultural dispensável”.*
Memórias felizes da família |
Hoje é dia de criarmos memórias felizes em torno dos livros e da leitura!
#Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos.
*Cerrillo,
P. (2014). “El Poder de la Literatura”. Lección Magistral impartida por
Pedro C. Cerrillo en el acto de inauguración del curso académico de la
Universidad Española, presidido por SS.MM. los Reys de España. Toledo:
Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha.
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