segunda-feira, 31 de maio de 2021

Outra mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade

Apresentamos no passado dia internacional do livro infantil, um conjunto de livros que comprovavam o maior dos benefícios da leitura: ler contribui para a nossa felicidade (imediata)!

Ora, não fomos capazes de conter esta seleção na primeira mão cheia. Os livros que nos fazem felizes são tantos, que não resistimos a partilhar outros tantos.

(podem conhecer a primeira parte desta seleção AQUI)


Esta reflexão surge, como referimos quando apresentamos a primeira mão cheia de livros para uma Pedagoga da Felicidade, porque nos temos vindo a aperceber que os "conhecidos benefícios da leitura" não parecem ser convincentes o suficiente (como atesta o último estudo sobre os hábitos de leitura dos jovens estudantes).

E porque acreditamos que quantos mais adultos experimentarem e conhecerem o mais imediato efeito benéfico da leitura, maior presença os livros marcarão na vida das nossas famílias (pois ainda não encontramos quem não queira ser feliz). 

O segredo é conhecer, pois a estes livros ninguém fica indiferente, e a hora de partilhar uma leitura em família passará, então, a ser muito desejada, quer por grandes, quer por pequenos.

Pormenor do miolo de A maior Casa do Mundo, de Leo Lionni

Abrimos com A maior Casa do Mundo, um trabalho de Leo Lionni (2008), que integra uma história contada de pai para filho, dando-nos a conhecer a importância de compreendermos e aceitarmos as "leis" da mãe natureza. Confrontado com o desejo de o filho querer ter "a maior casa do mundo", o pai caracol conta uma história com o mesmo nome, onde a ambição desmedida e a ostentação acabam por custar a vida ao pequeno caracol. Confrontado com esta "lição", o caracol desta história parece compreender o quanto é afortunado por possuir uma casa tão pequena, e parte, então, para ver o mundo, descobrindo uma infinidade de maravilhas, como podemos ler no excerto da imagem acima.

Indutora de reflexões de ordem diversa, com lugar a diferentes pontos de vista,  esta é mais uma obra que não se esgota numa leitura, e que promete interessantes conversas. 
(Esta obra já deu origem a um interessante jogo da memória, construído por uma das nossas famílias ELF: AQUI).

Pormenor do miolo de Os Figos são para quem passa, de João Abreu e Bernardo Carvalho

Os figos são para quem passa, de João Abreu e Bernardo Carvalho (2016) é um livro percorrido por um conjunto de personagens animais que parece ter por missão ensinar ao Homem como viver em harmonia com a Natureza e com o Outro, respeitando, ainda, os ritmos de aprendizagem de cada um.

Na senda da história do caracolinho de Leo Lionni, o desprendimento afigura-se-nos, nesta obra, como um importante ingrediente para uma vida feliz. 
Estabelecendo uma espécie de analogia com o princípio dos tempos, “No princípio, o mundo era só um. Tudo era de todos, ninguém pertencia a nada, nada pertencia a ninguém” (Abreu e Carvalho), a narrativa vai deixando pistas ao leitor sobre o papel providencial da natureza: (excerto na imagem acima).

“Afinal, era exatamente por isso que os frutos não amadureciam todos ao mesmo tempo. As árvores, sábias e generosas, tinham sempre frutos maduros para quem passava. E quando não os tinham maduros, tinham-nos verdes, para quem passasse nos dias seguintes”. (Abreu e Carvalho)

O desequilíbrio desse “princípio” muda, porém, no dia em que o urso passa debaixo de uma figueira e decide esperar que um figo fique maduro, contrariando, desse modo, a regra do “princípio”. Os sacrifícios (e dissabores) que o urso passa para proteger um único figo (que afinal já era habitado por uma lagarta) provocam o questionamento do leitor, que se divide entre a defesa ou a condenação do urso. A solução é apresentada pela lagarta, o mais pequeno ser que percorre a obra, e que, numa atitude de altruísmo, de respeito para com o processo de crescimento do urso, e talvez também de homenagem à sua paciência, divide com ele o “seu” figo. 
Ao jeito dos contos do “princípio dos tempos”, esta narrativa também encerra com uma “lição”:

 “«Agora já percebi» disse o urso. «Há figos que são para quem passa...» «E há figos que são para quem espera» acrescentou a lagarta. «Pois é», disse o urso. «E esses são os melhores que há»” (Abreu e Carvalho).

Índice e pormenor do miolo de O Senhor Pina, de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha

Pela pena de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha (2013), numa originalíssima homenagem a Manuel António Pina, trazemos O Senhor Pina. Como podemos ver através do índice (imagem acima), esta obra, recheada de um humor subtil, característico da escrita de Álvaro Magalhães, é um hino à alegria de viver e à imaginação.

E quem nos traz um especial ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade é o Ursinho Puff, amigo "inseparável" do Senhor Pina, que aguça o nosso olhar sobre a beleza de alguns momentos especiais (ainda que curtos) como por exemplo "o momento antes":

"Mas então?...
Então estava a saborear o momento antes. É quando ficamos contentes e nos apercebemos disso. Mas agora que me interrompeste, tenho de começar outra vez." (Magalhães e Darocha)
(excerto completo na imagem abaixo).

Excerto do capítulo Um Urso com poucos miolos, in O Senhor Pina, de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha

Com fortes ecos de O Principezinho, este episódio irá, sem dúvida, despertar memórias e trazer para o presente muitos "momentos antes", que é como quem diz, muitos momentos felizes!

(Esta obra integrou a primeira edição do programa ELF. E uma das atividades mais apreciadas pelas famílias participantes foi a elaboração de um texto recorrendo apenas aos títulos do índice: fica a sugestão!)

Pormenor do miolo de Depois da Chuva, de Miguel Cerro

Prémio Internacional Compostela 2015, Depois da Chuva, de Miguel Cerro, é um álbum de uma beleza extraordinária! Com ecos de "fábula clássica", esta obra encerra uma poderosa mensagem de resiliência.
Depois de uma grande inundação, os animais são obrigados a refugiar-se numa gruta, no alto de uma colina. Cada um tem a sua tarefa... à exceção da raposa, a quem não é confiado nenhum trabalho. Aparentemente, todas as necessidades estão asseguradas... 

No entanto, a raposinha não desiste de dar o seu contributo para a vida naquela gruta, aonde não chegava a luz...

Pormenor do miolo de Depois da Chuva, de Miguel Cerro

Decidida a iluminar a gruta (e os seus moradores), a Raposinha, depois de derrotada na tentativa de agarrar as estrelas e a lua, descobre um grupo de pirilampos perdidos que mal conseguiam voar... e não hesita em salvá-los  (excerto da imagem acima). E, a partir dessa noite, nunca mais faltou a luz naquela gruta." (Cerro)
Uma obra que dará, certamente, muito que falar! 

E quanto à luz na gruta? Parece-nos ser como a leitura: ninguém tinha sentido falta dela até a experimentar, mas depois... nunca mais puderam viver sem ela.

Pormenores do miolo de O que vamos construir, de Oliver Jeffers

"Temos muito que fazer", diz Oliver Jeffers à sua filha Mari, na dedicatória de O que vamos Construir, Planos para um futuro comum. Este recente trabalho (2020), que o autor refere ter por objetivo "nivelar o terreno" (ao nível das desigualdades) segue a linha do trabalho anterior, que o autor dedicava ao filho, Aqui estamos nós, afigurando-se como uma espécie de manual para a vida. 
À luz de uma aparente simplicidade, nesta obra, Oliver Jeffers não se escusa a apresentar as grandes questões, ou as grandes dualidades da vida, assim como o que é verdadeiramente importante para o ser humano na sua essência, e nos seus direitos mais básicos: uma família, uma casa, e, sobretudo a sua grande necessidade de amar e de ser amado.

Página final de O que vamos construir, de Oliver Jeffers

Um livro ternurento, com vários níveis de leitura, ao qual adultos e crianças desejarão regressar (muitas vezes), como quem regressa a Casa.

A todos desejamos felizes leituras!
                                                          [LMB]