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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Literatura infantil para adultos: Experiência ELF em ambiente empresarial

O trabalho de quase duas décadas em torno da promoção da leitura em ambiente familiar confirma-o: a Literatura Infantil (também) é para adultos.

A transformação pessoal e familiar permeada por estes livros que, edição após edição, vemos acontecer nos diferentes projetos de leitura em ambiente familiar, de que é exemplo o programa ELF, especialmente vocacionado para a Educação Literária na Família, levou-nos a ousar uma nova experiência: levar o programa ELF para o ambiente empresarial, o local de trabalho das famílias. 

Aconteceu nos últimos meses de 2024, numa parceria entre a ESE-IPVC e a PAINHAS S.A., envolvendo um grupo de seis participantes, pais de crianças entre os seis meses e os nove anos de idade, orientado por dois docentes, e com a colaboração de duas alunas finalistas do curso de licenciatura em Educação Básica.

O programa ELF adaptou-se ao contexto empresarial, em termos de horário e número de livros a abordar, mantendo, contudo, a sua génese e características: um grupo de pais, um conjunto de livros representativo das principais tendências da atual publicação literária para a infância, um conjunto de seis sessões, de periodicidade semanal, integrando componente formativa, experiencial e de partilha; e uma tertúlia final aberta ao público (neste caso, aos colaboradores da empresa).

O corpus: a literatura infantil que também conversa com os adultos

Atendendo ao facto de dispormos de menos tempo para cada sessão, reduzimos o número de livros a abordar em cada semana. Ao nível dos temas, a nossa escolha recaiu sobre as representações da literatura da tradição popular, representações da família e representações do ambiente. Privilegiamos livros indutores de questionamento, diferentes intencionalidades discursivas e diferentes materialidades, não esquecendo a representatividade autoral e editorial. 

Assim, depois de uma espécie de sessão zero, em que trabalhamos a importância da criação de ambientes de leitura, auxiliados pelo Vendedor de Felicidade, de David Cali e Marco Somà, seguimos para o lugar da tradição e a recuperação da infância, com Espreita pela Janela, de Katerina Gorelik, e Destrava-lengas, de Luísa Ducla Soares e Helder Peleja; Aqui estamos nós, de Oliver Jeffers, e a Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, deram corpo a uma interessante sessão sobre a família nos livros e os livros na família; Herberto, de Lara Hawthorne, Era uma vez e muitas outras serão, de Johanna Sehaible, e Uma quinta, de Alex Noguès e Alba Azaola, foram o mote para aguçar o olhar sobre o Outro e sobre o mundo. Natal com a tia Josefina, de Michael Engler e Martina Matos, foi a leitura de despedida, na tertúlia de encerramento.
Já falamos de todas estas obras por aqui. A maior parte destes títulos integrou a última edição ELF, em ambiente escolar.


Os resultados

Os aspetos mais valorizados pelos participantes foram o conhecimento de livros, o conhecimento e experimentação de estratégias (simples) de abordagem aos livrso, como a análise de peritextos e a apreciação da ilustração, e a partilha de experiências entre particpantes e dinamizadores.

"A nossa relação com os livros mudou para sempre. Não há como voltar atrás"
Estas famílias destacaram o impacto do projeto a nível familiar, referindo, entre outros aspetos, o aumento do tempo de qualidade, das conversas e dos assuntos para conversar em família, a diminuição do tempo de ecrãs recreativos dos vários elementos da família, e uma nova forma de ler "sem a pressão das perguntas". 
Ao nível empresarial referiram uma maior proximidade e empatia entre colegas, o aumento da curiosidade em torno dos livros e da leitura, e até a descoberta de novas facetas nos colegas, aspetos que convergem para um maior bem-estar geral no trabalho.

Work in Progress

Temos muito em que pensar. Não podemos parar!
Esta experiência piloto foi a alavanca, o ponto de partida para um trabalho que pretendemos alargar e fortalecer. Partilhamos alguns recortes desta iniciativa na Semana da Leitura 2025 da ESE-IPVC e nas V Jornadas Internacionais em Educação Literária (IE-UM). 

Queremos espalhar a mensagem e engrossar esta corrente do bem. 
Criar uma bolsa de voluntários para disseminar o projeto é uma das nossas próximas ações. Se também acreditam na bondade dos livros e no poder transformador da leitura literária, entrem em contacto connosco.
Até já!

terça-feira, 6 de junho de 2023

Correntes do Bem

Acreditamos na bondade dos livros!

Esta expressão, que tantas vezes utilizamos, encontra especial significado quando gestos solidários concretos, que decorrem dos livros e da leitura, têm lugar, e quando, pela mesma via, vemos vidas transformadas. 

Bonecas Solidárias em exposição na Biblioteca Escolar António Feijó acompanhadas das "mentoras" das Corrente do Bem

A Susana Corvas e a Sofia Magalhães, duas mães que passaram pelo programa ELF há uns anos, e que estiveram presentes na tertúlia de encerramento da última edição ELF para apresentarem o seu testemunho, são dois dos exemplos de vidas transformadas pela experiência ELF (ou pela "bondade dos livros").

Momentos da Tertúlia de encerramento do Programa ELF na EB da Feitosa: A Sofia e a Susana apresentam os seus testemunhos.

A Sofia, uma das participantes na edição inaugural do Programa (2015/2016) partilhou com as novas famílias ELF as transformações que a experiência lhe trouxe, a nível pessoal e a nível profissional, tendo até intitulado o seu testemunho de "ELF: A Transformação", documento que gentilmente nos cedeu, pois segundo a própria Sofia "quem sabe, poderá inspirar outras famílias".

Aqui fica, portanto, o registo:


A Susana Corvas terá levado a primeira "picada" aquando da participação no projeto Lê para mim, que depois eu conto..., e uma dose de reforço no Programa ELF em Trovela (2018/2019). Pelo meio, tornou-se Voluntária da Leitura,  criou o blogue Leitores do Futurofez uma Pós-Graduação em Educação Literária e Literatura para a Infância, deixou o emprego que tinha e tornou-se (como ela própria diz) uma Brincadora!

No dia do Contador de Histórias (que também é o dia da Felicidade), a Susana deixou um inspirador testemunho na sua página de FB: AQUI

Momento da Tertúlia de encerramento: Susana Corvas estreia o tapete narrativo "Tio Lobo"

Os livros e o amor à leitura fazem sair das mãos (e do coração) da Susana coisas maravilhosas: fantoches, tapetes narrativos, histórias do Kamishibai... que dão corpo a oficinas, sessões de formação, animações à leitura, festas com livros, e até... a Feiras solidárias.

Retalhos das Vidas que o Programa ELF transformou 

Com base em leituras diversas, as formandas da Susana construíram umas interessantes bonecas (que podem ser vistas AQUI), que gentilmente doaram ao projeto Amigos Prováveis, dinamizado pela Sofia, uma iniciativa solidária de apoio aos idosos, que integraram a Feira Solidária. E assim se formam Correntes do Bem.

(Na última tertúlia ELF - Rebordões Souto, 2020 - dávamos conta de outras vidas transformadas. Vale a pena recordar esse momento: AQUI.)

Momentos da Tertúlia de encerramento do Programa ELF na Feitosa:
Mostra Literária e trabalhos apresentados pelas novas famílias ELF.

A Tertúlia de encerramento do programa na EB da Feitosa contou também, naturalmente, com o testemunho das novas famílias ELF, que falaram sobre os livros que mais tocaram cada elemento da família, dos temas (sobretudo dos temas difíceis, mas "bonitos"), de quanto os livros ajudavam a falar sobre qualquer assunto, a resgatar memórias de infância (e de família), a brincar e a querer saber mais. Bem oportuna se revelou, pois, a pequena mostra literária que permitiu aos presentes um contacto próximo com boa literatura e a possibilidade de levarem para suas casas novos amigos literários.

Momento de partilha numa das sessões do Programa ELF 2023

Nas nossas páginas de FB e de Instagram fomos dando conta do desenrolar do programa.


domingo, 5 de março de 2023

Os livros da nova temporada ELF

A edição inaugural da nova temporada ELF, que marca o regresso do programa ao terreno, caminha já para a reta final.

(Temos dado conta do desenrolar das sessões nas nossas páginas de facebook e instagram).

Para este regresso, selecionamos novas obras: dez livros organizados em três conjuntos distintos.

As obras da nova temporada ELF

Na base desta seleção estiveram critérios como a data de edição (privilegiamos publicações recentes), a representatividade de autores, ilustradores, editoras e discursos, e os temas, de modo a oferecermos um repertório o mais vasto possível.

Neste conjunto de livros encontramos autores nacionais e internacionais, livros de autoria única e de autoria partilhada, textos narrativos e textos poéticos (e ainda outros discursos), livros-objeto, textos do património popular, livros onde a família é protagonista, em diferentes representações, livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores) e livros dos quais espreitam questões de índole ambiental (ou o nosso lugar na casa comum que é o planeta).

O 1º kit

Começamos com três obras representativas do património popular:

Destrava-Lengas: Trava-Línguas e Lengalengas, de Luísa Ducla Soares e Helder Peleja, um trabalho de 2022, editado pela Livros Horizonte, que reúne alguns textos inéditos e outros selecionados, pela autora, brilhantemente iluminados pelas ilustrações de Peleja, que acrescenta a estas pérolas populares notas de humor e sentidos menos evidentes. Um livro para recordar que o nosso primeiro contacto com a poesia tem lugar logo nos primeiros dias de vida. Quem nunca cantarolou, por exemplo, "A galinha põe o ovo e o Joãozinho papa-o todo?", para uma criança ainda de poucos meses?

O Coelhinho Branco, de Xosé Ballesteros e Óscar Villan, uma adaptação do conto popular português com o mesmo nome, editada pela Kalandraka (última edição de 2014). Uma narrativa com uma estrutura próxima da cumulativa, que permite um interessante jogo de papéis, que potenciamos através de um mini teatro de fantoches, uma sugestão que acompanhou o livro. Este texto prima também pelo humor, visível, por exemplo, nas variações que o autor introduziu nas referências à Cabra Cabrês. 

(Este foi o único livro que mantivemos das edições ELF anteriores. Um interessante testemunho pode ser encontrado no livro Crianças Leitoras, Famílias Felizes, "Batizando as cabras do avô".) 

Espreita pela Janela, de Katerina Gorelik, uma obra de 2021, editado em Portugal pela Poets and Dragons Society. Trata-se de um livro com janelas cortadas nas páginas do livro, permitindo um interessante jogo, pois raramente aquilo que parece é... Por exemplo, uma aparente simpática velhinha pode afinal ser uma bruxa terrível, ou um aparente lobo mau, pode afinal ser só um convidado para o chá em casa da avozinha... um livro para ativar o imaginário popular coletivo e, simultaneamente, refletir sobre o que muitas vezes julgamos com base em "recortes da realidade".

O 2º Kit

Para o 2º kit, escolhemos quatro obras onde a família é protagonista. Neste conjunto, entre a narrativa e a poesia, vamos encontrar histórias de avós e netos, de pais e filhos e também de primos. Vamos encontrar alguns temas difíceis à espreita e muitos motivos para conversar em família. A escolha de obras protagonizadas pela família prende-se com a proximidade do tema. Depois do património popular (o tema  mais familiar e, por isso, o primeiro), alargamos o leque: um tema próximo, com questões de complexidade crescente.

A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, uma obra da Bruáa, editada em 2019, que tem por base um conto judaico. Trata-se de uma ternurenta história que envolve um avô, um neto (e uma mãe "rabugenta", como se lhe referiram alguns participantes). Falamos desta obra AQUI a propósito da representação dos avós na literatura para a infância.

Aqui estamos nós, apontamentos para viver no Planeta Terra, um livro de Oliver Jeffers, editado pela Orfeu Negro (última edição 2021). Nesta obra, que o autor dedica ao filho, acabado de nascer, o narrador apresenta o Planeta Terra na sua diversidade e complexidade, como uma casa comum com lugar para todos e onde todos têm uma função "O tempo acaba antes que dês conta. Aproveita-o bem (...) Há muito para fazer" (Jeffers, 2021). Falamos da obra que se seguiu a esta - O que vamos construir, AQUI, integrada na rubrica Livros para uma pedagogia da felicidade.

O Mar Viu, de Tom Percival, um trabalho de 2022, editado pela Jacarandá. Um livro intenso, marcado por uma grande carga afetiva, protagonizado por pai e filha e um urso que havia pertencido à mãe, de permeio. Esta obra integra a secção "Uma rede de afetos", na 3ª parte de Crianças Leitoras, Famílias Felizes, compondo o leque de leituras selecionadas para uma Pedagogia da Felicidade.

Uma Quinta, de Alex Nogués e Alba Azaola, uma obra de 2022, editada pela Akiara. à semelhança de outros livros da editora (falamos de Coração de Pássaro AQUI), trata-se de um trabalho de rara beleza. Uma coletânea de poesia, cujos textos põem a descoberto memórias de infância dos narradores (textual e pictórico), memórias que têm por base os momentos vividos entre primos... numa quinta.

Outros livros sobre representações da família, de que já falamos aqui:

Especial Dia da Mãe

Especial Dia do Pai

Que avós povoam a atual literatura para a infância

Os avós das histórias e das memórias

Os relógios da família 

Literatura infantil e representações da família

3º Kit

O último kit compõe-se de livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores), e de um pop-up, que, além de ser um interessante trabalho de engenharia do papel, é também um alerta para a problemática ambiental que vivemos.

O Vendedor de Felicidade, de Davide Cali e Marlo Somà, editado pela Nuvem de Letras em 2021 é um livro desconcertante. Belíssimo, de grande formato, com ilustrações que convidam o leitor a perder-se, interroga-nos sobre o grande tema que a todos nos move: a felicidade. Falamos deste livro AQUI.

Era uma vez (e muitas outras serão) de Johanna Sehaible, editado pela Planeta Tangerina em 2021, é um trabalho surpreendente: uma viagem no espaço e no tempo, que se desenrola ao ritmo do tamanho das páginas (que ora diminuem, ora voltam a crescer). É outro excelente livro perguntador, que ajuda pequenos e grandes leitores a colocarem-se em perspetiva e a refletirem sobre o seu lugar e o seu legado. Também falamos deste livro AQUI.

Na floresta da preguiça, de Sophie Strady, Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, editado pela Bruáa (última edição 2022). Este é um livro pop-up que convida o leitor a colaborar na construção da narrativa: primeiro a descobrir a preguiça e toda a fauna e flora da floresta amazónica, e depois (da destruição da floresta) a  voltar a plantar, para que as preguiças e os restantes animais também voltem. Um livro muito bonito, que precisa, contudo, de uma cuidada mediação: refazer uma floresta não acontece com um simples virar de página!

Sessão 1: apresentação do 1º kit


O trabalho em torno destes livros tem-se revelado muito gratificante e revelador. Cada edição ELF é uma surpresa, uma descoberta, uma aprendizagem.

Voltaremos em breve para falar um pouco da receção destes textos em ambiente familiar.

Até já!

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Programa ELF de regresso ao TERRENO (e uma espécie de balanço deste "intervalo")

Depois de três anos de interrupção forçada, o Programa ELF (Educação Literária na Família) regressa ao terreno. Ao longo dos meses de fevereiro e março, distribuído por seis sessões presenciais, este projeto vai marcar presença na EB da Feitosa, no agrupamento de escolas António Feijó, junto de um grupo de pais de alunos do 1º e 2º anos de escolaridade.

Recordando a "caça aos ovos literários" (Páscoa 2022)

Corria o mês de março de 2020, dias antes do fecho das escolas, quando encerramos a última edição presencial do programa ELF, na EB de Rebordões Souto, o lugar onde foi lançada, no "longínquo" ano de 2007, a primeira pedra Ler+ em Família, neste agrupamento.

E, se é facto que a pandemia nos privou de levarmos o programa para o terreno, durante dois anos letivos, também é verdade que nos proporcionou a oportunidade de desenvolvermos novas iniciativas, e de chegar a muitos lares, a partir desta "casinha virtual".

E como janeiro é o nosso mês de aniversário, e, por isso, tempo de balanços, recordamos algumas das ações que marcaram este "intervalo".

A primeira seleção de "Livros para uma Pedagogia da felicidade"

Ao longo destes três anos apresentamos algumas centenas de sugestões de leitura, na sua maioria organizadas por temas, como por exemplo Leituras para uma Pedagogia da Felicidade.

Levamos a efeito projetos como #Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos e Calendário de leituras de Advento, duas ações que mereceram a distinção Escola Amiga da Criança e que, para além de nos darem a conhecer muitos livros, também apresentam um vasto conjunto de sugestões de atividades (são mais de 100, ao todo!).

Promovemos passatempos (aqui e nas nossas páginas de Facebook e Instagram), como os Livros da Lua, os Feriados em Família, Como tomar conta de um capuchinho vermelho, a Fábrica de Histórias, a Caça aos Ovos Literários...(e mais alguns).

Criamos uma nova valência: Livros e Literacia Familiar, uma ação on-line que nos permite chegar junto de um maior número de pais de crianças da Educação Pré-Escolar e de alunos do 1º ano (e dos seus educadores). Esta valência tem uma "salinha própria", onde disponibilizamos alguns dos materiais que usamos nas sessões.



Em outubro passado, integrada no Mês internacional das bibliotecas escolares, fizemos uma festa!! Comemoramos os 15 anos aLer+ em Família, que assinalamos com o lançamento de um livro: Crianças Leitoras Famílias Felizes. A este projeto também oferecemos um "gabinete próprio", onde se encontram informações adicionais sobre o livro (sinopse, índice, reações dos leitores) e alguns registos, como o vídeo da apresentação, uma entrevista para a rádio e uma reportagem no jornal. É só espreitar AQUI.

Viajamos pelo mundo e também pelas quatro estações (Primavera, Verão, Outono, Inverno), sempre acompanhados de sugestões de leitura. Assinalamos efemérides, incluindo os campeonatos de futebol, e celebramos os 100 anos de José Saramago!!

 


Foi, afinal, um "intervalo" bastante produtivo!!
E agora, estamos "em pulgas", pois esta nova temporada do programa ELF, com novos livros, novas experiências vividas, e, claro, novos pais: PROMETE!!
Iremos dando conta desta jornada nas nossas páginas de Facebook e Instagram ( que também nasceram neste "intervalo"). Acompanhem-nos por lá!

Boas leituras e até já!


quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Com o coração nos livros | de 2020 com amor

A encerrar um ano que ficará na memória de todos nós, sentimo-nos de alma cheia e de coração a transbordar. Apesar de 2020, e graças a 2020, a família ELF cresceu, novos livros conheceram novos leitores (e alguns conquistaram lugares especiais na vida de muitos de nós). 

Ao longo do ano, contamos com mais uma edição ELF, que nos fez regressar ao lugar onde tudo começou; criamos e dinamizamos as rubricas Fiquem em casa e (re)descubram o prazer e ler juntos e Calendário de Leituras de Advento, que possibilitaram experiências de proximidade e de novas abordagens aos livros; apresentamos mais de 130 sugestões de leitura, distribuídas por diferentes temas e rubricas, e mais de 100 propostas de atividades; estreitamos a comunicação com os nossos leitores no Facebook e no Instagram; continuamos a integrar as ações aLer+2027; fomos duplamente distinguidos com o selo Escola Amiga da Criança; e brindados com maravilhosas partilhas de experiências, que se traduziram em belíssimos trabalhos

Não é, portanto, de estranhar que estejamos de alma cheia e de coração a transbordar: OBRIGADA A TODOS! 

Em jeito de agradecimento, trazemos uma seleção de livros com coração dentro (pois ao coração todos falam). São quatro obras de 2020 que, em nosso entender, encerram uma poderosa e pertinente mensagem para uma era que se quer nova.

Estes quatro trabalhos, que se ligam pelo coração, abrigam quatro histórias de amor bem distintas entre si. A alma perdida, uma obra da polaca Olga Tokarczuk, prémio nobel da literatura, ilustrada pela inconfundível Joanna Concejo, dirige-se a pequenos e (sobretudo) a grandes leitores, e constitui uma poderosa reflexão sobre o ritmo frenético que atualmente levamos (e com o qual compactuamos), e as consequências de uma vida de superficialidade. 

Revemo-nos com facilidade em Jan, o protagonista, que depois de um episódio em que se esquece de quem é, recorre a uma sábia médica que lhe apresenta um curioso diagnóstico e um inesperado tratamento:

"- Se alguém pudesse olhar para nós lá do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que correm apressadas, transpiradas e muito cansadas, e que atrás delas correm apressadas as suas almas perdidas (...)"

"(...) O senhor tem de encontrar um lugar onde se sinta bem, sentar-se aí tranquilamente e aguardar pela sua alma. (...)"

Pormenores do miolo de A Alma Perdida

E foi o que Jan fez. Depois de encontrar uma casinha nos arredores da cidade, sentou-se à espera da sua alma. 
O reduzido texto verbal que integra a obra é compensado pelo espaço dado às ilustrações, responsáveis pelo caminho de leitura de cada um. 
Atendamos, por exemplo, em aspetos como a passagem do tempo (que nos é revelada pelo crescimento da barba e do cabelo de Jan), ou da transformação dos espaços, com a chegada da "alma" do protagonista, representada por uma criança. 
Esta história de amor, que termina como as dos contos de fadas, apresenta a Infância (o tempo da curiosidade e do deslumbramento) e a Natureza (com os seus ritmos e o seu tempo lento) como lugares de regresso à essência e de resgate do essencial:

"Desde então, viveram felizes para sempre e Jan passou a ter muito cuidado para não fazer nada demasiado depressa de modo que a sua alma conseguisse acompanhá-lo. (...)"

Pormenores do miolo de A Alma Perdida

A história de amor que se vive em Os sinais do Coração, um trabalho muito original, com texto do brasileiro Guilherme Semionato e ilustrações (bem nacionais) de Gabriela Sotto Mayor, é tão inesperada quanto insólita. Tal como a escolha anterior, é também um livro para ler muitas vezes, atendendo aos vários níveis de leitura que apresenta.
Detenhamo-nos, por exemplo, na observação das guardas (imagem abaixo). A transformação dos elementos que compõem a paisagem, embora nos forneça pistas valiosas, só no final da leitura revelará o(s) seu(s) sentido(s).

A história de amor que aqui se vive é protagonizada pelo Til e pela Cedilha que moram na palavra CORAÇÃO. E só acontece porque "(...) por vezes, mesmo as almas mais quietas querem estender a mão para alguém".

Guardas e pormenor do miolo de Os Sinais do Coração

E é então que o Cupido ataca. Depois de um divertido encontro, onde os dois se conhecem (excerto abaixo), esta história tem direito a tudo o que uma boa história de amor tem direito: o amor à primeira vista, o namoro, os cúmplices, "os do contra", a preparação da boda, a chegada dos convidados, o casamento e a festa, a lua de mel (e as suas peripécias), e a nova vida do casal, que passa a morar na palavra HABITAÇÃO.

"- Oi. Quem é você? - perguntou a Cedilha.
- Eu sou o Til.
- Tio? Tio de quem?
- Til, com l de lombriga.
- Ah! Então você não é tio de ninguém?
- Não. Sou filho único.
- Qual é o nome de sua mãe?
- Mãe. Todo Til nasce da palavra Mãe. Nós ficamos perto dela o máximo que dá, mas uma hora temos de viver em outras palavras.
- Aí, você veio parar aqui? (...)"

Este trabalho encerra a velha máxima sobre o poder que a literatura tem de tornar extraordinárias as coisas aparentemente "vulgares". É, com efeito, e tendo como cenário o dicionário, que os autores constroem um profícuo diálogo entre signos, significados e sentidos, capazes de abrir um amplo leque de leituras e interpretações (que podem ir, por exemplo, da simples história de amor às diferentes representações da família - até as mais controversas). 
O humor, que ora é conferido pelo texto, ora por apontamentos pictóricos,  associado à explosão sensorial que emana da ilustração, completam o cenário desta bonita história com coração dentro.

Pormenores do miolo de Os Sinais do Coração

A história de amor se se segue mora num delicado livrinho, onde as palavras se vestem de poesia e falam diretamente ao coração. Falamos de Coração de Pássaro, uma obra de Mar Benegas e Rachel Caiano, que conhecemos, quase por acaso, neste belo espaço limiano, onde os livros têm um lugar especial.
Nesta obra, o leitor entra logo em modo poético ao ler a apresentação das autoras (imagem abaixo), aspeto que apreciamos particularmente na Akiara.
Com a busca da poesia (e da beleza) como fio condutor, esta história de amor, protagonizada por Nana e Martim, é feita de sensibilidade e delicadeza, e traduzida para uma linguagem de que só os poetas são capazes.

"Porque os olhos de Nana eram um vulcão de areia lunar. Observavam um melro e transformavam-no num bosque.(...)"

"E Nana tinha um amigo. Era o seu vizinho, filho do padeiro. 
Ali permaneceram muito tempo juntos, escutando aquele diálogo interminável. E o Martim mostrou um bolo, quase acabado de fazer, e partilharam-no. E deram um beijo.
- Ah. Então eu também gosto de poesia - concluiu ele.
E o Martim pensou que a poesia eram pedras e búzios. (...)"

Pormenores da capa e ficha técnica de Coração de Pássaro

E é entre a aldeia de pescadores onde os dois vivem, e onde a menina tenta encontrar métodos para escrever poesia, a cidade para onde Nana parte em busca dos poetas, e o bosque, onde a alquimia tem lugar, que Nana e Martim vão construindo a sua história de amor, uma história com sabor a pão, a mar e a palavras. 

"O Martim, o filho do padeiro, só escrevia versos com farinha branca; amassava-os e metia-os no forno. Era o mistério do pão acabado de fazer. E despediu-se de Nana com um presente. Tinha forma de pássaro."

(E não resistimos, a propósito, a recordar aqui Petrini e Sepúlveda, quando no seu livro Uma ideia de Felicidade, referem que "há mais sabedoria num pão bem feito, do que num discurso para «arejar os dentes»")   

Pormenores do miolo de Coração de Pássaro

O livro que completa a nossa seleção é de autoria nacional, de Marco Taylor, e gostamos dele pelo seu caráter experimental e inovador. Trata-se de um livro às fatias, que integra a categoria de livro-objeto, e que contém também uma história de amor. Nesta obra, porém, é o leitor que decide como acaba a história: falamos de A história que acaba bem. A história que acaba assim-assim. A história que acaba Mal.

Pormenores do miolo de História que acaba bem, História que acaba assim-assim e História que acaba mal

É um livro onde predomina a imagem sobre o texto (que é residual), e que convida a refletir sobre as escolhas que fazemos, sobre as variáveis que controlamos e as que não dependem de nós. 
A paleta cromática escolhida (não ao acaso, dada a simbologia que encerra) dá o tom às três histórias. Os diferentes desfechos são materializados com a incorporação de cores e tons condizentes com os estados emocionais que emergem de cada história.

Pormenores do miolo de História que acaba bem, História que acaba assim-assim e História que acaba mal

Por cá, e porque gostamos que as histórias ELF acabem bem, pedimos de empréstimo ao Marco algumas palavras, e, ainda que "quando apaixonados, às vezes sejamos tolos", outras vezes, "quando apaixonados temos mais coragem!". 
A nossa paixão pelos livros e o nosso amor à leitura continuarão a marcar presença neste espaço.
Obrigada a todos.


Nota: No que respeita a novidades editorais da LIJ em 2020, falamos de outras obras a propósito das representações do ambiente na literatura; das representações da infância; dos avós que povoam a atual literatura infantil; e de leituras luminosas para dias cinzentos


Boas leituras e desejos de um feliz Ano Novo!

sábado, 14 de novembro de 2020

Programa ELF em Rebordões Souto - Distinção Escola Amiga da Criança (2)

O Programa ELF tem vindo a ser distinguido, nas várias edições desde 2017/2018, com o selo Escola Amiga da Criança. Em 2019/2020 a distinção foi atribuída à EB de Rebordões Souto (Ponte de Lima), a escola que viu nascer o primeiro projeto de promoção da leitura em ambiente familiar, no "longínquo" ano de 2007.

Momentos da Tertúlia de Encerramento

A edição ELF 2019/2020 teve lugar entre janeiro e março, tendo a tradicional tertúlia de encerramento coincidido com a abertura da semana da leitura 2020, um momento que ficará na memória de todos os que nela participaram, não só pelas marcas que o projeto deixa naqueles que o vivem, mas também porque foi o último momento festivo do ano letivo (dias depois assistíamos ao encerramento das escolas).

Mensagem da Direção: o professor João Carlos Gonçalves parabeniza as famílias participantes.

Vale a pena, portanto, no âmbito desta distinção, reviver o passado dia 6 de março e recordar alguns dos momentos marcantes dessa festa, que reúne a leitura e os afetos à mesma mesa. 

Duas mães participantes partilham o seu testemunho com os presentes

O entusiasmo com que cada família partilha a sua experiência é revelador da transformação proporcionada pela participação no projeto. Na imagem acima é visível a alegria da partilha de dois trabalhos que resultaram de uma experiência muito especial em torno das obras O meu avô, de Catarina Sobral e O Princípio, de Paula Carballeira e Sonja  Danawsky, um dos livros mais surpreendentes, sobretudo pelo tema difícil que aborda (falamos desta experiência AQUI).

Sonhos com Asas: Leituras de Mãe. A participação especial da professora Helena Imperadeiro

Às tertúlias ELF, pelo caráter intimista que as caracteriza, trazemos convidados que partilham genuinamente do amor aos livros e à leitura. Este encerramento contou com a participação especial de Helena Imperadeiro, professora bibliotecária no agrupamento de escolas de Barroselas (Viana do Castelo), que partilhou com os presentes a sua experiência de mãe leitora (apesar de os filhos já serem crescidos) e do potencial dos livros (e dos sonhos).

Maria José Machado, mãe ELF, apresenta o projeto Nuvem Vitória

O caminho que os participantes ELF percorrem depois de passarem pelo programa é revelador da mudança que se opera nas suas vidas. A Maria José Machado (de quem falamos AQUI) é uma dessas mães. Depois do programa ELF, tornou-se voluntária da leitura, voluntária na replicação do projeto ELF junto de outros pais, e hoje é uma Nuvem que leva sorrisos, em forma de livro, às crianças hospitalizadas. É voluntária do projeto Nuvem Vitória, experiência que veio partilhar com os mais recentes pais ELF. 

Susana Corvas e uma nova forma de contar histórias: estreia do tapete narrativo

E foi em ambiente intimista que pudemos conhecer, em estreia, o primeiro tapete narrativo de Susana Corvas, uma mãe ELF, que, contagiada pelo vírus da leitura, depois da sua participação no projeto na EB de Trovela, não mais parou. Tornou-se voluntária da leitura e colaborou ativamente na dinamização desta edição do projeto. 
Na imagem acima podemos ver o momento em que conta a história de Herberto, de Lara Hawthorne, através de um original tapete narrativo construído por si. Curiosamente, esta pequena grande obra (que já integrou outras edições ELF) é um hino aos talentos de cada um (e este projeto tem-se revelado especialista em acordar talentos adormecidos...).

Trabalhos baseados na obra de António Mota A Casa de Palavras
(o autor visitou a escola na semana da leitura)


E em ambiente de festa, numa biblioteca já decorada para receber António Mota e Daniel Completo (imagem acima), a tertúlia terminou em alegre confraternização, aquecida por sorrisos, enquanto um sugestivo bolo se encarregava de plantar uma memória doce em cada um dos presentes.


Obrigada!



 

quinta-feira, 26 de março de 2020

Os relógios da família #Fique em Casa 7

Conhecemos bem o sucesso que este livro faz em contexto familiar: é um dos ex-libris do programa ELF, que, até à data, tem integrado todas as edições do projeto.


O meu avô constitui um excelente exemplar do que de BOM se faz, hoje, em Portugal, ao nível da Literatura para a Infância. Escrito e ilustrado por Catarina Sobral, valeu-lhe o prémio internacional ilustração 2014 (Bolonha). 
Podemos ouvir (e ver) a leitura deste livro, pela voz da autora: aqui.

Dupla página inicial: apresentação comparativa
do momento do despertar do avô e do Dr. Sebastião
A Luísa diz que prefere o relógio do avô:)
Podemos integrar esta obra na temática das representações da família, e mais concretamente na representação dos avós, nos dias de hoje. Paralelamente, este trabalho de Catarina Sobral levanta questões muito pertinentes sobre o TEMPO e o que fazemos com ele: bem a propósito, portanto. 
Falamos deste livro AQUI, aquando do arranque do programa ELF.

Dupla página do miolo:
apresentação comparativa das ocupações do Avô e do Dr. Sebastião
Recuperamos, como sugestões de exploração em família, as atividades que mais sucesso têm tido por aqui.

1. "O meu avô e eu": como é o nosso tempo?

Podemos refletir e conversar sobre o modo como o nosso avô ocupa o tempo. É parecido com o avô desta história? Ou com o Dr. Sebastião? E os outros membros da família? E agora? O que mudou na ocupação do nosso tempo?

Última página do álbum O meu avô

2. Os relógios da Família

O que fazemos com o nosso tempo? Sugerimos que representem num relógio (aproveitem para fazer uma breve pesquisa de imagem sobre este objeto) a ocupação do tempo de cada elemento da família. Podemos até fazer um plano de ocupação do nosso tempo, depois da quarentena. O que vai mudar? (porque alguma coisa vai mudar, com certeza).

Dupla página do miolo:
apresentação comparativa de um dos momentos do dia do Avô e do Dr. Sebastião.

3. Outros tempos espreitam desta obra

Este livro está cheio de intertextos, vindos, por exemplo, do mundo da pintura e do cinema. Falamos destes intertextos AQUI.

Contracapa
Na contracapa, a autora pisca-nos o olho, comparando os tempos de hoje com os Tempos Modernos de Charlie Chaplin. Talvez a quarentena nos ofereça um bocadinho de tempo para (re)visitarmos esta pérola do cinema:



Para conhecermos o que já foi dito, e feito, a partir deste livro, no âmbito do programa ELF, podemos espreitar AQUI (2018) e AQUI (2019).
Na mais recente edição do projeto, cuja tertúlia de encerramento teve lugar no passado dia 6 de março, a família do Lucas construiu esta bonita peça:


Queremos agradecer a todos quantos têm partilhado connosco os seus trabalhos! Têm sido muito generosos: obrigada. Vamos continuar a inspirar-nos uns aos outros.

#Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos.