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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Uma mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade | Especial Dia Internacional do Livro Infantil

Que ler traz benefícios ao nível do enriquecimento lexical, da correção ortográfica, do desenvolvimento da imaginação e do aumento da cultura geral, todos sabemos de cor e salteado. Não que todos tenhamos experimentado, mas porque sempre ouvimos dizer... E, se não lemos, ou não lemos mais, é porque "não temos tempo". 

(Alguém a quem este discurso não seja familiar?)

Está na hora de desmontar esta questão.

Seleção de obras para "Uma Pedagogia da Felicidade"

A julgar pelo decréscimo de hábitos de leitura entre os estudantes portugueses, de que nos dá conta o último estudo nesse âmbito, apresentado em setembro de 2020 (1), estas vantagens, socialmente aceites, em torno da leitura, não parecem ser muito convincentes. A verdade é que, não lhe sendo conhecidos benefícios imediatos (leva tempo até que a leitura produza aqueles efeitos), o hábito de ler não é lá muito atrativo. (Uma recompensa longínqua não é grande motivação). 

Ora, estas (conhecidas) vantagens da leitura não são mais do que os seus benefícios colaterais, ou efeitos secundários (bons). Quanto ao seu benefício principal (e mais imediato), parece que ninguém nos falou dele...

A leitura contribui para a nossa felicidade (imediata)!

O poema Felicíssima integra a obra As Fadas Verdes de Matilde Rosa Araújo

E é para que possamos experimentar este efeito, que hoje, dia internacional do Livro Infantil, trazemos uma mão cheia de livros (e mais um de bónus) que são um convite a sentir o tempo, a resgatar a beleza do que nos rodeia, e a abrir caminhos com o coração: para uma Pedagogia da Felicidade. 

"- Mica! Tanto sol pequenino nesta pedra

Cinzenta e escura... Mas tão linda!

Vou chegar fe-li-cís-si-ma ao meu celeiro!"

Este excerto, retirado do poema Felicíssima, de Matilde Rosa Araújo, cuja versão integral pode ser lida na imagem acima, empresta-nos o olhar da formiga para nos determos nas coisas belas. E, se até a formiga é capaz de interromper a sua lida para alimentar o coração de sol, nós também o seremos. Este texto de Matilde, que nas palavras de José A. Gomes, é uma fada "que parece ter nascido para dar graças por existir e por ter encontrado um mundo povoado de Amigos" (2), e cujo centenário de nascimento comemoramos este ano, contém o primeiro ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade: contemplar o que é belo e deixar-se inundar de gratidão.

As mais belas coisas do mundo de Valter Hugo Mãe e A Girafa que comia estrelas de José Eduardo Agualusa

Talvez neste momento (nos) estejamos a perguntar "onde vamos arranjar tempo para isso...?" 

Talvez tenhamos encontrado uma resposta possível: A D. Margarida, uma galinha do mato que se tornou amiga de Olímpia, A Girafa que comia Estrelas, depois de muito viajar (pois esta galinha tinha feito ninho numa nuvem) partilha com a amiga as suas conclusões:

“«Os homens», contou ela a Olímpia depois de pensar muito, «os homens são animais estranhos: vivem empoleirados uns em cima dos outros em grandes galinheiros.
Estão sempre com pressa, correm o tempo todo, como formigas, de um lado para o outro, e acham que são felizes assim.»”

Uma mensagem de semelhante teor já nos tinha sido deixada pelo Caracol que vive na Mata dos Medos de Álvaro Magalhães, que todos os anos parte para ver o mar:(falamos dessa obra há um ano, AQUI

“«Vou ver o mar.»
«Outra vez?», perguntou a Toupeira. «Todos os anos partes para ver o mar e todos os anos voltas sem ver o mar.»
O Caracol parou de deslizar.

«E isso que interessa?», perguntou ele, irritado. «Faço sempre uma grande viagem, trago muito que contar. Se já tivesse visto o mar, não podia partir agora para ver o mar»” 

Abrandar e aproveitar cada momento desta jornada que é a nossa vida, talvez seja, então, o segundo ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade.

Onde está a felicidade? é um texto que integra a obra O Senhor do seu Nariz e outros contos, de Álvaro Magalhães

E é também de Álvaro Magalhães (um fazedor de leitores), que nos chega o convite para refletirmos sobre as raízes do nosso contentamento. A história do Sr. Pascoal, que protagoniza o conto Onde está a felicidade?, que podemos ler na imagem acima, apresenta-nos aquele que podemos considerar o terceiro ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade: na maioria das vezes, a solução para os nossos problemas e inquietações está dentro de nós, ou bem perto de nós. 

Quem também defende esta máxima é Babaï, o cordeirinho que, para combater a solidão das montanhas do Irão, decide fazer um jardim. Procura uma parcela de terra soalheira, próxima de uma nascente e planta O Jardim de Babaï... (mas como? onde vai o cordeirinho descobrir sementes, no meio do deserto?):

"Sementes!

Precisava de todas as espécies de sementes.

Com a passagem do tempo, das estações, o vento fora deixando muitas sementes no corpo coberto de lã de Babaï. Babaï recolheu-as do seu pêlo, uma a uma, com muita paciência e plantou-as delicadamente com as suas patinhas."

O Jardim de Babaï, de Mandana Sadat e Herberto, de Lara Hawthorne

E depois de sermos formigas ou caracóis, de viajarmos à boleia de uma nuvem, ou na mala do Sr. Pascoal, e de nos instalarmos a tomar um chá com um simpático cordeirinho, o que nos faltará ainda descobrir? Talvez aquilo que torna cada um de nós único e especial... 

É uma das lições de Herberto, a lesma que decidiu percorrer um caminho diferente do habitual, que o levou a travar conhecimento com as maravilhosas criações dos seus amigos (a aranha tecedeira, o escaravelho escultor, a formiga arquiteta, e a mariposa dançarina), e..., surpreendentemente, a descobrir que também ele tinha um talento que o tornava único!

Descobrir a diversidade, valorizando e apreciando aquilo que torna cada cada um de nós único e especial poderá ser, então, o quarto ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade.

E, neste momento, talvez já estejamos familiarizados com a ideia de os livros também poderem contribuir para a nossa felicidade... 

No entanto, para que não restem dúvidas, a encerrar esta mão cheia de livros (e mais um de bónus), trazemos ainda mais uma achega: pedimo-la de empréstimo a Valter Hugo Mãe, que, num trabalho belíssimo, intitulado As mais belas coisas do mundo, nos deixa aquela que consideramos a quinta e última dica para uma Pedagogia da Felicidade: "A magia de estarmos vivos vem da possibilidade de fazermos acontecer."

"O meu avô sempre me dizia que a melhor parte da vida haveria de ser ainda um mistério e que o importante era viver procurando. 

Eu sei hoje que ele queria dizer que a cada um de nós cabe fazer um esforço para ser melhor, fazer melhor, cuidar melhor de nós próprios e dos outros. A cada um de nós cabe a obrigação de cuidar do mundo, porque o mundo é um condomínio enorme onde todos temos casa.

O meu avô queria dizer que não devemos ficar parados à espera de que algo aconteça. A magia de estarmos vivos vem da possibilidade de fazermos acontecer."


A felicidade pode até não nascer das árvores (embora lá possamos encontrar alguma - ou não fosse primavera!), e podemos achar que também não nasce dos livros... mas isso é só enquanto não nos deixarmos seduzir. Depois de experimentarmos as maravilhas que a leitura pode fazer pela nossa felicidade (e pela dos que nos rodeiam), não saberemos viver sem ela!

A todos, felizes leituras e feliz dia internacional do Livro Infantil!
  

(1) O estudo pode ser consultado AQUI 

(2) Dossiê Matilde Rosa Araújo (Casa da Leitura)

domingo, 2 de janeiro de 2022

De 2021 mais uma mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade (e um de bónus porque é Ano Novo)

Se há um ano encerrávamos 2020 com Amor, um ano volvido, continuamos de alma cheia e coração transbordante de gratidão.

2021 pode não ter sido o ano que idealizamos, mas foi um ano FELIZ, pois muitas coisas boas aconteceram por aqui.

Em 2021, convidamos a Lua, fizemos saltar Gatos das estantes, acordamos a Primavera, apoiamos a Seleção Nacional, aprendemos a tomar conta de um Capuchinho Vermelho, visitamos os avós e homenageamos as crianças. Montamos uma fábrica de histórias, criamos uma nova valência ELF, Livros e Literacia Familiar, para podermos chegar junto de mais famílias. Voltamos a ser distinguidos pela Escola Amiga da Criança, festejamos o Natal com (novos) livros e inauguramos uma rubrica nova: Livros para uma Pedagogia da Felicidade

E é neste registo que damos as boas-vindas a 2022, com uma novíssima mão cheia de livros, que ao longo de 2021 chegaram ao nosso país, confirmando que a Leitura pode, efetivamente, ser um importante contributo para a nossa Felicidade.

O Vendedor de Felicidade: pormenores do miolo e das guardas.

Em que consiste afinal a felicidade? Será que a podemos comprar?
O Vendedor de Felicidade foi o último livro a dar entrada na nossa biblioteca em 2021. Da autoria de Davide Cali e Marco Somà, e editada em Portugal pela Nuvem de Letras, esta obra é um deleite para os olhos e um bálsamo para a alma. É um livro perguntador e inquietante, que nos convida a encontrar possíveis respostas para estas questões.
Ao longo das páginas de grande formato, acompanhamos a viagem do Senhor Pombo enquanto distribui os seus frascos de felicidade (de vários tamanhos, conforme as necessidades, a carteira e as crenças) e vamo-nos revendo numa ou noutra faceta deste ou daquele cliente... há os que compram felicidade para oferecer aos convidados, aos netos porque "coitadinhos já têm tudo", aos amigos... há os que não compram porque acreditam que não a merecem... e há a família Rato que encontra o frasco que o Senhor Pombo deixou cair...  
Talvez a felicidade comece, afinal, por descobrir o que nos faz felizes.

Era uma vez (e muitas outras serão): pormenores do miolo.

Do Planeta Tangerina chegou-nos, também em 2021, esta pequena grande maravilha: Era uma vez (e muitas outras serão) de Johanna Sehaible. Trata-se de mais um livro perguntador, que nos oferece uma visão panorâmica do nosso lugar no universo (no espaço e no tempo), ao mesmo tempo que nos implica enquanto coconstrutores da nossa realidade e do legado que preparamos. 
As relações que construímos, os planos que fazemos e os sonhos que sonhamos apresentam-se, neste trabalho, como peças chave da construção da felicidade.

O destino de Fausto: pormenores do miolo e de alguns peritextos.

O Destino de Fausto, de Oliver Jeffers, que chegou também ao nosso país em 2021, pela Orfeu Negro, é um excelente complemento à obra anterior. Este livro, que pode ser lido como uma metáfora da ambição exagerada, tem o condão de nos recordar a nossa pequenez face à grandiosidade do Todo.
É um convite a descobrirmos o "Fausto" que há em nós, e a (re)educá-lo para o respeito e para o amor. 
Como podemos ler num dos peritextos da obra, ter "a noção de que temos o suficiente" (imagem acima) pode ser o segredo para uma vida de plenitude.

O mundo cá dentro: capa e pormenores do miolo.

O Mundo cá dentro, de Deborah Underwood e Cindy Derby e A Árvore em Mim, de Corinna Luyken, editados também em 2021, pela Orfeu Negro e pela Fábula, respetivamente, convidam-nos a (re)descobrir e a percorrer os caminhos do Belo, do Simples e a educar os sentidos para o Deslumbramento.
Uma espécie de "back to the essence" emerge destes dois trabalhos, que apresentam, como pano de fundo, uma profunda comunhão com a Natureza.

Atual e pertinente, e quase contendo uma espécie de grito de alerta, O Mundo cá dentro vai guiando o olhar do pequeno leitor para a origem do que o rodeia, implicando-o na descoberta do percurso "com clarões à janela e truques de magia" (...), pois "o mundo canta"... "o mundo tem cheiros"... "o mundo conforta-nos"... "o mundo segura-nos"... e até sente a nossa falta (Underwood & Derby).

A Árvore em Mim: pormenores do miolo e contracapa.

A Árvore em Mim é também um hino à Alegria de Viver, que passa pela descoberta de Pertencer: pertencer a algo Maior, unido por raízes e por ramos, pelo sol e pela chuva. Uma espécie de analogia da Natureza com os nossos estados de alma e com o percurso que é a Vida de todos nós e de cada um de nós. Descobrirmo-nos no Outro, aceitar tanto a noite como o dia, e rejubilar com as maravilhas das pequenas coisas são, certamente, ingredientes essenciais à felicidade.

Enciclopédia dos Verbos Felizes: capa e pormenores do miolo.

E a juntar a esta novíssima mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade, porque é Ano Novo, aqui fica o livro bónus: Enciclopédia dos Verbos Felizes, do nosso amigo Marco Taylor. Este trabalho, que veio a lume em 2020,  pode ser lido como um manual de instruções para sorrir genuinamente, degustado como um conjunto de coisas que nos fazem bem, e sentido como um verdadeiro livro aconchego.
Fiel à sua genuinidade, o autor oferece-nos, através desta obra, um pouco de si, não apenas da sua experiência de vida (que, sabemos, contém a prática destes verbos), mas também da sua dedicação ao leitor, transformando cada livro numa peça (de arte) única e especial. 
Saborear a vida, enquanto apreciamos a arte, talvez nos revele alguns dos segredos da Arte de Viver.


A todos os nossos amigos, leitores e visitantes desejamos um Feliz Ano Novo!
Felizes leituras e... até já!


P.S. Mais Livros para uma Pedagogia da Felicidade poderão ser encontrados AQUI e AQUI.

domingo, 5 de março de 2023

Os livros da nova temporada ELF

A edição inaugural da nova temporada ELF, que marca o regresso do programa ao terreno, caminha já para a reta final.

(Temos dado conta do desenrolar das sessões nas nossas páginas de facebook e instagram).

Para este regresso, selecionamos novas obras: dez livros organizados em três conjuntos distintos.

As obras da nova temporada ELF

Na base desta seleção estiveram critérios como a data de edição (privilegiamos publicações recentes), a representatividade de autores, ilustradores, editoras e discursos, e os temas, de modo a oferecermos um repertório o mais vasto possível.

Neste conjunto de livros encontramos autores nacionais e internacionais, livros de autoria única e de autoria partilhada, textos narrativos e textos poéticos (e ainda outros discursos), livros-objeto, textos do património popular, livros onde a família é protagonista, em diferentes representações, livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores) e livros dos quais espreitam questões de índole ambiental (ou o nosso lugar na casa comum que é o planeta).

O 1º kit

Começamos com três obras representativas do património popular:

Destrava-Lengas: Trava-Línguas e Lengalengas, de Luísa Ducla Soares e Helder Peleja, um trabalho de 2022, editado pela Livros Horizonte, que reúne alguns textos inéditos e outros selecionados, pela autora, brilhantemente iluminados pelas ilustrações de Peleja, que acrescenta a estas pérolas populares notas de humor e sentidos menos evidentes. Um livro para recordar que o nosso primeiro contacto com a poesia tem lugar logo nos primeiros dias de vida. Quem nunca cantarolou, por exemplo, "A galinha põe o ovo e o Joãozinho papa-o todo?", para uma criança ainda de poucos meses?

O Coelhinho Branco, de Xosé Ballesteros e Óscar Villan, uma adaptação do conto popular português com o mesmo nome, editada pela Kalandraka (última edição de 2014). Uma narrativa com uma estrutura próxima da cumulativa, que permite um interessante jogo de papéis, que potenciamos através de um mini teatro de fantoches, uma sugestão que acompanhou o livro. Este texto prima também pelo humor, visível, por exemplo, nas variações que o autor introduziu nas referências à Cabra Cabrês. 

(Este foi o único livro que mantivemos das edições ELF anteriores. Um interessante testemunho pode ser encontrado no livro Crianças Leitoras, Famílias Felizes, "Batizando as cabras do avô".) 

Espreita pela Janela, de Katerina Gorelik, uma obra de 2021, editado em Portugal pela Poets and Dragons Society. Trata-se de um livro com janelas cortadas nas páginas do livro, permitindo um interessante jogo, pois raramente aquilo que parece é... Por exemplo, uma aparente simpática velhinha pode afinal ser uma bruxa terrível, ou um aparente lobo mau, pode afinal ser só um convidado para o chá em casa da avozinha... um livro para ativar o imaginário popular coletivo e, simultaneamente, refletir sobre o que muitas vezes julgamos com base em "recortes da realidade".

O 2º Kit

Para o 2º kit, escolhemos quatro obras onde a família é protagonista. Neste conjunto, entre a narrativa e a poesia, vamos encontrar histórias de avós e netos, de pais e filhos e também de primos. Vamos encontrar alguns temas difíceis à espreita e muitos motivos para conversar em família. A escolha de obras protagonizadas pela família prende-se com a proximidade do tema. Depois do património popular (o tema  mais familiar e, por isso, o primeiro), alargamos o leque: um tema próximo, com questões de complexidade crescente.

A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, uma obra da Bruáa, editada em 2019, que tem por base um conto judaico. Trata-se de uma ternurenta história que envolve um avô, um neto (e uma mãe "rabugenta", como se lhe referiram alguns participantes). Falamos desta obra AQUI a propósito da representação dos avós na literatura para a infância.

Aqui estamos nós, apontamentos para viver no Planeta Terra, um livro de Oliver Jeffers, editado pela Orfeu Negro (última edição 2021). Nesta obra, que o autor dedica ao filho, acabado de nascer, o narrador apresenta o Planeta Terra na sua diversidade e complexidade, como uma casa comum com lugar para todos e onde todos têm uma função "O tempo acaba antes que dês conta. Aproveita-o bem (...) Há muito para fazer" (Jeffers, 2021). Falamos da obra que se seguiu a esta - O que vamos construir, AQUI, integrada na rubrica Livros para uma pedagogia da felicidade.

O Mar Viu, de Tom Percival, um trabalho de 2022, editado pela Jacarandá. Um livro intenso, marcado por uma grande carga afetiva, protagonizado por pai e filha e um urso que havia pertencido à mãe, de permeio. Esta obra integra a secção "Uma rede de afetos", na 3ª parte de Crianças Leitoras, Famílias Felizes, compondo o leque de leituras selecionadas para uma Pedagogia da Felicidade.

Uma Quinta, de Alex Nogués e Alba Azaola, uma obra de 2022, editada pela Akiara. à semelhança de outros livros da editora (falamos de Coração de Pássaro AQUI), trata-se de um trabalho de rara beleza. Uma coletânea de poesia, cujos textos põem a descoberto memórias de infância dos narradores (textual e pictórico), memórias que têm por base os momentos vividos entre primos... numa quinta.

Outros livros sobre representações da família, de que já falamos aqui:

Especial Dia da Mãe

Especial Dia do Pai

Que avós povoam a atual literatura para a infância

Os avós das histórias e das memórias

Os relógios da família 

Literatura infantil e representações da família

3º Kit

O último kit compõe-se de livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores), e de um pop-up, que, além de ser um interessante trabalho de engenharia do papel, é também um alerta para a problemática ambiental que vivemos.

O Vendedor de Felicidade, de Davide Cali e Marlo Somà, editado pela Nuvem de Letras em 2021 é um livro desconcertante. Belíssimo, de grande formato, com ilustrações que convidam o leitor a perder-se, interroga-nos sobre o grande tema que a todos nos move: a felicidade. Falamos deste livro AQUI.

Era uma vez (e muitas outras serão) de Johanna Sehaible, editado pela Planeta Tangerina em 2021, é um trabalho surpreendente: uma viagem no espaço e no tempo, que se desenrola ao ritmo do tamanho das páginas (que ora diminuem, ora voltam a crescer). É outro excelente livro perguntador, que ajuda pequenos e grandes leitores a colocarem-se em perspetiva e a refletirem sobre o seu lugar e o seu legado. Também falamos deste livro AQUI.

Na floresta da preguiça, de Sophie Strady, Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, editado pela Bruáa (última edição 2022). Este é um livro pop-up que convida o leitor a colaborar na construção da narrativa: primeiro a descobrir a preguiça e toda a fauna e flora da floresta amazónica, e depois (da destruição da floresta) a  voltar a plantar, para que as preguiças e os restantes animais também voltem. Um livro muito bonito, que precisa, contudo, de uma cuidada mediação: refazer uma floresta não acontece com um simples virar de página!

Sessão 1: apresentação do 1º kit


O trabalho em torno destes livros tem-se revelado muito gratificante e revelador. Cada edição ELF é uma surpresa, uma descoberta, uma aprendizagem.

Voltaremos em breve para falar um pouco da receção destes textos em ambiente familiar.

Até já!

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho | Especial Regresso às Aulas

Ainda que o outono se possa começar a anunciar, setembro cheira sempre a novo! São cadernos novos, livros novos, amigos novos, professores novos, e também, naturalmente, histórias novas!

Imagem 1: levanta-se o véu de Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho


Não raro, aparecem pedidos de sugestões de livros sobre questões inerentes à entrada para a escola ou ao regresso às aulas, como o medo, a amizade, a integração, etc... Quem nos acompanha, sabe que somos um bocadinho "avessos" a "livros para...", uma vez que consideramos que um bom livro será sempre "bom para...": para alimentar o imaginário, a dimensão humana e a essência leitora de cada um, para nos fazer pensar e para nos fazer felizes (falamos destas questões AQUI e AQUI). 

A questão que consideramos verdadeiramente fulcral é que a leitura de bons livros faça parte das rotinas diárias de todas as salas de aula e de atividades, e de todos os lares, e que gere momentos felizes. Que pais e professores não deixem de ler aos seus filhos / alunos, só porque chegaram ao 1º ano (assunto de que falávamos há um ano por esta altura em Vou para a escola, vou aprender a ler), e que a riqueza e diversidade da atual produção literária para a infância chegue, efetivamente, ao seu destinatário.

Imagem 2: dois exemplos de textos que respeitam as versões "originais" do conto popular Capuchinho Vermelho. Com base no texto de Charles Perrault, Le Petit Chaperon Rouge, ilustrado por Christian Roux (texto em língua francesa); Com base no texto dos Irmãos Grimm, um livro que se apresenta em três línguas (português, francês e inglês), versão portuguesa de Eugénio Roda e ilustrações de Hassan Ameikan.


Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho, título que escolhemos para esta "rentrée", é uma ideia da autoria de um pequeno (mas voraz) leitor, de apenas três anos, o Lourenço, que, em resposta à banalíssima pergunta "Que história leste ontem?", respondeu prontamente: "Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho".

Imagem 3: pormenor do miolo de Le petit chaperon rouge (versão de Charles Perrault)

Este inusitado "título" resultou da junção de três outros títulos, O Capuchinho Vermelho (que chegou à Biblioteca do Lourenço no seu sexto mês), Como tomar conta de uma avó e Como tomar conta de um avô, de Jean Reagan, que este pequeno leitor havia recebido no dia dos avós.

Ficamos a pensar que este (novo) título dava, efetivamente, uma(s) boa(s) história(s)... e, decidimos, então, transformá-lo num conjunto de ideias para este regresso às aulas.

Partindo do conto popular mais emblemático de todos os tempos, o Capuchinho Vermelho, que deverá ser do conhecimento da grande maioria das crianças, e, portanto, um elo unificador, podemos enveredar por distintas explorações em torno da questão "Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho?" Aqui ficam algumas.

Imagem 4: conjunto de reescritas atuais de O Capuchinho Vermelho


Ideia 1

Esta atividade pode ser feita de forma simples, em jeito de conversa onde as crianças vão apresentando ideias e sugestões para "tomar conta do Capuchinho", ao jeito da autora de Como tomar conta de uma avó (como seria passar um dia com o Capuchinho Vermelho), ou livremente. As ideias podem ser representadas em desenho ou escritas (por exemplo em post-its), que depois poderão dar origem a um original painel.

(Na imagem 2 estão dois exemplos de textos que respeitam as versões "originais" do conto popular, tendo por base os textos de Charles Perrault - séc. XVII, e dos Irmãos Grimm- séc. XIX).

Ideia 2

Com crianças mais velhas, podemos transformar a atividade num diálogo reflexivo sobre questões como: 

- Por que motivo precisa o Capuchinho Vermelho que alguém tome conta de si?

- O que é preciso vigiar?

- Será uma missão perigosa? 

- Será um trabalho divertido? 

- Por que devo (ou não) fazê-lo?  

- O que posso ganhar com isso?

Ideia 3

Associando este emblemático conto, e cruzando, por exemplo, algumas das suas reescritas, poderá ser divertido imaginar e criar Uma escola para Capuchinhos Vermelhos, que poderá, depois, ser transformada numa bela maquete.

- Onde se localizaria esta escola? 

- Como seria o espaço? As salas, a biblioteca, a cantina... a decoração?

- Que matérias / disciplinas se aprenderiam nessa escola?

- Quem seriam os professores?

- Quais seriam os jogos de recreio?

- Onde seriam as visitas de estudo?

- (...)

(Na imagem 4 encontram-se alguns títulos de reescritas atuais do conto O Capuchinho Vermelho, que poderão servir de base à atividade)

Ideia 4

Partindo do contexto que gerou esta atividade, poderão ser criados outros títulos, que incluam o Capuchinho Vermelho e outras histórias conhecidas das crianças. No caso de o repertório de obras não ser muito vasto, poderá ser feita uma seleção prévia de livros). Poderão surgir títulos como "Adivinha quanto eu gosto do Capuchinho Vermelho" (cruzando com o título Adivinha quanto eu gosto de ti), "Papá, por favor, apanha-me o Capuchinho Vermelho" (cruzando com Papá, por favor, apanha-me a lua), "Capuchinho Vermelho das Meias Altas" (cruzando com o clássico Pippi das Meias Altas), etc. 

Imagem 5: três obras para trabalhar questões de estereótipos. Por que razão o lobo é sempre o vilão? Terá mesmo de ser assim? (Uma ideia para uma outra versão da atividade: "Como tomar conta e um lobo?")

Para que não faltem ideias para preparar um ano de boas e diversificadas leituras, em casa com a família, ou na escola, deixamos ainda, para este especial regresso às aulas, dez seleções de obras, organizadas por temas, que poderão integrar as vossas escolhas. 

Livros para uma Pedagogia da Felicidade (1)

Livros para uma Pedagogia da Felicidade (2)

Representações da Criança na Literatura para a Infância 

As crianças que moram nos livros

Ritmos e ciclos da Natureza: Primavera de Livros

Ritmos e ciclos da Natureza: Representações do verão na Literatura para a Infância

Ritmos e ciclos da Natureza: Livros e ideias para celebrar o outono 

Natal: Calendário de Leituras do Advento

Família: Os avós das histórias e das memórias

Família: Que avós povoam a atual literatura para a infância?


A todos desejamos um bom ano letivo, repleto de boas leituras!

                                                                                            [LMB]

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Outra mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade

Apresentamos no passado dia internacional do livro infantil, um conjunto de livros que comprovavam o maior dos benefícios da leitura: ler contribui para a nossa felicidade (imediata)!

Ora, não fomos capazes de conter esta seleção na primeira mão cheia. Os livros que nos fazem felizes são tantos, que não resistimos a partilhar outros tantos.

(podem conhecer a primeira parte desta seleção AQUI)


Esta reflexão surge, como referimos quando apresentamos a primeira mão cheia de livros para uma Pedagoga da Felicidade, porque nos temos vindo a aperceber que os "conhecidos benefícios da leitura" não parecem ser convincentes o suficiente (como atesta o último estudo sobre os hábitos de leitura dos jovens estudantes).

E porque acreditamos que quantos mais adultos experimentarem e conhecerem o mais imediato efeito benéfico da leitura, maior presença os livros marcarão na vida das nossas famílias (pois ainda não encontramos quem não queira ser feliz). 

O segredo é conhecer, pois a estes livros ninguém fica indiferente, e a hora de partilhar uma leitura em família passará, então, a ser muito desejada, quer por grandes, quer por pequenos.

Pormenor do miolo de A maior Casa do Mundo, de Leo Lionni

Abrimos com A maior Casa do Mundo, um trabalho de Leo Lionni (2008), que integra uma história contada de pai para filho, dando-nos a conhecer a importância de compreendermos e aceitarmos as "leis" da mãe natureza. Confrontado com o desejo de o filho querer ter "a maior casa do mundo", o pai caracol conta uma história com o mesmo nome, onde a ambição desmedida e a ostentação acabam por custar a vida ao pequeno caracol. Confrontado com esta "lição", o caracol desta história parece compreender o quanto é afortunado por possuir uma casa tão pequena, e parte, então, para ver o mundo, descobrindo uma infinidade de maravilhas, como podemos ler no excerto da imagem acima.

Indutora de reflexões de ordem diversa, com lugar a diferentes pontos de vista,  esta é mais uma obra que não se esgota numa leitura, e que promete interessantes conversas. 
(Esta obra já deu origem a um interessante jogo da memória, construído por uma das nossas famílias ELF: AQUI).

Pormenor do miolo de Os Figos são para quem passa, de João Abreu e Bernardo Carvalho

Os figos são para quem passa, de João Abreu e Bernardo Carvalho (2016) é um livro percorrido por um conjunto de personagens animais que parece ter por missão ensinar ao Homem como viver em harmonia com a Natureza e com o Outro, respeitando, ainda, os ritmos de aprendizagem de cada um.

Na senda da história do caracolinho de Leo Lionni, o desprendimento afigura-se-nos, nesta obra, como um importante ingrediente para uma vida feliz. 
Estabelecendo uma espécie de analogia com o princípio dos tempos, “No princípio, o mundo era só um. Tudo era de todos, ninguém pertencia a nada, nada pertencia a ninguém” (Abreu e Carvalho), a narrativa vai deixando pistas ao leitor sobre o papel providencial da natureza: (excerto na imagem acima).

“Afinal, era exatamente por isso que os frutos não amadureciam todos ao mesmo tempo. As árvores, sábias e generosas, tinham sempre frutos maduros para quem passava. E quando não os tinham maduros, tinham-nos verdes, para quem passasse nos dias seguintes”. (Abreu e Carvalho)

O desequilíbrio desse “princípio” muda, porém, no dia em que o urso passa debaixo de uma figueira e decide esperar que um figo fique maduro, contrariando, desse modo, a regra do “princípio”. Os sacrifícios (e dissabores) que o urso passa para proteger um único figo (que afinal já era habitado por uma lagarta) provocam o questionamento do leitor, que se divide entre a defesa ou a condenação do urso. A solução é apresentada pela lagarta, o mais pequeno ser que percorre a obra, e que, numa atitude de altruísmo, de respeito para com o processo de crescimento do urso, e talvez também de homenagem à sua paciência, divide com ele o “seu” figo. 
Ao jeito dos contos do “princípio dos tempos”, esta narrativa também encerra com uma “lição”:

 “«Agora já percebi» disse o urso. «Há figos que são para quem passa...» «E há figos que são para quem espera» acrescentou a lagarta. «Pois é», disse o urso. «E esses são os melhores que há»” (Abreu e Carvalho).

Índice e pormenor do miolo de O Senhor Pina, de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha

Pela pena de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha (2013), numa originalíssima homenagem a Manuel António Pina, trazemos O Senhor Pina. Como podemos ver através do índice (imagem acima), esta obra, recheada de um humor subtil, característico da escrita de Álvaro Magalhães, é um hino à alegria de viver e à imaginação.

E quem nos traz um especial ingrediente para uma Pedagogia da Felicidade é o Ursinho Puff, amigo "inseparável" do Senhor Pina, que aguça o nosso olhar sobre a beleza de alguns momentos especiais (ainda que curtos) como por exemplo "o momento antes":

"Mas então?...
Então estava a saborear o momento antes. É quando ficamos contentes e nos apercebemos disso. Mas agora que me interrompeste, tenho de começar outra vez." (Magalhães e Darocha)
(excerto completo na imagem abaixo).

Excerto do capítulo Um Urso com poucos miolos, in O Senhor Pina, de Álvaro Magalhães e Luiz Darocha

Com fortes ecos de O Principezinho, este episódio irá, sem dúvida, despertar memórias e trazer para o presente muitos "momentos antes", que é como quem diz, muitos momentos felizes!

(Esta obra integrou a primeira edição do programa ELF. E uma das atividades mais apreciadas pelas famílias participantes foi a elaboração de um texto recorrendo apenas aos títulos do índice: fica a sugestão!)

Pormenor do miolo de Depois da Chuva, de Miguel Cerro

Prémio Internacional Compostela 2015, Depois da Chuva, de Miguel Cerro, é um álbum de uma beleza extraordinária! Com ecos de "fábula clássica", esta obra encerra uma poderosa mensagem de resiliência.
Depois de uma grande inundação, os animais são obrigados a refugiar-se numa gruta, no alto de uma colina. Cada um tem a sua tarefa... à exceção da raposa, a quem não é confiado nenhum trabalho. Aparentemente, todas as necessidades estão asseguradas... 

No entanto, a raposinha não desiste de dar o seu contributo para a vida naquela gruta, aonde não chegava a luz...

Pormenor do miolo de Depois da Chuva, de Miguel Cerro

Decidida a iluminar a gruta (e os seus moradores), a Raposinha, depois de derrotada na tentativa de agarrar as estrelas e a lua, descobre um grupo de pirilampos perdidos que mal conseguiam voar... e não hesita em salvá-los  (excerto da imagem acima). E, a partir dessa noite, nunca mais faltou a luz naquela gruta." (Cerro)
Uma obra que dará, certamente, muito que falar! 

E quanto à luz na gruta? Parece-nos ser como a leitura: ninguém tinha sentido falta dela até a experimentar, mas depois... nunca mais puderam viver sem ela.

Pormenores do miolo de O que vamos construir, de Oliver Jeffers

"Temos muito que fazer", diz Oliver Jeffers à sua filha Mari, na dedicatória de O que vamos Construir, Planos para um futuro comum. Este recente trabalho (2020), que o autor refere ter por objetivo "nivelar o terreno" (ao nível das desigualdades) segue a linha do trabalho anterior, que o autor dedicava ao filho, Aqui estamos nós, afigurando-se como uma espécie de manual para a vida. 
À luz de uma aparente simplicidade, nesta obra, Oliver Jeffers não se escusa a apresentar as grandes questões, ou as grandes dualidades da vida, assim como o que é verdadeiramente importante para o ser humano na sua essência, e nos seus direitos mais básicos: uma família, uma casa, e, sobretudo a sua grande necessidade de amar e de ser amado.

Página final de O que vamos construir, de Oliver Jeffers

Um livro ternurento, com vários níveis de leitura, ao qual adultos e crianças desejarão regressar (muitas vezes), como quem regressa a Casa.

A todos desejamos felizes leituras!
                                                          [LMB]

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

LER fora da escola: 10 livros para aguçar o olhar sobre o que nos rodeia

Tal como falamos AQUI, quinzenalmente dão entrada no #Espaço dos Livros dez novas sugestões de leitura. 10 livros para aguçar o olhar sobre o que nos rodeia foi o mote para a seleção do Espaço dos Livros #2.

Nesta seleção continuamos a privilegiar o texto literário, mantendo-se a diversidade como principal critério, sobretudo em termos de discurso e tipologia de livro. 

Em termos temáticos, poderíamos dizer que a CASA é o fio condutor nesta dezena de livros: a Casa TERRA, que abriga as sementes (que se tornarão flores) que encontramos em A pequena semente; a Casa LUA, um livro cheio de quartos e meninos que se veste de poesia, dando forma aos Filhos da Lua. A Casa dos AVÓS, que ora aparece como ponto de partida, em Corre, Corre, Cabacinha, ora como ponto de chegada em Ainda falta Muito?, ora como palco de festa, como acontece em O Rosto da Avó. A casa que convida a espreitar pela JANELA, permitindo o acesso a mundos surpreendentes, que se revelam em Espreita pela Janela; a Casa CANTEIRO, onde se escondem e descobrem os talentos que nos tornam únicos e especiais, como aprendemos com Herberto, a Casa de FAMÍLIA, que encerra e conta histórias a quem lá entrar, a Casa CORAÇÃO, onde se inventam medidas para os afetos, que encontramos nas páginas de Adivinha quanto eu gosto de ti,  e a Casa do ESPANTO, que se desvenda a cada página de OH! 

Estes livros acolhem-nos como uma verdadeira casa, convidando-nos a olhar o que nos rodeia com olhos de primeira vez. Boa parte deles também mora nesta casa. É uma boa altura para os (re)visitarmos.

A pequena semente integra uma das nossas seleções sobre as Representações do ambiente na LIJ (e é também uma excelente leitura para os dias de outono); Herberto dá corpo à nossa primeira seleção de obras para uma Pedagogia da Felicidade, e aparece amiúde nos livros de LIJ recomendados a adultos. Falamos de O rosto da avó a propósito dos Avós que povoam a atual literatura para a infância, sendo um título igualmente presente nos pódios de recomendações para adultos; Espreita pela janela fez parte do corpus inaugural da nova temporada ELF; Entre os 12 livros que compõem uma das nossas bibliotecas para afilhados encontramos Adivinha quanto eu gosto de ti; e integrado nas representações da arte na literatura infantil, falamos de OH!

Corre, corre cabacinha, de Eva Mejuto e André Letria, é uma obra que nos é muito cara, é um clássico desta casa, pois fez parte do nosso primeiro kit de livros Lê para mim que depois eu conto... (o nosso primeiro projeto de promoção de leitura em família - 2007). Trata-se de uma belíssima adaptação do conto popular português A Velha e os Lobos (recolha de Adolfo Coelho) e é também uma excelente sugestão de leitura de outono! Ainda falta muito?, uma obra de Carla Maia de Almeida e Alex Gozblau (2009) é o livro ideal para ver com olhos de primeira vez. À boleia da pequena narradora e do seu irmão, vamos fazer o percurso da cidade até à aldeia, observando tudo o que habitualmente não vemos. Falamos desta obra AQUI, aquando da última visita da autora ao AE António Feijó.

E é hora de abrir a porta desta casa a dois novos inquilinos: Casa de Família e Filhos da Lua.
Casa de família, um belíssimo álbum de Sophie Blackall (autora de que já falamos AQUI e AQUI) editado pela Fábula, em fevereiro de 2024, é um convite a percorrer os espaços da casa e os da memória, é um livro para nos perdermos e encontrarmos: grandes e pequenos irão recordar aquela porta ou parede onde um lápis marca(va) os centímetros que crescemos, aquela peça de roupa que conta uma história única, ou até o dia da varicela...:). Um livro-casa que promete muitas horas de conversa-aconchego. Filhos da Lua, de Clara Cunha, um livro editado pela Prodidático em 2021, é um hino à imaginação vestido de brincadeira de crianças: quem nunca se sentiu "perseguido" pela lua? quem nunca brincou às escondidas com a lua? Uma brincadeira de crianças que (também) esconde temas sérios... um poema para desvendar ao ritmo das páginas que se desdobram em planos horizontais e verticais, compondo cenários tão diversos como as fases da Lua. Para os apreciadores da Lua dos livros, recomendamos uma visita à nossa seleção de Livros da Lua.

No Diário do Projeto (3) partilhamos sugestões de abordagem a alguns destes títulos.