“No seguimento da evolução social das últimas décadas, com evidentes repercussões no universo familiar, a literatura para a infância acompanhou e refletiu as mudanças ocorridas, permitindo refletir sobre o seu relevo e impacto” (Ramos & Boo, 2012: 13).
Nesta sessão propomos uma viagem por três obras de publicação recente que tocam a temática da representação da família na Literatura para a Infância.
Começamos com um passeio ao lado de um avô muito especial, um avô
que agora "tem bastante tempo": tempo para ter aulas de alemão e de
pilates, tempo para fazer "piqueniques na relva", cultivar o jardim,
escrever "ridículas cartas de amor", beber chá, cozinhar, ajudar os
"pugs" a atravessar a rua, e ainda ir buscar o neto à escola.
Prémio Internacional Ilustração 2014, esta obra, de Catarina
Sobral, aborda não apenas o lugar dos avós, mas também e sobretudo o lugar do
tempo, ou do que fazemos com ele. Repensar prioridades e valorizar o importante
são reflexões que o leitor é convidado a fazer, enquanto se passeia com "o
meu avô" e com outras personagens que lhe vão piscando o olho a partir de
uma tela de pintura ou de cinema.
Este álbum de Carla Maia de Almeida
e Marta Monteiro apresenta um conjunto
de descrições / reflexões sobre as mais variadas representações da família no
século XXI, recorrendo a uma analogia com os deuses da antiga mitologia
greco-latina (que encontraremos sob a forma de glossário no final do livro).
A riqueza metafórica e intertextual,
aliada a subtis jogos de linguagem perpassados por notas de humor, fazem desta
obra um registo riquíssimo ao nível da formação do intertexto leitor.
A ilustração desempenha um
importante papel complementar: apetrecha de pormenores culturais, geográficos,
e até de vivências do quotidiano, as descrições apresentadas pelo texto verbal.
Grandes obras
podem brotar de encontros inesperados. É o que nos conta António Mota neste
inusitado dicionário que nasceu de uma viagem de comboio, a pedido de uma
menina de 7 anos: “Eu gostava que fizesse um livro só para mim. Um livro que
tivesse poucas palavras. Mas que essas palavras me fizessem sonhar. Eu gostava
muito de ter um livro em que cada palavra contasse muitas histórias.” E assim
nasceu esta obra que, a cada dupla página nos apresenta 3 palavras para cada
letra do alfabeto, unidas por uma ilustração única: o resultado final é não apenas um livro para
sonhar mas também um sonho de livro.
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