quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A magia do Natal nos livros

"É raro o autor de literatura infantil que, entre o seu repertório, não conte com uma ou mais obras sobre o Natal, quer na edição nacional, quer internacional. Podemos encontrar clássicos da literatura adaptados aos mais jovens, livros que privilegiam um imaginário mais voltado para o Pai Natal e outros mais centrados no imaginário religioso, onde a figura central é o Menino Jesus, e também livros onde convivem ambos os imaginários; livros que problematizam questões sociais, livros cuja tónica é a família, e livros que nos dão a conhecer o Natal de outras paragens; livros em prosa e livros em poesia, e também livros-brinquedo… Também em relação a este tema, há livros para todos os gostos. Sendo o Natal uma época que privilegia os encontros e convívios familiares, e, no nosso país, um tempo que convida ao aconchego da casa e da lareira, a leitura em família, de livros que tematizam o Natal, pode revelar-se uma experiência ainda mais intensa e transformadora, como o provam os testemunhos que se seguem." 

(Barros, 2022).

Calendário de Leituras de Advento volta a ser distinguido com o selo Escola Amiga da Criança (5ª edição) na categoria Família.

É assim que abre a secção A magia do Natal nos Livros em  Crianças Leitoras Famílias Felizes. Uma secção em que partilhamos testemunhos reais de famílias normais, que nos ajudam a acreditar na bondade dos livros. 

Índice completo AQUI

Para nos ajudar a viver melhor esta época, recuperamos o nosso Calendário de Leituras de Advento, iniciativa que fez um enorme sucesso na época natalícia de 2020, e que mereceu a distinção Escola Amiga da Criança em 2021, na categoria Literacias, e em 2022, na categoria Família. Podem recordar algumas das belíssimas criações inspiradas neste Calendário na nossa salinha "Trabalhos".

Uma das "surpresas" do Calendário. Há mais AQUI.


Podemos encontrar neste Calendário 24 sugestões de leituras de Natal, acompanhadas por 60 propostas de atividadesdesde tricotar uma mantinha para o menino Jesus, passando por confecionar e beber uma chávena de chocolate quente com o Pai Natal, construir um postal para oferecer a um vizinho, fazer poemas ou abecedários de Natal ilustrados, fazer bolachinhas para oferecer de presente, cantar, recolher tradições das Janeiras, até descobrir como se diz avó em três línguas diferentes, o leque é muito diversificado e garante bons momentos, quer em família, quer noutros contextos, como o escolar, por exemplo.

Alguns dos livros de Natal, de autoria nacional, do nosso Calendário.

Para além das 24 sugestões que espreitam deste calendário de leituras de advento, podem encontrar AQUI, mais dois títulos, de que falamos no Natal de 2021.

Alguns livros de Natal, de autoria internacional.


Vamos aproveitar a magia do Natal dos livros para viver mais intensa e genuinamente esta época tão especial. 

Aqui fica, então, em jeito de visita guiada, o roteiro pelas 24 janelas do nosso Calendário de leituras de Avento:



Boas leituras e até já!

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Representações da Família em José Saramago

Comemoramos hoje o centenário do nobel da literatura português, um nome incontornável, cuja obra parece não conhecer fronteiras etárias.

Saramago, que apenas escreveu uma obra destinada ao público infantil, A maior flor do mundo (mais informação AQUI) encontra-se hoje presente num número crescente de publicações de potencial receção leitora infantil. 

A juntar ao Silêncio da Água, um trabalho com ilustrações de Manuel Estrada que recupera um excerto de As pequenas memórias, e ao Lagarto, com ilustrações de J. Borges, que tem como pano de fundo um fragmento de A bagagem do Viajante, 2022 trouxe a lume dois novos trabalhos.


Uma Luz inesperada, um excerto da obra já referida, A Bagagem do Viajante, com ilustrações de Armando Fonseca, e Jerónimo e Josefa, um trabalho da Tcharan, com ilustrações de João Fazenda, que tem por base o discurso que José Saramago proferiu aquando da receção do prémio nobel, em 1998. 

Apesar de encontrarmos já em A Maior Flor do Mundo e O Silêncio da Água, a par da convivência íntima com os elementos da natureza, a alusão à família, nestes dois novos trabalhos, este tema ganha particular expressão. 

Jerónimo Melrinho (o homem mais sábio do mundo) e Josefa Caixinha (a mulher que tinha pena de morrer porque o mundo era "tão bonito"), avós do autor, apresentam-se no trabalho da Tcharan, com o auxílio das belas ilustrações de João Fazenda, como modelos de afeto e mestres da vida.

Uma luz inesperada, pode quase ser lido como uma "sequela" de Jerónimo e Josefa, atendendo ao tema de fundo: a vida dos avós de Saramago e o seu principal meio de subsistência, a "criação dos bácoros", desta vez já "prontos" para serem vendidos na feira de Santarém, um percurso que o protagonista menino percorre com o tio, e que lhe vale o vislumbre de um luar que passará a guardar para sempre dentro de si.

Para assinalar esta data, e para que estes textos possam também ser degustados em ambiente familiar, preparamos um vídeo com a sua leitura (e mais uma de bónus).

(versão integral das obras apenas disponível para uso interno:
sala de aula e biblioteca escolar)


O que podemos fazer, em família, a partir destas leituras?

1. Conversar sobre o autor, ir na sua pegada e descobrir um pouco mais do seu percurso;
2. Visitar (virtualmente) alguns dos seus lugares: Azinhaga (Ribatejo), Lisboa, Estocolmo, Lanzarote...

3. Representar episódios da infância do autor, através de desenhos, colagens... (ou as suas "camas" ao relento presentes nestas obras);
4. Conversar sobre a infância e os avós do autor... comparar com outras realidades familiares (por exemplo com a nossa);
5. Fazer um painel de curiosidades sobre Saramago;
6. Construir um postal de aniversário para o nobel, inspirando-se nas ilustrações das últimas obras...


(Poderão encontrar mais ideias, na página da Biblioteca Escolar António Feijó, AQUI)

Desejamos a todos boas leituras e boas comemorações (e não se esqueçam de partilhar connosco as vossas criações, para inspirar outras famílias!)

Se gostam desta temáticas, espreitem também:

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Crianças Leitoras, Famílias Felizes: O LIVRO!

Chegou o momento de partilhar com o mundo um pouco do muito que estes 15 anos de trabalho no terreno, com famílias (e não só), me ensinaram.

Àqueles com quem tive o prazer de privar, e que comigo partilharam, tão generosamente, os testemunhos dos "pequenos milagres" que os livros iam operando no dia a dia da sua família, ao ponto de, em alguns casos terem, efetivamente, transformado vidas, estou imensamente grata.

Não podia, contudo, guardar estes "tesouros" só para mim. O mundo tem de saber, através das  histórias de vida de pessoas reais, de famílias normais, que a leitura, de facto, tem o poder de nos tornar MAIS FELIZES!


Foi assim que nasceu este livro, que reúne cerca de meia centena de testemunhos/histórias de vida onde o livro certo, no momento certo, teve um papel verdadeiramente importante, revelando-se a peça chave para uma conversa há muito adiada, para abordar um tema delicado, para despertar uma memória boa, ou  para gerar uma boa gargalhada, à luz de uma cumplicidade até aí desconhecida. 

São histórias de pessoas que se deixaram seduzir pela beleza da literatura para a infância (que, afinal, também descobrimos que é boa para adultos), e que a incorporaram nas suas rotinas familiares, que "deixaram de ler para adormecer, e que passaram a ler para acordar" (como testemunhou uma mãe). 

São histórias que mexem connosco. Algumas carregam humor, outras embalam saudade; algumas sossegam-nos, outras inquietam-nos; algumas revolvem-nos mesmo as entranhas... no entanto, todas elas têm uma coisa em comum: não nos deixam indiferentes (porque se há desejo que nos une enquanto pessoas, é o de sermos felizes!).


Foi criada uma "salinha nova" neste espaço para falarmos um pouco mais deste livro, que será apresentado na próxima sexta-feira, dia 28 de outubro. Poderão espreitar AQUI e desvendar um pouco mais sobre este trabalho.

Entretanto, venham daí! Espero encontrar-vos entre os presentes (e, quem sabe, não recebem também um presente?...)

Até já!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Sabemos (muito) pouco sobre literatura (infantil)

Se há ideia que vai tomando forma e ficando cada vez mais clara é esta: a literatura infantil não se destina apenas a crianças. Como refere João Manuel Ribeiro, a literatura infantil é a mais democrática de todas, pois pode ser lida por toda a gente. Na verdade, nunca a literatura infantil se destinou tanto aos ADULTOS.

Os sete livros mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?"

Chegados ao final de mais um ano letivo, é prática comum, com os alunos da licenciatura em Educação Básica, fazermos um balanço: O que levam desta Unidade Curricular? Que livro recomendariam a um adulto? são duas das questões que norteiam esta "tertúlia" de encerramento.

E foi num destes momentos que uma aluna referiu: "levo a consciência de que se sabe muito pouco de literatura infantil, principalmente em contexto de família".

Esta constatação tem lugar depois de um ano de contacto semanal com a produção literária para a infância, de análise, de reflexão, de partilha de ideias, emoções e descobertas, de experimentação do poder da literatura (infantil). Depois de um ano "transformador", como mencionou outra aluna, acrescentando "tenho pena de não ter conhecido estes livros mais cedo".

Dois dos textos mais referidos (Onde está a felicidade? O Amor o que é?)

Ora, que livros são esses que tanto mexem connosco? Trazemos aqui os sete títulos mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?" (primeira imagem).

Apenas uma breve análise aos títulos, permite-nos concluir que a Felicidade é algo que todos buscamos (está presente explicitamente em dois títulos), que o Amor, nas suas mais diversas formas, é o verdadeiro motor da vida, que os laços de Afeto são o nosso aconchego, que a Família é um porto seguro, e que o Humor é um ingrediente imprescindível para uma vida feliz! 

São muitos os alunos que referem o texto Onde está a felicidade?, de Álvaro Magalhães, como "história que todos os adultos deviam conhecer", um conto que integra a coletânea O Senhor do seu Nariz, e do qual já falamos AQUI, quando inauguramos a nossa rubrica Livros para uma Pedagogia da Felicidade. Este é, sem dúvida, um conto que não deixa ninguém indiferente, pois todos nos conseguimos rever na história do Sr. Pascoal. Do mesmo modo que facilmente nos identificamos com as diferentes personagens que povoam o Vendedor de Felicidade, um livro de David Cali e Marco Somá, que apresentamos AQUI, numa seleção de obras de 2021 sobre esta temática. 

 

Pormenores do miolo de O amor o que é? 

O amor o que é?, de José Jorge Letria e Catarina França, é também das obras mais aconselhadas a adultos, pelo facto de nos mostrar o AMOR nas suas diferentes vertentes e manifestações, sendo um livro que nos faz "olhar para coisas a que habitualmente não prestamos atenção, mas que fazem muita diferença na nossa vida", como referiu uma aluna. Na imagem acima, podemos conhecer um bocadinho desta maravilhosa poética do amor.

Capa e pormenor do miolo de A Árvore Generosa

O incontornável clássico de Shell Silverstein, A Árvore Generosa, é, ano após ano, um dos títulos que se repete nesta lista de "livros recomendados a adultos". Efetivamente, esta obra acompanha-nos desde o início da nossa caminhada nesta missão de promoção da leitura em família, tendo integrado o corpus do projeto Lê para mim que depois eu conto...2, e o Programa de Educação Literária na Família, ELF2 (Uma partilha entre mil-folhas).

Num momento em que proliferam edições de "emocionários" (a este propósito aconselhamos a leitura deste texto de Ana Garralón), A Árvore Generosa constitui o exemplo perfeito para apresentar a Literatura como o melhor "laboratório de emoções", um livro que nos "revolve as entranhas", pelo facto de não deixar ninguém indiferente. 

Trata-se de uma obra de múltiplas leituras, geradora de questões que passam, por exemplo, pela nossa relação connosco próprios, com o Outro e com o Planeta, pela busca do nosso lugar no mundo, pela impermanência, pela fugacidade da vida (e o que fazemos com ela). É (também) um livro sobre partidas e regressos, sobre silêncios e ruídos, enfim... sobre a VIDA no seu todo. É, sem dúvida, um livro de "leitura obrigatória" para adultos.

Pormenores do miolo de A Árvore Generosa

Livros que abordam as representações da família, nomeadamente os que versam sobre a relação avós-netos, encontram-se, igualmente, entre as recomendações destes estudantes. A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina e O Rosto da Avó, de Simona Ciraolo, obras de que falamos AQUI, foram os títulos mais recomendados. 

A Manta do José, não apenas pela estreita relação entre um avô e o seu neto, mas também pela relação que estabelecemos com "as coisas", o valor emocional dos objetos, a sua ressignificação, enfim, esta obra encerra uma subliminar mensagem atual e urgente, que se destina a todos nós, que vivemos num mundo consumista, marcado pela moda do "descartável".

O Rosto da Avó é um hino à memória, um original convite para conhecer a história dos nossos avós (a quem, muitas vezes, não "atribuímos" uma infância e uma juventude). É uma obra surpreendente, marcada também por um interessante diálogo entre texto e ilustração.

O Nabo Gigante: capa.

O Nabo Gigante, de Alexis Tolstoi e Niam Sharkey, integra a lista de recomendações sobretudo pelos fatores envolvimento e humor. Esta obra foi apresentada a estes estudantes como exemplo de narrativa de estrutura cumulativa, e das potencialidades de que este tipo de texto se reveste, por exemplo, na interação com o "público." Este género de narrativa gera, efetivamente, um grande envolvimento do(s) leitor(es) ou ouvinte(s), resultando em momentos muito agradáveis e bem dispostos, prova de que "ninguém resiste a uma boa história (bem contada)". Estes alunos recordarão, certamente, a aula em que toda a turma deu consigo a arrancar nabos da sala de aula:) 

Pelo muito que há a dizer em relação às narrativas de estrutura cumulativa, é um assunto a que regressaremos numa próxima vez. 

Pormenor do miolo de O Nabo Gigante

Poderíamos juntar mais alguns livros a esta seleção, pois os temas difíceis na literatura (como a guerra e a morte) assim como outros livros perguntadores (de que já falamos AQUI), também foram referidos. Escolhemos, contudo, os que mais vezes foram mencionados, num universo de 50 alunos, pois parece-nos que são um bom exemplo do poder transformador que a literatura (infantil) pode ter em cada um de nós. 

Na verdade, concordamos com a aluna que disse sabermos muito puco sobre literatura infantil. E é, efetivamente, pelo facto de ao longo da nossa prática de mediação, virmos constatando que a falta de hábitos de leitura, quer em família, quer noutros contextos, se deve principalmente ao desconhecimento de bons livros de literatura infantil, que assumimos como missão a disseminação desse conhecimento, tornando-o acessível a todos. [LMB]

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Feriados em família: é nacional e é muito bom!

Há um ano, neste dia, lançávamos na nossa página de facebook alguns desafios para festejar o dia de Portugal em família, ideia experimentada no âmbito do Programa ELF, e com provas de grande sucesso.

Hoje é um bom dia para recordar o belíssimo abecedário que a família Malheiro Costa elaborou, e que pode constituir um belo convite a percorrer o nosso país de A a Z!


Este original abecedário também pode servir de inspiração para outros, pois os muitos cantinhos do nosso país dão, certamente, para compor MUITOS e variados abecedários. Que tal um abecedário Portugal 2022, dando conta do "estado da arte" no nosso país? Ou de um abecedário temático, a partir de produtos gastronómicos, de festas e romarias, de santos padroeiros, de fauna e flora nacionais, de apelidos, de alcunhas...

 Enfim... a lista é mesmo infindável. Vamos a isso?

Poderão encontrar mais ideias, e também uma sugestão de leitura, AQUI.

Outros livros que convidam a percorrer o país e o mundo, AQUI.

E um conjunto de Abecedários Literários AQUI.

domingo, 20 de março de 2022

Porque hoje é o dia internacional da Felicidade

Quem nos segue bem sabe o quanto acreditamos numa Pedagogia da Felicidade, e o quanto cremos no poder dos livros para nos fazer felizes.
Não podíamos, pois, deixar passar esta emblemática data, o DIA INTERNACIONAL DA FELICIDADE, criada em 2013 e inspirada pelo Reino do Butão. 

Para assinalar este dia escolhemos Rio Acima, um belíssimo trabalho de Vanina Starkoff, editado pela Orpheu Negro.


Rio acima é um convite a deter o olhar no caminho, sem perder de vista o sonho. É um hino à alegria, à convivência humana, à paz e à entreajuda. É uma viagem pelas quatro estações, do ano e da vida, que se repete num ciclo sem fim. 


Rio acima recorda-nos o que verdadeiramente importa, acordando em cada um de nós o seu lado mais humano, mais sensível, aquele lado que nos faz iguais, navegantes do mesmo rio e tripulantes do mesmo barco, e nos ensina a vermo-nos no Outro.


Deixamos aqui o texto que vai preenchendo as belíssimas páginas desta obra, e que parece dirigir-se, particularmente, a cada leitor. Sabemos que a cada um levará uma mensagem especial, segredando-a ao mais íntimo do nosso ser. 

Rio Acima

Rio acima todos vão…

de barco, batel ou canoa.

vais ter de navegar

à tua maneira

e ao teu ritmo…

mas deixa-te levar

primaveras

verões

outonos e invernos

todos vais atravessar.

e mesmo rio acima o desejo é chegar ao mar

até o vento a favor te vai acompanhar.

rio acima ou mar adentro, vais acabar por encontrar…

a tua maneira e o teu ritmo…

se não deixares de sonhar.

(Vanina Starkoff)


Se quiserem conhecer a nossa seleção Para uma Pedagogia da Felicidade, espreitem:

Outra mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade

Especial Dia Internacional do Livro Infantil 2021

A todos desejamos que sejam (MUITO) felizes: com livros é muito mais fácil!

 [LMB]

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Representações do Inverno na Literatura Infantojuvenil: dos clássicos ao livro-objeto

Passada a Candelária, festa em honra da Senhora das Candeias, que se festeja a 2 de fevereiro, e que tem nas suas origens a comemoração do fim dos dias curtos e a consequente celebração da Luz, começamos já a vislumbrar o fim do longo inverno. E foi precisamente o comum uso desta expressão - longo inverno - que nos levou a ir em busca das representações que esta estação assume na literatura infantojuvenil. Dos clássicos ao livro-objeto, selecionamos um conjunto de dez livros, que nos mostram diferentes olhares sobre esta estação.

Seleção de obras "Representações do Inverno na LIJ"

Na maioria das obras que percorremos, o inverno aparece, inevitavelmente, associado ao frio, à neve, à chuva, ora desencadeando desconforto e dificultando a vida das personagens, ora transformando-se em oportunidade de crescimento, podendo também dar lugar a belos hinos, e deixando antever (quase sempre) a esperança, simbolizada pela promessa da primavera. 

Capa e pormenores do miolo de Uma História de Inverno, de Beatrix Potter

Beatrix Potter, a autora britânica das aventuras do incontornável Pedrito Coelho, um clássico da literatura infantil, decide, nesta história, que se apresenta num álbum de grande formato com belíssimas ilustrações, dar o protagonismo a dois vilões: o Texugo Frederico Fedorento e a Senhora Raposa Matreira, pois como a própria autora revelou:

"Já criei muitos livros sobre pessoas bem comportadas. Agora, para variar, vou contar-vos uma história sobre duas pessoas desagradáveis, o Texugo Frederico Fedorento e a Senhora Raposa Matreira."

É, pois, num cenário de neve, em plena floresta que os coelhos Pedrito e Casimiro se vão ver envolvidos numa missão de resgate dos filhotes da Rata Migalha, uma missão bem sucedida, como acontece nas narrativas desta autora, que, com alguma surpresa, desemboca no recolher dos vilões ao aconchego do lar. Um livro esteticamente muito interessante, que poderá também contribuir para familiarizar os mais novos com o universo de Beatrix Potter.

Capa e pormenor do miolo de As luvas do Capuchinho,
de Inés Almagro & Mikel Mardones

Cenário de neve e floresta tem também esta original reescrita do Capuchinho Vermelho, motivo que é causa de enorme estranheza, não apenas para o leitor, habituado a uma menina que corre e apanha as flores da primavera para levar à avó, como  para a própria protagonista, que diz:

"- que estranho! disse o Capuchinho enquanto enfiava o gorro na cabeça. - na minha história nunca neva!"

Por causa da neve, a menina não pode apanhar flores, não encontrou a árvore do lobo, e ainda perdeu o cesto com a merenda para a avó, ingredientes essenciais à história. No entanto, havia uma boa explicação para o que estava a acontecer, como descobriu Capuchinho, quando chegou à casa da avó e espreitou pela janela... 

Uma história que terá um encanto ainda maior, se acompanhada de uma chávena de chocolate quente.

(esta obra integrou a nossa seleção em Como tomar conta de um Capuchinho Vermelho)

Capa e pormenores do miolo de A casa da janela azul, de António Mota e Sebastião Peixoto

Esta obra faz parte da trilogia protagonizada pelos irmãos Fabi e Bitó, dois coelhos que descobrem o mundo e as suas leis, os seus ritmos e os seus ciclos, dos quais também faz parte a longa estação e os seus reveses. 

A paisagem desta história é visitada por ventos, chuvas, trovoadas e um enorme manto de neve que torna difícil a tarefa de arranjar comida. Mas desta paisagem fazem igualmente parte os passarinhos (sim, porque no inverno também há passarinhos), encontros com personagens peculiares como a Dona Cabrela, e improváveis amizades, como a de Niki, a pequena poltra, e os nossos coelhos. Um surpreendente e ternurento encontro encerra esta narrativa de aprendizagem do mundo.  

Falamos dos outros títulos desta seleção, a propósito das representações da MãeAQUI, e das representações do verão, AQUI, que têm como cenário a primavera e o verão, respetivamente. (estamos, pois, a aguardar um livrinho cor de outono para completar a coleção).

Capa e pormenores do miolo de Abrigo, de Céline Claire e Qin Leng

Esta obra, a mais recente da nossa seleção de inverno, que chegou até nós no final de 2021, partilha com as obras anteriores a paisagem e as agruras das intempéries da longa estação, mas presenteia-nos com uma belíssima história de altruísmo. 

Na floresta, depois de ouvido o anúncio da aproximação da tempestade, as várias famílias de animais recolhem às suas casas, providenciando comida e lenha. Um pequeno raposo questiona-se "E se houver alguém lá fora?" À medida que a tempestade avança, avançam também duas sombras, que vão pedindo, à porta de cada casa, e em troca de um pouco de chá, um pouco de lume, de aconchego ou alguns biscoitos, recebendo sempre a mesma resposta "Vão ver na porta ao lado". Só o pequeno raposo sai e oferece aos dois viajantes a sua lanterna. 

Pormenores do miolo de Abrigo, de Céline Claire e Qin Leng

Afinal, será a neve a salvar os dois estranhos e a luz oferecida a guiar a família das raposas, quando a sua casa desaba sob a tempestade. Uma história sobre o poder da bondade, que nos ensina que "o outro sou eu".

Capa e pormenores do miolo de Rosa Branca, de Christophe Gallaz e Roberto Innocenti

Esta obra, que tem como pano de fundo a segunda guerra mundial, e como tema central o holocausto, é um bom exemplo no que toca à carga simbólica associada ao inverno, como tempo longo e duro. 

Rosa Branca começa a contar a sua história, uma história vulgar, que poderia ser a de qualquer um de nós. Um dia chegam carros e camiões de soldados que invadem as ruas: "O inverno estava a começar", podemos ler no final do texto da primeira página (imagem acima). A narrativa avança com a descoberta de um campo de crianças no meio da floresta, a quem Rosa Branca passou a levar comida. Até ao dia em que na floresta já não havia crianças, e "se ouviu um disparo", o que deixou a mãe de Rosa Branca muito tempo à espera da sua menina...  

O realismo e o pormenor das ilustrações de Roberto Innocenti em muito contribuem para o poder que este belíssimo livro exerce sobre o leitor. Atente-se, por exemplo, nas imagens que reproduzimos acima (do lado direito), e que representam a mesma paisagem em momentos diferentes da narrativa. A paisagem verde, que encerra a obra, e que corresponde ao momento do fim da guerra, faz-se acompanhar do texto "A primavera estava a chegar".

Poemas O Inverno, de Eugénio de Andrade
 e Loas à Chuva e ao Vento, de Matilde Rosa Araújo

Mas o inverno também vive na poesia, tendo até inspirado belos textos, que ora se apresentam como hinos à Natureza, como acontece com as conhecidas Loas à Chuva e ao Vento, de Matilde Rosa Araújo, ora como composições mais humorísticas, como podemos ver no poema de Eugénio de Andrade, O Inverno. Ambos os poemas se encontram na imagem acima. São textos marcados pela melodia, pelo ritmo, e por uma forte componente sensorial, que nos faz experimentar as várias facetas desta estação menos amada.

Poemas Previsão de Tempo e Edital para a Hibernação,
de Manuela Monteiro e Catarina Correia Marques

Já nosso conhecido é este livro que, à boleia da poesia, nos faz viajar pelas quatro estações. Falamos dele AQUI e AQUI, a propósito da primavera; AQUI, integrando a nossa seleção de verão, e AQUI, para celebrar o outono.

Para esta seleção de inverno, escolhemos Previsão do tempo, um poema bem disposto, que transforma o pequeno leitor num super-herói a quem o inverno, e as "suas tropas", não assustam; e Edital para a Hibernação, um texto a que não falta, nem o humor, nem a esperança, como acontece, com alguma frequência, nas obras que têm como tema de fundo as Estações do Ano (podemos ver alguns exemplos AQUI). Os dois poemas podem ser lidos na imagem acima. 

Capa e pormenores do miolo de La Noisette, de Ane-Florene Lemasson e Dominique Ehrhard

La Noisette é um ternurento pop-up em língua francesa, que acompanha as aventuras de uma avelã que escapa às provisões do esquilo, e, que, apanhada desprevenida pelo inverno, acaba debaixo de um espesso manto de neve, a salvo de pássaros e ratos do campo. A esta pequena avelã, e também ao leitor, está reservada uma surpresa... que apenas se revelará na primavera.

Este é um livro que se serve da complexa engenharia do papel, que dá origem a cenários lindíssimos, que apetece explorar, para colocar o leitor em sintonia com a generosidade da mãe Terra, com o milagre do nascimento, e com a grandeza que escondem as pequenas coisas.

Degelo, de André Letria

A encerrar a nossa seleção, e na onda da materialidade do livro, deixamos esta sugestão de livro concertina, da autoria de André Letria, Degelo. Um livro que pode ter tantas leituras quantos leitores, que traz mais questões do que respostas, um livro de leituras múltiplas, portanto. A única coisa que, sem correr riscos de interpretações dúbias podemos dizer, é que é muito mais do que um livro sobre o inverno...

A todos desejamos uma estação quentinha, longa em bons momentos partilhados... e, se for com um livro de permeio, verão que a primavera se fará anunciar mais cedo.

[LMB]



domingo, 2 de janeiro de 2022

De 2021 mais uma mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade (e um de bónus porque é Ano Novo)

Se há um ano encerrávamos 2020 com Amor, um ano volvido, continuamos de alma cheia e coração transbordante de gratidão.

2021 pode não ter sido o ano que idealizamos, mas foi um ano FELIZ, pois muitas coisas boas aconteceram por aqui.

Em 2021, convidamos a Lua, fizemos saltar Gatos das estantes, acordamos a Primavera, apoiamos a Seleção Nacional, aprendemos a tomar conta de um Capuchinho Vermelho, visitamos os avós e homenageamos as crianças. Montamos uma fábrica de histórias, criamos uma nova valência ELF, Livros e Literacia Familiar, para podermos chegar junto de mais famílias. Voltamos a ser distinguidos pela Escola Amiga da Criança, festejamos o Natal com (novos) livros e inauguramos uma rubrica nova: Livros para uma Pedagogia da Felicidade

E é neste registo que damos as boas-vindas a 2022, com uma novíssima mão cheia de livros, que ao longo de 2021 chegaram ao nosso país, confirmando que a Leitura pode, efetivamente, ser um importante contributo para a nossa Felicidade.

O Vendedor de Felicidade: pormenores do miolo e das guardas.

Em que consiste afinal a felicidade? Será que a podemos comprar?
O Vendedor de Felicidade foi o último livro a dar entrada na nossa biblioteca em 2021. Da autoria de Davide Cali e Marco Somà, e editada em Portugal pela Nuvem de Letras, esta obra é um deleite para os olhos e um bálsamo para a alma. É um livro perguntador e inquietante, que nos convida a encontrar possíveis respostas para estas questões.
Ao longo das páginas de grande formato, acompanhamos a viagem do Senhor Pombo enquanto distribui os seus frascos de felicidade (de vários tamanhos, conforme as necessidades, a carteira e as crenças) e vamo-nos revendo numa ou noutra faceta deste ou daquele cliente... há os que compram felicidade para oferecer aos convidados, aos netos porque "coitadinhos já têm tudo", aos amigos... há os que não compram porque acreditam que não a merecem... e há a família Rato que encontra o frasco que o Senhor Pombo deixou cair...  
Talvez a felicidade comece, afinal, por descobrir o que nos faz felizes.

Era uma vez (e muitas outras serão): pormenores do miolo.

Do Planeta Tangerina chegou-nos, também em 2021, esta pequena grande maravilha: Era uma vez (e muitas outras serão) de Johanna Sehaible. Trata-se de mais um livro perguntador, que nos oferece uma visão panorâmica do nosso lugar no universo (no espaço e no tempo), ao mesmo tempo que nos implica enquanto coconstrutores da nossa realidade e do legado que preparamos. 
As relações que construímos, os planos que fazemos e os sonhos que sonhamos apresentam-se, neste trabalho, como peças chave da construção da felicidade.

O destino de Fausto: pormenores do miolo e de alguns peritextos.

O Destino de Fausto, de Oliver Jeffers, que chegou também ao nosso país em 2021, pela Orfeu Negro, é um excelente complemento à obra anterior. Este livro, que pode ser lido como uma metáfora da ambição exagerada, tem o condão de nos recordar a nossa pequenez face à grandiosidade do Todo.
É um convite a descobrirmos o "Fausto" que há em nós, e a (re)educá-lo para o respeito e para o amor. 
Como podemos ler num dos peritextos da obra, ter "a noção de que temos o suficiente" (imagem acima) pode ser o segredo para uma vida de plenitude.

O mundo cá dentro: capa e pormenores do miolo.

O Mundo cá dentro, de Deborah Underwood e Cindy Derby e A Árvore em Mim, de Corinna Luyken, editados também em 2021, pela Orfeu Negro e pela Fábula, respetivamente, convidam-nos a (re)descobrir e a percorrer os caminhos do Belo, do Simples e a educar os sentidos para o Deslumbramento.
Uma espécie de "back to the essence" emerge destes dois trabalhos, que apresentam, como pano de fundo, uma profunda comunhão com a Natureza.

Atual e pertinente, e quase contendo uma espécie de grito de alerta, O Mundo cá dentro vai guiando o olhar do pequeno leitor para a origem do que o rodeia, implicando-o na descoberta do percurso "com clarões à janela e truques de magia" (...), pois "o mundo canta"... "o mundo tem cheiros"... "o mundo conforta-nos"... "o mundo segura-nos"... e até sente a nossa falta (Underwood & Derby).

A Árvore em Mim: pormenores do miolo e contracapa.

A Árvore em Mim é também um hino à Alegria de Viver, que passa pela descoberta de Pertencer: pertencer a algo Maior, unido por raízes e por ramos, pelo sol e pela chuva. Uma espécie de analogia da Natureza com os nossos estados de alma e com o percurso que é a Vida de todos nós e de cada um de nós. Descobrirmo-nos no Outro, aceitar tanto a noite como o dia, e rejubilar com as maravilhas das pequenas coisas são, certamente, ingredientes essenciais à felicidade.

Enciclopédia dos Verbos Felizes: capa e pormenores do miolo.

E a juntar a esta novíssima mão cheia de livros para uma Pedagogia da Felicidade, porque é Ano Novo, aqui fica o livro bónus: Enciclopédia dos Verbos Felizes, do nosso amigo Marco Taylor. Este trabalho, que veio a lume em 2020,  pode ser lido como um manual de instruções para sorrir genuinamente, degustado como um conjunto de coisas que nos fazem bem, e sentido como um verdadeiro livro aconchego.
Fiel à sua genuinidade, o autor oferece-nos, através desta obra, um pouco de si, não apenas da sua experiência de vida (que, sabemos, contém a prática destes verbos), mas também da sua dedicação ao leitor, transformando cada livro numa peça (de arte) única e especial. 
Saborear a vida, enquanto apreciamos a arte, talvez nos revele alguns dos segredos da Arte de Viver.


A todos os nossos amigos, leitores e visitantes desejamos um Feliz Ano Novo!
Felizes leituras e... até já!


P.S. Mais Livros para uma Pedagogia da Felicidade poderão ser encontrados AQUI e AQUI.