quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Calendário de Leituras de Advento | Dia 10

Fomos ao baú e descobrimos uma relíquia para a janelinha 10! 

Um livrinho de Maria Cecília Correia, ilustrado por Maria Keil, datado de 1953, que reúne um conjunto de dez textos, entre os quais algumas histórias perpassadas pelo Natal. Falamos da obra Histórias da minha rua.


Neste livrinho convivem lado a lado a alegria e a tristeza, a riqueza e a pobreza, o interior e o exterior, o campo e o mar... que ganham voz ora através de uma criança, ora de uma flor, ora do vento... 
Esta obra, aparentemente tão simples, está à espera de um leitor que oiça e que preencha os muitos silêncios que a compõem. Pela mão dos diferentes habitantes de uma rua, que podia ser a nossa, e travando conhecimento com os diversos episódios que marcam o seu quotidiano, passamos a fazer parte das suas vidas (enquanto, sorrateiramente, eles também passam a fazer parte das nossas).

Dos dez textos que compõem este livrinho, três deles versam sobre o Natal: "História do Chico e da Angelina"; "História feita por uma Menina"; e "História do Natal para os teus 3 anos".

O primeiro texto (imagem acima) evidencia a pobreza extrema de um casal: O Chico e a Angelina:

"Viviam numa barraca muito velha, no meio de outras barracas velhas, lá para o outro lado do rio. Todos ali eram pobres, todos berravam uns com os outros, mas todos eram amigos e se ajudavam, até a preta Rosa que viera de África há muitos anos e tinha já dois mulatinhos crescidos. Ainda havia na barraca do Chico um cão: o Piloto, por quem o Chico fora um dia parar à cadeia por não ter licença para ter o cão."

Esta pequena narrativa atinge o seu ponto alto, quando, numa das idas de Chico e Angelina a uma das casas da rua, em véspera de Natal para venderem couves, entraram para ver o Presépio:

"Ficaram assim em frente ao Presépio e o Menino Jesus gostou deles, do cabelo rapado do Chico, da sua voz de trovão e mais do carrapito apertado da Angelina. E eles gostaram também do Menino Jesus, das velas vermelhas, da lamparina e tanto acharam que tudo estava como nas igrejas que tiraram do bolso dois tostões para porem na bandeja da lamparina. Nós dissemos que levassem as moedas, que não era preciso dinheiro para cera, mas eles não quiseram ouvir nada disso. Disseram só que este Menino Jesus merecia tanto como os outros das igrejas e deixaram ficar o dinheiro."


A "História feita por uma Menina" apresenta o olhar de uma criança (moradora da mesma rua, a "Cilinha") sobre a história de amor de Chico e Angelina. Tudo acontece porque "um dia o Chico adoeceu e nesse Natal já não foi ele que trouxe o pinheiro. Só a Angelina trouxe urzes e mais flores da mata onde eles viviam. Depois o Chico morreu lá na sua barraca (...)" (imagem acima)



O último texto, e o único que é explicitamente sobre o Natal, é, como o próprio título indicia, uma narrativa muito simples, que tem como destinatário a criança de tenra idade: "História do Natal para os teus 3 anos" (imagem acima). Não resistimos a partilhar um excerto que nos parece ter alguma semelhança com "O Cavalinho de Pau do Menino Jesus", conto que espreitou da nossa janelinha 8.

"Os Pastores traziam ovelhinas e flores apanhadas nos campos e os Reis, que eram muito ricos, traziam colares, anéis, dinheiros. O Menino Jesus gostou mais dos cabritinhos e das flores. (...)"

E, para além da leitura, o que sugerimos?

1. Quem mora na minha rua? (Ou no meu bairro, ou no meu lugar? Ou na minha aldeia). Propomos uma conversa sobre aqueles que vivem mais perto de nós. Conhecêmo-los? Sabemos das suas alegrias e tristezas? Precisam de nós?

2. Uma surpresa para um vizinho: no seguimento da reflexão anterior, sugerimos surpreender um vizinho nesta época. Poderá ser com a oferta de um boião de bolachinhas de Natal confecionadas por nós (podem inspirar-se na receita da Juliana: AQUI); ou de um postal feito por nós, de um enfeite para a árvore, de um poema... etc. (E depois dediquem-se um bocadinho a saborear a sensação boa com que ficaram).

Boas leituras e até ao dia 11!



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