À nossa janela de hoje estão os Desejos de Natal, uma obra de Luísa Ducla Soares, ilustrada por Ricardo Rodrigues, que reúne três contos de Natal. A autora, que já marcou presença no nosso calendário, na janela 5, faz transparecer nos seus textos uma enorme sensibilidade para questões tão delicadas como as desigualdades sociais, a pobreza, a violência, num constante convite a um olhar sobre o Outro. Trata-se, sem dúvida, de um dos nomes maiores no que ao tratamento das questões da Alteridade na Literatura Infantil, em Portugal, diz respeito.
Protagonizados por crianças de origens diferentes, a viver no nosso país, os três textos aqui apresentados dão a conhecer as vidas difíceis que marcam muitas infâncias.
Escolhemos o conto "A Carta para o Pai Natal", que conta a história do Zeca, um menino que vive numa barraca, e que não sabia se havia ou não de acreditar no Pai Natal. Começa assim:
(Da realidade apresentada neste excerto ecoa a voz de Maria Isabel César Anjo, que no seu livrinho O Inverno é o tempo já velho, refere que "O Inverno é o tempo do Natal do Menino Jesus e dos presentes para os meninos ricos".)
O Zeca, contudo, porque é uma criança e carrega sonhos, não perde a esperança e, à semelhança dos colegas da escola, decide também ele escrever ao Pai Natal (imagem abaixo).
Mas parece que o Pai Natal continua distraído, pois os pedidos do Zeca, por pequenos que sejam, não são atendidos... mas ele não desiste, e escreve-lhe uma terceira vez (imagem abaixo).
E o Zeca acordou esperançoso, mas...
"Mas o presente? Nada!
Furioso, o Zeca saiu de casa. Tinha de espairecer. Apetecia-lhe correr até gastar toda a raiva que sentia. Desceu do morro até à rua em frente do centro comercial.
Quem havia ele de encontrar então? Calculem só... O Pai Natal!"
E é neste momento que Zeca decide pedir esclarecimentos sobre o facto de nunca receber presentes, e que decide também acusar o Pai Natal de só ligar a quem tem dinheiro. E é também neste momento que, surpreendentemente, o Pai Natal decide oferecer ao Zeca algo que nunca tinha oferecido a ninguém.
"- Tempo! - explicou ele. Nunca passei a noite de Natal com uma criança e hoje vou passá-la contigo.
Desde que os pais tinham morrido, Zeca ficava sempre de noite sozinho. E grande parte do dia, também. O tio tratava dele como podia mas tinha de trabalhar, saía com os amigos, com as namoradas."
E o Zeca, depois de aconchegado com "uma sandes de carne assada, uma grande fatia de bolo rei e uma chávena de chocolate quente" (ceia que estava a ser distribuída na Avenida, por duas carrinhas) recebe o melhor presente de Natal: a companhia do próprio Pai Natal que lhe conta a sua história, desde o tempo em que se chamava Nicolau (é que desde a morte dos pais, nunca mais ninguém tinha contado histórias ao Zeca).
E é também nessa noite que Zeca decide o que quer ser quando for grande...
Neste livro podemos encontrar ainda os contos "O Carro Vermelho" e "Na Cova da Moura" (imagem acima).
E, para além da leitura, o que sugerimos?
1. Dar uma volta aos brinquedos (ou à roupa) e separar um para oferecer a quem mais precisa. Terás, certamente, algum brinquedo que te deram quando eras mais pequenino e que agora não uses tanto, que podes oferecer. Nesta época há várias campanhas solidárias que podemos apoiar.
2. Chocolate quente (que delícia!). Experimenta uma receita de chocolate quente (pode ser alguma que uses ou podes procurar uma nova). Serve-o em canecas bonitas e saboreia-o, com a tua família, junto à árvore de Natal, ou junto à lareira. (Partilha connosco a tua caneca de chocolate quente, enviando-nos uma fotografia. Também gostamos de conhecer receitas novas! Ah! Dica extra: para acompanhar o chocolate, podes experimentar as bolachinhas da Juliana).
Boas leituras e até ao dia 13!
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