O trabalho de quase duas décadas em torno da promoção da leitura em ambiente familiar confirma-o: a Literatura Infantil (também) é para adultos.
A transformação pessoal e familiar permeada por estes livros que, edição após edição, vemos acontecer nos diferentes projetos de leitura em ambiente familiar, de que é exemplo o programa ELF, especialmente vocacionado para a Educação Literária na Família, levou-nos a ousar uma nova experiência: levar o programa ELF para o ambiente empresarial, o local de trabalho das famílias.
Aconteceu nos últimos meses de 2024, numa parceria entre a ESE-IPVC e a PAINHAS S.A., envolvendo um grupo de seis participantes, pais de crianças entre os seis meses e os nove anos de idade, orientado por dois docentes, e com a colaboração de duas alunas finalistas do curso de licenciatura em Educação Básica.
O programa ELF adaptou-se ao contexto empresarial, em termos de horário e número de livros a abordar, mantendo, contudo, a sua génese e características: um grupo de pais, um conjunto de livros representativo das principais tendências da atual publicação literária para a infância, um conjunto de seis sessões, de periodicidade semanal, integrando componente formativa, experiencial e de partilha; e uma tertúlia final aberta ao público (neste caso, aos colaboradores da empresa).
O corpus: a literatura infantil que também conversa com os adultos
Atendendo ao facto de dispormos de menos tempo para cada sessão, reduzimos o número de livros a abordar em cada semana. Ao nível dos temas, a nossa escolha recaiu sobre as representações da literatura da tradição popular, representações da família e representações do ambiente. Privilegiamos livros indutores de questionamento, diferentes intencionalidades discursivas e diferentes materialidades, não esquecendo a representatividade autoral e editorial.
Assim, depois de uma espécie de sessão zero, em que trabalhamos a
importância da criação de ambientes de leitura, auxiliados pelo
Vendedor de Felicidade, de David Cali e Marco Somà, seguimos para
o lugar da tradição e a recuperação da infância, com
Espreita pela Janela, de Katerina Gorelik, e
Destrava-lengas, de Luísa Ducla Soares e Helder Peleja;
Aqui estamos nós, de Oliver Jeffers, e
a Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, deram corpo a uma interessante sessão sobre
a família nos livros e os livros na família;
Herberto, de Lara Hawthorne,
Era uma vez e muitas outras serão, de Johanna Sehaible, e
Uma quinta, de Alex Noguès e Alba Azaola, foram o mote para
aguçar o olhar sobre o Outro e sobre o mundo.
Natal com a tia Josefina, de Michael Engler e Martina Matos, foi a leitura de despedida, na tertúlia de encerramento.

Os resultados
Os aspetos mais valorizados pelos participantes foram o conhecimento de livros, o conhecimento e experimentação de estratégias (simples) de abordagem aos livrso, como a análise de peritextos e a apreciação da ilustração, e a partilha de experiências entre particpantes e dinamizadores.
"A nossa relação com os livros mudou para sempre. Não há como voltar atrás"
Estas famílias destacaram o impacto do projeto a nível familiar, referindo, entre outros aspetos, o aumento do tempo de qualidade, das conversas e dos assuntos para conversar em família, a diminuição do tempo de ecrãs recreativos dos vários elementos da família, e uma nova forma de ler "sem a pressão das perguntas".
Ao nível empresarial referiram uma maior proximidade e empatia entre colegas, o aumento da curiosidade em torno dos livros e da leitura, e até a descoberta de novas facetas nos colegas, aspetos que convergem para um maior bem-estar geral no trabalho.
Work in Progress
Temos muito em que pensar. Não podemos parar!
Queremos espalhar a mensagem e engrossar esta corrente do bem.
Criar uma bolsa de voluntários para disseminar o projeto é uma das nossas próximas ações. Se também acreditam na bondade dos livros e no poder transformador da leitura literária, entrem em contacto connosco.Até já!
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