Celebrar o outono pode ser um caminho de descoberta da beleza, um caminho de gratidão à Natureza, e uma oportunidade para refletir sobre o lugar de cada um de nós nesta Casa comum.
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Representações do outono na Literatura para a Infância (e não só).
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Tornou-se habitual a expressão "agora já não há quatro estações" (o que não deixa conter alguma verdade, sobretudo devido às alterações climáticas).
No entanto, ainda é
possível encontrar características específicas de cada uma das quatro estações,
e parece-nos que também será possível, de algum modo, reverter esta situação
(recordemos os meses de confinamento, quando o mundo parou e a natureza se
revelou – imagens de cidades sem fumo, de espécies animais que regressaram,
etc, inundaram os noticiários e as redes socias).
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Há um conjunto considerável de obras que têm por base a temática das estações do ano. Falamos de algumas, a propósito das representações do verão na LIJ, AQUI. Na imagem, podemos ver representações do outono em A Árvore, de Iela Mari, O outono é o tempo a envelhecer, de Mª Isabel César Anjo e Mª Keil, um livrinho que integra Estações do Ano, de que falamos AQUI, e Começa numa Semente, de Webber Knowles, obra a que já nos referimos a propósito das comemorações do dia da Terra, AQUI. |
As representações do ambiente na literatura para a infância apontam, hoje, para uma visão mais
ecocêntrica do mundo, em detrimento da visão antropocêntrica, que durante muito
tempo prevaleceu. Estas obras podem ser um caminho para aguçar o olhar para o Belo, para a riqueza e
diversidade da Natureza.
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Representação do outono, num belíssimo pop-up (em inglês) que faz o pequeno leitor participar das descobertas que se revelam a cada nova estação. Seasons, de Anna Milbourn e Alexandra Badiu.
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Trazemos, neste sentido, um conjunto de sugestões literárias (e não só) para celebrar o outono. Obras que nos convidam a (re)descobrir a essência, a abrandar, a aprender que tudo tem o seu ritmo e o seu tempo.
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Pormenores das obras Seasons, de Anna Milbourn e Alexandra Badiu e As quatro Estações de António José Abad Varela e Emílio Urberuaga. |
Conhecer
para amar.
Conhecer a Terra, o Planeta, a Natureza, o Universo e as suas leis, para o
aprendermos a amar e a respeitar. Neste
campo, obras que versem sobre os ritmos e os ciclos da natureza, por exemplo,
podem desempenhar um importante papel.
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A incontornável Floresta de Sophia e o emblemático passeio pelas quatro estações, pela mão de Isabel, a protagonista desta belíssima narrativa.
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Enquanto parte do mesmo cosmos, nós também somos seres de ciclos e de ritmos. Ritmos esses que deixamos de respeitar, e o resultado está à vista! Portanto, regressar às origens, através da literatura, constitui um possível (e poderoso) meio de reflexão sobre o nosso lugar nesta Casa que é de Todos.
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Pormenor da primeira página de A Pequena Semente, de Eric Carle, uma narrativa que começa e acaba no outono, reforçando a ciclicidade da natureza. Falamos desta obra AQUI. |
O outono, que "é tempo em que o sol parece morno" (Anjo, Mª. I. e Keil, Mª. in O outono é o tempo a envelhecer), convida a passeios pelo campo, pelo monte, pela floresta. Sair para passear e recolher alguns elementos característicos desta estação, para além de proporcionar a experiência real do contacto com a natureza e a sua exuberância cromática nesta época do ano, pode resultar em atividades bem divertidas, e ao mesmo tempo, formativas. Podemos, por exemplo, construir um alfabeto de outono, inspirando-nos nas ideias que a Marie Claire apresenta, AQUI, e depois brincar com as letras, elaborando um Alfabeto Literário, inspirado nesta estação do ano (Falamos de Abecedários Literários AQUI).
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Capa e pormenor de duas páginas dedicadas ao outono, em Um Ano Inteiro, Agenda para explorar a Natureza
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Os passeios pelo exterior podem ainda ser enriquecidos com as sugestões apresentadas em Um Ano Inteiro (imagem acima), um livro que faz recordar os antigos almanaques, e que é um manancial de ideias para pôr em prática. Há propostas para todas as semanas do ano. Em outubro, por exemplo, os autores recomendam: Semana 1: Escuta a brama dos veados: é agora!
Semana 2: Faz uma Arca do Tesouro com Sementes (gostamos particularmente desta ideia:)
Semana 3: Sai à procura de flores outonais
Semana 4: Faz as aves voar no teu caderno
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Pormenores das páginas dedicadas ao início do outono, em O Grande Livro das Tradições Populares Portuguesas, de José Viale Moutinho.
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O outono, pelo recolhimento que começa a pedir, é também o momento ideal para resgatar tradições, recolher lendas, provérbios e histórias (dos livros ou da vida). O Grande Livro da Tradições Populares Portuguesas, de José Viale Moutinho (imagem acima) é um excelente livro para toda a família, com um texto para cada dia do ano, ao longo das quatro estações, dos doze meses do ano.
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Excerto do conto "Quando o outono não apareceu", in Brincar às escondidas com a Mãe Natureza, de Rosário Alçada Araújo e Catarina França. |
A beleza desta estação é também uma fonte de inspiração para criar pequenas histórias. Agarrando a ideia que o título do texto da imagem sugere ("Quando o outono não apareceu"), vamos criar! O que poderia impedir o outono de aparecer? O que lhe teria acontecido? Por onde andaria?
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"O outono entra sempre pela janela", um dos poemas dedicados ao outono em Poemas para as quatro estações, de Manuela Leitão e Catarina Correia Marques, obra de que falamos AQUI, a propósito da primavera. |
E para completar este puzzle de ideias para celebrar o outono (com livros), só falta mesmo trazer a poesia. Voltamos a sugerir os
Poemas para as quatro estações, obra de que já falamos na Primavera, com a sugestão
Andorinhas mensageiras de esperança, e no verão, a propósito das
representações do verão na LIJ. Para celebrar o outono, as autoras trazem-nos "O outono entra sempre pela janela" (imagem acima), "Menu serrano" (imagem abaixo), "A lenda de 11 de novembro", "A invasão" e "Árvores caducas".
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Excerto de "Menu Serrano" in Poemas para as quatro estações.
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Para trazer poesia para o nosso "caderno de criações de outono", sugerimos "escrever ao jeito de...", a partir do poema "Menu Serrano". É simples:
É só pegar no modelo e estrutura das estrofes (imagem acima) e substituir os nomes das serras (que podem ser terras), das pessoas, das ações e dos petiscos.
Por exemplo:
Fui à quinta de pentieiros
Levei comigo o Tomé
Comemos broas de mel
E bebemos água-pé!
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Representações do outono nos livros |
Em O
Amanhã não está à venda, um texto
do brasileiro Ailton Krenak,
publicado durante o confinamento, o autor refere:
“A nossa mãe, a Terra, nos dá de
graça o oxigénio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã (…). Tomara que
não voltemos à normalidade, pois se voltarmos é sinal que não valeu de nada a
morte de milhares de pessoas no mundo inteiro (…) e aí teremos provado que a
humanidade é uma mentira”.
Desejamos a todos belos passeios pelos caminhos do outono, e belas criações inspiradas nos livros! E desejamos, sobretudo, que este tempo seja um tempo de contemplação e deslumbramento que nos conduza à reflexão, sobretudo neste momento delicado que vivemos, que nos faz questionar a “normalidade”.
P.S. Podem continuar a fazer-nos chegar os vossos trabalhos, as vossas experiências, as vossas criações de outono. Usem, para o efeito, o formulário de contacto aqui do blogue ou enviem através da nossa página de FB.
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