"Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim..."
Fomos ver... e à janela 21 do nosso calendário estava uma "Balada de Neve" a saudar a estação que acabava de chegar, o inverno.
Trazemos hoje uma belíssima antologia de textos, organizada por José António Gomes, que tem por título Chegou o Natal! e que reúne um conjunto de pérolas da literatura portuguesa em torno da temática natalícia. Entre vários textos de origem popular, podemos encontrar nomes como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Eça de Queirós, Júlio Dinis, João de Deus, Gomes Leal e Augusto Gil, autor do poema que selecionamos para hoje.
"A literatura popular é rica em composições simples, comoventes ou divertidas sobre a quadra natalícia. Textos que apetece decorar e cantar. Também grandes escritores portugueses se deixaram seduzir pelo Natal e deixaram-nos em herança contos e poemas que estão na memória de muitos", podemos ler na contracapa.
E não faltam, com efeito, nesta coletânea, os mais emblemáticos elementos da tradição de Natal, em Portugal: o presépio, a visita dos pastores, a chegada dos reis magos, as canções de embalar o menino, a consoada (e as iguarias gastronómicas), todo um imaginário ao qual não faltam, também, aqueles textos que põem a nu o sofrimento infantil, como a recriação que Guerra Junqueiro faz do texto de Andersen "A Rapariguinha dos Fósforos", ou a célebre "Balada de Neve de Augusto Gil".
Se, por um lado, estes textos têm enquadramento temporal no frio da época natalícia (em "A Rapariguinha dos Fósforos" encontramos até referência ao último dia do ano), parece-nos, por outro, que a pobreza que emana do Presépio, e de toda a narrativa em torno da Natividade, propicia também esta associação.
É muito interessante o detalhe que encontramos em rituais como a elaboração do presépio, com fortes ligações à infância, de que é exemplo o texto "Presépio da minha infância" (excerto na imagem acima) ou da azáfama na cozinha, que podemos encontrar nos textos de Júlio Dinis e de Ramalho Ortigão.
Os louvores ao Menino, seja pela voz dos Pastores ou dos Reis Magos ocupam, efetivamente, boa parte da obra, quer em textos de origem popular, quer de autor, como podemos ver pelos excertos das imagens acima e abaixo.
De uma enorme sensibilidade em relação à infância (e ao sofrimento infantil) é o olhar de Augusto Gil, autor que elegemos para a nossa proposta de leitura de hoje. Em "O Menino Brincando" (imagem abaixo), um poema em jeito de canção de embalar, podemos perceber um hino à infância de Jesus, um olhar sobre a sua humanidade, igualando-o às demais crianças (que também preferem brincar a dormir).
Já no célebre poema "Balada de Neve", do qual todos conhecemos (pelo menos) as primeiras estrofes, o autor, que começa por tecer um hino à Natureza e à beleza da paisagem, que se tornou "da cor do linho", faz sobressair a imagem da pobreza e do sofrimento que daí decorre, dando voz à incompreensão e revolta que o assola, e que redunda em "E uma infinita tristeza | Uma funda turbação |Entra em mim, fica em mim presa. | Cai neve na Natureza...| - E cai no meu coração."
Este poema, que originalmente foi publicada no Livro Luar de Janeiro, integra várias antologias poéticas ou temáticas. É frequentemente revisitado em declamações e até já foi musicado. Deixamos aqui alguns exemplos.
Podemos ouvir este belo poema, dito por Luís Gaspar, acompanhado de uma seleção de imagens sobre a infância, que provam a atualidade do poema, AQUI.
Numa recriação mais focada na beleza da paisagem podemos ouvir o poema pela voz de Luiz Vinagre, AQUI.
E podemos também conhecer uma versão musicada deste texto, com voz de Lara Li e música de Miguel Braga.
E, para além da leitura, o que sugerimos?
1. Olá inverno! Vamos ouvir o poema (várias vezes), selecionar um excerto (pode ser só um verso ou uma estrofe) e fotografar um elemento da Natureza para lhe associar. Com a imagem e o excerto, vamos elaborar um postal para celebrar o inverno (se preferires, podes desenhar ou utilizar recortes de revistas para construires o teu postal).
2. Dizer poesia. Este é um daqueles textos que gostamos de aprender de cor. Vamos memorizar uma parte? Grava e envia-nos: vamos imortalizar este momento!
3. "Cantar os Reis". Neste livro há vários textos que fazem referência à chegada dos reis e à visita dos pastores ao Menino Jesus. Pergunta aos teus pais ou aos teus avós se conhecem alguma quadra da sua infância, alusiva ao "Cantar os Reis". Regista-a e partilha connosco.
Acompanhem os trabalhos que nos vão chegando, AQUI, e continuem a partilhar connosco as vossas experiências. O Natal está cada vez mais perto...
Boas leituras e até ao dia 22!
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