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quarta-feira, 2 de abril de 2025

Hoje escolhemos homenagear Jella Lepman: especial Dia Internacional do Livro Infantil

O livro infantil é propriedade universal de toda a infância.

(Jella Lepman)

Hoje, dia internacional do livro infantil, queremos homenagear Jella Lepman, uma mulher visionária que, no dificílimo contexto do pós-guerra, na Alemanha, construiu pontes de paz através do livro infantil. A mulher que esteve na origem da criação da biblioteca internacional da juventude de Munique e da mais alta instância do livro infantil, o IBBY, responsável pelo prémio Hans Christian Andersen, autor nascido nesta data há 220 anos, a quem devemos a efeméride deste dia.

E haverá melhor forma de homenagear Jella Lepman do que conhecendo (e dando a conhecer) o seu trabalho e o seu legado? 
Para além do "clássico" Un puente de libros infantiles, uma obra de caráter autobiográfico da autora (que recomendamos vivamente a todos os mediadores), gostaríamos de sugerir dois livros ilustrados que, embora não se encontrem publicados em português, são excelentes propostas, do ponto de vista estético (e histórico), para entrar no universo de Jella Lepman. Falamos de The Lady with the books, de Kathy Stinson e Marie Lafrance, também publicado em francês e em castelhano, e o recente Jella Lepman and her library of dreams, de Katherine Patterson e Sally Deng, edição também disponível em audiobook (grátis).  
São obras baseadas no trabalho de Jella Lepman, enriquecidas com apontamentos ficcionais, textuais e pictóricos, e ainda com peritextos informativos, um registo que é uma tendência em crescendo na edição literária para a infância e juventude, e que se vem revelando muito do agrado de pequenos e grandes leitores.

A estas obras juntamos ainda as recomendações da própria autora, duas das histórias preferidas dos "leitores de Jella": Ferdinando, o Touro, de Munro Leaf, texto que a fundadora da biblioteca internacional da juventude terá feito aparecer no sapatinho de muitas crianças alemãs, A Cabana do Tio Tomde Harriet Beecher Stowe, ou, numa versão adaptada ao público juvenil, A Cabana do Pai Tomás.
Tratando-se de dois clássicos da literatura infantil e juvenil, não perderam atualidade. Aliás, a sua leitura reveste-se hoje de especial sentido. 

O mundo, mais do que nunca, precisa da bondade dos livros e do poder transformador que a leitura encerra. Na senda de Jella Lepman, continuemos, pois, a acreditar e a fazer a nossa parte.

Quando desejamos de verdade que um sonho se cumpra, quase sempre teremos de ser nós próprios a apoiá-lo.

adapatado de Jella Lepman in Un puente de Libros Intantiles
                                        
                                                                            [LMB]

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Sabemos (muito) pouco sobre literatura (infantil)

Se há ideia que vai tomando forma e ficando cada vez mais clara é esta: a literatura infantil não se destina apenas a crianças. Como refere João Manuel Ribeiro, a literatura infantil é a mais democrática de todas, pois pode ser lida por toda a gente. Na verdade, nunca a literatura infantil se destinou tanto aos ADULTOS.

Os sete livros mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?"

Chegados ao final de mais um ano letivo, é prática comum, com os alunos da licenciatura em Educação Básica, fazermos um balanço: O que levam desta Unidade Curricular? Que livro recomendariam a um adulto? são duas das questões que norteiam esta "tertúlia" de encerramento.

E foi num destes momentos que uma aluna referiu: "levo a consciência de que se sabe muito pouco de literatura infantil, principalmente em contexto de família".

Esta constatação tem lugar depois de um ano de contacto semanal com a produção literária para a infância, de análise, de reflexão, de partilha de ideias, emoções e descobertas, de experimentação do poder da literatura (infantil). Depois de um ano "transformador", como mencionou outra aluna, acrescentando "tenho pena de não ter conhecido estes livros mais cedo".

Dois dos textos mais referidos (Onde está a felicidade? O Amor o que é?)

Ora, que livros são esses que tanto mexem connosco? Trazemos aqui os sete títulos mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?" (primeira imagem).

Apenas uma breve análise aos títulos, permite-nos concluir que a Felicidade é algo que todos buscamos (está presente explicitamente em dois títulos), que o Amor, nas suas mais diversas formas, é o verdadeiro motor da vida, que os laços de Afeto são o nosso aconchego, que a Família é um porto seguro, e que o Humor é um ingrediente imprescindível para uma vida feliz! 

São muitos os alunos que referem o texto Onde está a felicidade?, de Álvaro Magalhães, como "história que todos os adultos deviam conhecer", um conto que integra a coletânea O Senhor do seu Nariz, e do qual já falamos AQUI, quando inauguramos a nossa rubrica Livros para uma Pedagogia da Felicidade. Este é, sem dúvida, um conto que não deixa ninguém indiferente, pois todos nos conseguimos rever na história do Sr. Pascoal. Do mesmo modo que facilmente nos identificamos com as diferentes personagens que povoam o Vendedor de Felicidade, um livro de David Cali e Marco Somá, que apresentamos AQUI, numa seleção de obras de 2021 sobre esta temática. 

 

Pormenores do miolo de O amor o que é? 

O amor o que é?, de José Jorge Letria e Catarina França, é também das obras mais aconselhadas a adultos, pelo facto de nos mostrar o AMOR nas suas diferentes vertentes e manifestações, sendo um livro que nos faz "olhar para coisas a que habitualmente não prestamos atenção, mas que fazem muita diferença na nossa vida", como referiu uma aluna. Na imagem acima, podemos conhecer um bocadinho desta maravilhosa poética do amor.

Capa e pormenor do miolo de A Árvore Generosa

O incontornável clássico de Shell Silverstein, A Árvore Generosa, é, ano após ano, um dos títulos que se repete nesta lista de "livros recomendados a adultos". Efetivamente, esta obra acompanha-nos desde o início da nossa caminhada nesta missão de promoção da leitura em família, tendo integrado o corpus do projeto Lê para mim que depois eu conto...2, e o Programa de Educação Literária na Família, ELF2 (Uma partilha entre mil-folhas).

Num momento em que proliferam edições de "emocionários" (a este propósito aconselhamos a leitura deste texto de Ana Garralón), A Árvore Generosa constitui o exemplo perfeito para apresentar a Literatura como o melhor "laboratório de emoções", um livro que nos "revolve as entranhas", pelo facto de não deixar ninguém indiferente. 

Trata-se de uma obra de múltiplas leituras, geradora de questões que passam, por exemplo, pela nossa relação connosco próprios, com o Outro e com o Planeta, pela busca do nosso lugar no mundo, pela impermanência, pela fugacidade da vida (e o que fazemos com ela). É (também) um livro sobre partidas e regressos, sobre silêncios e ruídos, enfim... sobre a VIDA no seu todo. É, sem dúvida, um livro de "leitura obrigatória" para adultos.

Pormenores do miolo de A Árvore Generosa

Livros que abordam as representações da família, nomeadamente os que versam sobre a relação avós-netos, encontram-se, igualmente, entre as recomendações destes estudantes. A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina e O Rosto da Avó, de Simona Ciraolo, obras de que falamos AQUI, foram os títulos mais recomendados. 

A Manta do José, não apenas pela estreita relação entre um avô e o seu neto, mas também pela relação que estabelecemos com "as coisas", o valor emocional dos objetos, a sua ressignificação, enfim, esta obra encerra uma subliminar mensagem atual e urgente, que se destina a todos nós, que vivemos num mundo consumista, marcado pela moda do "descartável".

O Rosto da Avó é um hino à memória, um original convite para conhecer a história dos nossos avós (a quem, muitas vezes, não "atribuímos" uma infância e uma juventude). É uma obra surpreendente, marcada também por um interessante diálogo entre texto e ilustração.

O Nabo Gigante: capa.

O Nabo Gigante, de Alexis Tolstoi e Niam Sharkey, integra a lista de recomendações sobretudo pelos fatores envolvimento e humor. Esta obra foi apresentada a estes estudantes como exemplo de narrativa de estrutura cumulativa, e das potencialidades de que este tipo de texto se reveste, por exemplo, na interação com o "público." Este género de narrativa gera, efetivamente, um grande envolvimento do(s) leitor(es) ou ouvinte(s), resultando em momentos muito agradáveis e bem dispostos, prova de que "ninguém resiste a uma boa história (bem contada)". Estes alunos recordarão, certamente, a aula em que toda a turma deu consigo a arrancar nabos da sala de aula:) 

Pelo muito que há a dizer em relação às narrativas de estrutura cumulativa, é um assunto a que regressaremos numa próxima vez. 

Pormenor do miolo de O Nabo Gigante

Poderíamos juntar mais alguns livros a esta seleção, pois os temas difíceis na literatura (como a guerra e a morte) assim como outros livros perguntadores (de que já falamos AQUI), também foram referidos. Escolhemos, contudo, os que mais vezes foram mencionados, num universo de 50 alunos, pois parece-nos que são um bom exemplo do poder transformador que a literatura (infantil) pode ter em cada um de nós. 

Na verdade, concordamos com a aluna que disse sabermos muito puco sobre literatura infantil. E é, efetivamente, pelo facto de ao longo da nossa prática de mediação, virmos constatando que a falta de hábitos de leitura, quer em família, quer noutros contextos, se deve principalmente ao desconhecimento de bons livros de literatura infantil, que assumimos como missão a disseminação desse conhecimento, tornando-o acessível a todos. [LMB]

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Vou para a escola: vou aprender a ler!

Esta é, sem dúvida, a resposta mais ouvida pelas crianças que se preparam para ingressar no 1º ciclo do ensino básico, quando questionadas sobre o que vão fazer na escola. Deixando para trás as salas de jardim de infância (ou as casas dos avós...), iniciam agora o seu percurso escolar formal.  

Os livros falam de tudo!
É importante que da biblioteca do pequeno leitor façam parte alguns clássicos,
que conviverão harmoniosamente com obras contemporâneas.



A criança tem, neste momento, grandes expectativas em relação à leitura. Aprender a ler vai dar-lhe acesso a um mundo novo: penetrar no universo das histórias, decifrar legendas de programas televisivos ou digitais, descobrir instruções de jogos, etc. 

Todavia, a aprendizagem formal da leitura é um processo longo (e nem sempre fácil). É frequente, nesta fase, que pais e professores se angustiem, e que a própria criança (cheia de expectativas)  se sinta, por vezes, dececionada.
Esta é, portanto, uma fase extremamente delicada, pois a obsessão pela aprendizagem da decifração (muitas vezes por parte dos adultos) pode comprometer seriamente a aprendizagem e o desenvolvimento do gosto pela leitura, e a consequente formação do leitor.

Partilhamos, neste sentido, duas ideias (muito fáceis de pôr em prática) que em muito poderão contribuir para tornar este momento mais tranquilo, e para fazer germinar e crescer as sementes do amor ao livro e à leitura.

A poesia deve continuar a fazer parte das leituras com a criança.
(Excerto de A Casa da Poesia, de José Jorge Letria e Rui Castro)




1. Continuar a ler, gratuitamente e diariamente, para as crianças.

É fundamental que pais e professores continuem a alimentar o gosto e o prazer de ler.
Pode, de facto, ser uma tentação deixar de ler à criança, sob pretexto de que "ela agora já sabe ler". Mas, na verdade, não sabe. Aprender a ler é um processo demorado que comporta a aprendizagem de todo um código e das suas diferentes combinações (a fase da decifração). Até que a criança domine esse código, de modo a poder ler com a velocidade suficiente que lhe permita compreender o que lê, decorrem vários meses, muitas vezes em número superior a um ano letivo. 

Se à criança que vinha habituada a ouvir ler, pela voz do educador no jardim de infância, ou dos pais na hora de deitar, tendo garantido o seu aporte diário de alimento do imaginário, lhe é retirado esse momento de graça, a imagem da leitura vai ficar reduzida a um amálgama de textos soltos do manual escolar, compostos intencionalmente para o ensino da decifração, aos quais falta um enredo, um fio narrativo sólido, uma alma. Se a par do ensino da decifração, deixarmos de ensinar o gosto, de juntar afeto, a leitura depressa se transformará numa atividade aborrecida e sem grande sentido.

Associar momentos lúdicos à leitura contribui para lhe conferir um
caráter divertido, para associar memórias positivas ao ato de ler.
Os livros-objeto são uma tendência da atual produção literária para a infância.


Continuar a ler para e com a criança depois da entrada no ensino formal, e ao longo de todo o percurso do 1º ciclo, é garantir que o imaginário e a enciclopédia literária do leitor em formação continuam a ser alimentados. E é também uma oportunidade única de estreitar laços afetivos.

Não podemos deixar de recordar, a este propósito, o célebre trabalho de Daniel Pennac Como um Romance, onde o autor, sem complacências, apresenta um retrato bastante fiel deste momento crítico:

"Que grande traição!
Ele, a leitura e nós próprios formávamos uma Trindade todas as noites reconciliada; agora, ele está sozinho perante um livro que lhe é hostil.
A leveza das nossas frases libertava-o do peso; agora, a indecifrável agitação das letras sufoca-o a tal ponto que até o impede de sonhar.
Nós tínhamo-lo iniciado na vertical; agora ele está esmagado pela imensidão do esforço. 
(...)
Éramos os contadores, passamos a ser os contabilistas."
Pennac, 2003: 48-50 [1ª ed. 1991]

 

Daniel Pennac: Como um Romance e Les droits du Lecteur. 
Altamente recomendado para mediadores de leitura, sobretudo nesta fase.

2. Selecionar bons livros

A produção literária para a infância oferece hoje um manancial de temas e de discursos muito variados. É importante que da biblioteca do pequeno leitor façam parte textos de qualidade, textos do património tradicional, textos de temáticas atuais, textos com "temas sérios", textos com humor, poesia, narrativa, álbuns e livros-objeto.
Alguns dos temas presentes na atual literatura para a infância já foram sendo tratados neste espaço, como por exemplo as representações da infância, dos avós, do ambiente, do verão, da arte, da interculturalidade, entre outros. 

É importante procurar versões fidedignas dos contos tradicionais.
O diálogo entre o texto verbal e as boas ilustrações convidam a leituras plurais.


Quanto mais diversificarmos a oferta e sairmos de lugares comuns (como livros inspirados em séries e programas de televisão, ou adaptações redutoras de alguns clássicos com ilustrações estereotipadas), mais enriquecida ficará a enciclopédia literária do pequeno leitor. Dizemos pequeno, convictos, porém, de que a boa literatura de potencial receção leitora infantil se destina a todas as idades, como temos vindo a confirmar, ano após ano, através do Programa ELF.

Acreditamos na bondade dos livros e no seu potencial transformador. Continuaremos, pois, a alimentar estas duas ideias para que a leitura tenha sempre, mas neste momento em particular, um lugar especial em cada lar. 


Incluir os chamados temas difíceis ou fraturantes na biblioteca do pequeno leitor
 contribui para fomentar a reflexão sobre as grandes questões da humanidade.


Ao longo dos próximos dias apresentaremos, na nossa página de facebook e no nosso Instagram, algumas sugestões de leituras a integrar a seleção Vou para a escola: vou aprender a LER!

Desejamos a todos um bom ano letivo!
[LMB]

sábado, 16 de maio de 2020

As histórias fazem bem - Eduardo Sá

O psicólogo Eduardo Sá apresenta, com a simplicidade que o caracteriza, um conjunto de vantagens sobre a leitura de histórias de pais para filhos, desmistificando muitas das questões em torno dos livros e do ato de ler com e para crianças.



O autor já havia saído em defesa das histórias, dos livros e da leitura, no seu Manifesto contra as histórias. "Deixem-se de histórias, e contem histórias..." Vale a pena ler!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

ELF chega ao lugar onde tudo começou...

O programa ELF chegou à EB de Rebordões Souto, a escola que em 2007 via nascer o primeiro projeto de promoção da leitura em ambiente familiar - Lê para mim, que depois eu conto...

É muito bom voltar aos locais onde fomos felizes! E, se há projetos que nos enchem a alma, estes são, sem dúvida, os eleitos.

Destinado aos pais dos alunos do 1º e 2º ano de escolaridade, e tendo por base um conjunto de nove títulos da atual literatura para a infância, o programa ELF, através da conjugação de três componentes (formativa, experiencial e de partilha) visa dotar as famílias de conhecimentos e estratégias que lhes permitam tirar o máximo proveito da leitura literária.

A presente edição conta com a colaboração da voluntária Susana Corvas, uma mãe ELF que, com base na sua experiência, fez a seleção das obras que integram o programa em R. Souto.

Corpus literário que integra a presente edição ELF

Ao longo de sete semanas, e num total de seis sessões presenciais, os pais são convidados a mergulhar no universo da literatura para a infância e a experimentar estratégias de abordagem aos livros, junto dos seus filhos.
A composição dos três conjuntos de obras a trabalhar ao longo do programa ELF, tem por base critérios distintos.

Assim, o primeiro kit, que integra Mais Lengalengas de Luísa Ducla Soares, O Coelhinho Branco, de Xosé Ballesteros e Óscar Villan e Depois da Chuva, de Miguel Cerro, tem por base o património popular e a sua apropriação pela LI. É propícia à familiarização com os livros e com a leitura literária, uma vez que encontra eco noutros textos do imaginário dos participantes.

Momento de análise do texto icónico de O Coelhinho Branco
O segundo kit, composto pelos títulos O meu avô, de Catarina Sobral, Orelhas de Borboleta, de Luísa Aguilar e André Neves, e Dicionário das Palavras Sonhadoras de António Mota e Sebastião Peixoto, tem na sua essência a temática das representações da família, um tema muito próximo dos participantes, que favorece a identificação.

Pormenores do miolo das três obras que compõem o 2º kit

O terceiro kit, composto por O Jardim de Babaï, de Mandana Sadat, O Princípio, de Paula Carballeira e Sonja Danawsky, e Gato Procura-se, de Ana Saldanha e Yara Kono, integra obras das quais emergem temas fraturantes, como a morte, a guerra, ou a solidão.

Momento da análise das guardas de O Princípio
A variedade de autores e ilustradores, nacionais e internacionais, e a representação de diferentes projetos editoriais está, também, na base da seleção das obras.
O objetivo é que o conjunto dos nove livros que são trabalhados ao longo do programa sirva de "amostra" da atual produção literária para a infância, e contribua para dotar os pais de informação e conhecimento que lhes permitam fazer as melhores escolhas. 

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Todos os caminhos vão dar aos livros

Há alguns anos participei numa formação com a Sylviane Rigolet, uma entusiasta da leitura capaz de contagiar até os mais céticos. Apesar de o contacto ter durado apenas um dia, as coisas que eu aprendi com a Sylviane ainda hoje ecoam em muitas das práticas que levo a cabo: "Ser mediador de leitura é uma questão de postura", referiu, a propósito dos distintos objetos que compunham as suas "maletas de leitura".
Ao longo destes anos, já muitos dos que comigo se cruzam, nestas andanças da leitura, me ouviram "citar" a Sylviane a propósito da figura do mediador de leitura, e já muitos objetos entraram nas minhas malas literárias movidos por esta "máxima".
Vem esta memória a propósito de uma das sessões da Escola de Pais António Feijó, aparentemente nada relacionada com a leitura (sobretudo de livros), "Mente sã em corpo são: atividade física em família", uma sessão outdoor, conduzida pelo Prof. Agostinho Sousa, que se materializou num trilho de montanha em pleno vale do Trovela.

Pormenor da paisagem capatado ao longo do trilho
Ao longo de cerca de 4,5 km (o trilho foi preparado tendo em conta a participação de crianças), e à medida que os diferentes elementos da paisagem se apresentavam, as leituras foram surgindo...


ISTO NÃO É UMA PEDRA...

Et voilà! Convocamos Magritte e a imaginação fértil de pequenos e grandes depressa se encheu de possibilidades: "um pão de forma", "um elefante", "uma boca"...
e... avançando no percurso: 

UMA BOTA! (com atacador e tudo)

Uma bota que, pelos vistos, terá pertencido ao

 GIGANTE ADORMECIDO
Pormenor da paisagem: pedra "gigante adormecido"
E embalados seguíamos pelo universo de possibilidades criativas oferecidas pela paisagem (apenas com um empurrãozinho de Magritte), quando, a propósito das giestas em flor e da aproximação do dia dos maios, o percurso se enche de um desfiar de histórias e tradições relacionadas com a data.

Giesta branca

E... como as histórias são como as cerejas, ficamos a saber que a giesta amarela é para por nas portas e a giesta branca é para fazer chá para tratar a diabetes. Esta planta parece ter servido ainda (em casa dos nossos avós) para fazer vassouras que se destinavam a varrer as eiras.

Quando parecia que as "histórias" já se encaminhavam para o fim, eis que a pequena Maria, ao avistar um pastor, exclama: "Olha, mãe, aquele parece mesmo o pastor da história que a professora leu ontem!"

Pormenor da paisagem com o rebanho

E estava lançado o mote para a descobrir que história seria, pois a Maria não se lembrava do título...
Histórias com rebanhos, com pastores, com lobos, com ovelhas... e teríamos já programa para o período da tarde, pois além de TODOS OS CAMINHOS PODEREM IR DAR AOS LIVROS, "Ser mediador de leitura é uma questão de postura".

Ficam aqui, como sugestões de leitura para o mês de maio, algumas das possibilidades de histórias com rebanhos e pastores:

A Ovelhina Preta (Elizabeth Shaw)
O Príncipe que guardava ovelhas (Luísa Dacosta)
O Pastor e o Lobo (conto popular)




Boas Leituras e... Bons Caminhos!
Obrigada, Agostinho!

Nota: Já aqui falamos do album OH! de Josse Goffin, inspirado no trabalho de Renée Magritte. Para recordar: AQUI e AQUI.