sábado, 6 de junho de 2020

Representações do Ambiente na Literatura para a Infância | Novidades 2020

Comemoramos ontem mais um Dia Mundial do Ambiente, uma efeméride que deverá servir sobretudo para refletirmos e repensarmos comportamentos e condutas. Não há (mesmo) Planeta B.

Abundam na Literatura para a Infância, principalmente depois do prémio ambiente na literatura (1975), publicações que versam sobre a temática ambiental. Ora privilegiando uma via mais contemplativa, ora ingressando em terreno mais proativo, as questões da ecoliteracia assumem várias formas na literatura de potencial receção leitora infantil.



Escolhemos para hoje quatro obras novíssimas, editadas em Portugal em 2020, que possibilitam interessantes reflexões e proveitosos caminhos de leitura: um feliz encontro entre o prazer de ler e o de habitar uma Casa tão generosa.

O Bando, a história de uma guardiã de árvores, uma criação de autoria única, de Gemma Koomen, editado pela Fábula, é um trabalho belíssimo que nos remete para o universo dos pequenos seres que habitam os "mundos elementares" (1). Começa assim:

"Na orla da floresta existe uma grande árvore. Se espreitares por entre os seus ramos talvez consigas ver algumas pessoas pequeninas, da altura do teu polegar e com a cabeça do tamanho de uma avelã. São os Guardiões das Árvores."

Dupla página do miolo de O Bando
Neste álbum, somos convidados a acompanhar a viagem de uma pequena guardiã, a Sílvia, e a travar amizade com Tufo, o passarinho bebé "barulhento, desarrumado, e que está sempre esfomeado" com quem Sílvia irá ver o mundo, aprender a dizer adeus e descobrir a alegria da amizade.

Contracapa de O Bando

Do inconfundível Eric Carle, chega a Portugal, editada pela Kalandraka, A Pequena Semente, uma obra que retoma o tema dos ciclos da natureza, materializado nas estações do ano que servem de cenário à narrativa, e que trazem ao de cima questões como a resiliência, o saber esperar, o "invisível aos olhos". 


Uma obra que encontra eco em trabalhos como Cem sementes que voaram  e Começa numa semente, de que falamos AQUI, em Ainda Nada, de Christian Voltz, e também, de certo modo, em A maior Flor do Mundo, de José Saramago. O acompanhamento da vida da pequena semente, que o leitor é convidado a fazer, culmina no "eterno retorno" tão presente nestas questões:

"O vento sopra mais forte. A flor perdeu quase todas as suas pétalas. Ela agita-se e desvia-se do vento, mas ele sopra cada vez mais forte e abana a flor. O vento torna a abanar a flor e, desta vez, o seu ovário abre-se. Lá de dentro saem muitas pequenas sementes que rapidamente esvoaçam pelos ares, levadas pelo vento."

Pela Orfeu Negro, chega A Abelha, de Kirsten Hall e Isabelle Arsenault, um livro cor de mel, perfumado com o aroma de flores do campo. Um livro para ler como quem dança, acompanhando os "passos" da sábia e laboriosa orquestra apícola.  

"Começa a dança.
Remexe,
balança.
Que grande pagode!
Estremece,
sacode.

Agora o comboio, em fila indiana,
depois faz um oito, abana e abana.
(...)"

Dupla página do miolo de A Abelha
Este álbum, além de uma delícia para os olhos, é uma excelente forma de aproximação a questões tão importantes como a preservação das espécies. Em jeito de "compêndio", o livro integra uma página informativa, dirigida ao leitor, com curiosidades sobre as abelhas e ainda com um conjunto de sugestões sobre "Como ajudar as abelhas".

"Compêndio Informativo" que integra a obra A Abelha
E, por último, nascido em Portugal, A menina que queria desenhar o mundo, um livro de Adélia Carvalho e Sérgio Condeço, editado pela Nuvem de Letras. Imersa numa visão de interdependência (uma visão ecológica, na verdadeira aceção do termo), esta obra convida a aguçar o olhar sobre o que nos rodeia, do mais próximo ao mais longínquo, desde a "árvore que só crescia se não estivessem a olhar para ela", passando pelos "dias que parecem noites e pelas noites que parecem dias", até "aos amigos que moram em países distantes", a menina que queria desenhar o mundo guia o (pequeno) leitor numa viagem de auto e hetero descoberta, que culmina na palavra mágica "Nós".

Dupla página do miolo de A menina que queria desenhar o mundo

A Literatura em geral, e a Literatura para a Infância em particular, é um espaço de reflexão, que, não mudando o mundo, opera mudanças nas pessoas que o podem mudar! Cuidar desta Casa tão generosa é tarefa de Todos e de cada Um (os livros dão uma ajuda). 

(1) Esta expressão é retirada do subtítulo da obra de Cristina Carvalho (2011) Lusco-fusco, Breviário dos Mundos Elementares.



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