Há alguns anos participei numa formação com a Sylviane Rigolet, uma entusiasta da leitura capaz de contagiar até os mais céticos. Apesar de o contacto ter durado apenas um dia, as coisas que eu aprendi com a Sylviane ainda hoje ecoam em muitas das práticas que levo a cabo: "Ser mediador de leitura é uma questão de postura", referiu, a propósito dos distintos objetos que compunham as suas "maletas de leitura".
Ao longo destes anos, já muitos dos que comigo se cruzam, nestas andanças da leitura, me ouviram "citar" a Sylviane a propósito da figura do mediador de leitura, e já muitos objetos entraram nas minhas malas literárias movidos por esta "máxima".
Vem esta memória a propósito de uma das sessões da Escola de Pais António Feijó, aparentemente nada relacionada com a leitura (sobretudo de livros), "Mente sã em corpo são: atividade física em família", uma sessão outdoor, conduzida pelo Prof. Agostinho Sousa, que se materializou num trilho de montanha em pleno vale do Trovela.
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Pormenor da paisagem capatado ao longo do trilho |
Ao longo de cerca de 4,5 km (o trilho foi preparado tendo em conta a participação de crianças), e à medida que os diferentes elementos da paisagem se apresentavam, as leituras foram surgindo...
ISTO NÃO É UMA PEDRA...
Et voilà! Convocamos Magritte e a imaginação fértil de pequenos e grandes depressa se encheu de possibilidades: "um pão de forma", "um elefante", "uma boca"...
e... avançando no percurso:
UMA BOTA! (com atacador e tudo)
Uma bota que, pelos vistos, terá pertencido ao
GIGANTE ADORMECIDO
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Pormenor da paisagem: pedra "gigante adormecido" |
E embalados seguíamos pelo universo de possibilidades criativas oferecidas pela paisagem (apenas com um empurrãozinho de Magritte), quando, a propósito das giestas em flor e da aproximação do dia dos maios, o percurso se enche de um desfiar de histórias e tradições relacionadas com a data.
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Giesta branca |
E... como as histórias são como as cerejas, ficamos a saber que a giesta amarela é para por nas portas e a giesta branca é para fazer chá para tratar a diabetes. Esta planta parece ter servido ainda (em casa dos nossos avós) para fazer vassouras que se destinavam a varrer as eiras.
Quando parecia que as "histórias" já se encaminhavam para o fim, eis que a pequena Maria, ao avistar um pastor, exclama: "Olha, mãe, aquele parece mesmo o pastor da história que a professora leu ontem!"
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Pormenor da paisagem com o rebanho |
E estava lançado o mote para a descobrir que história seria, pois a Maria não se lembrava do título...
Histórias com rebanhos, com pastores, com lobos, com ovelhas... e teríamos já programa para o período da tarde, pois além de TODOS OS CAMINHOS PODEREM IR DAR AOS LIVROS, "Ser mediador de leitura é uma questão de postura".
Ficam aqui, como sugestões de leitura para o mês de maio, algumas das possibilidades de histórias com rebanhos e pastores:
A Ovelhina Preta (Elizabeth Shaw)
O Príncipe que guardava ovelhas (Luísa Dacosta)
O Pastor e o Lobo (conto popular)
Boas Leituras e... Bons Caminhos!
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Obrigada, Agostinho! |
Nota: Já aqui falamos do album OH! de Josse Goffin, inspirado no trabalho de Renée Magritte. Para recordar: AQUI e AQUI.