Entre duas efemérides que nos são tão caras, o Dia da Terra, que comemoramos ontem, e o Dia do Livro, que comemoramos hoje, estas duas mãos cheias de livros são o nosso modo de prestar uma singela homenagem a estas duas Grandes Casas Comuns.
Selecionamos um conjunto de títulos
que têm por base a temática das estações do ano.
São obras que nos convidam a (re)descobrir a essência, a abrandar, a aprender que tudo tem o seu ritmo e o seu tempo. Enquanto parte do mesmo cosmos, nós também somos seres de ciclos e de ritmos. Ritmos esses que parecem estar um pouco esquecidos, na verdade…
Portanto, regressar às origens, através da literatura, poderá constituir um possível (e poderoso) meio de reflexão sobre o nosso lugar nesta Casa que é de Todos.
Na imagem acima vemos quatro obras que fazem referência explícita, visível no título, às estações do ano. Curioso é o facto de começarem em diferentes estações, reforçando a ideia de ciclo e de uma visão circular do Universo
As Estações é uma edição da kalandraka datada de 2009, uma narrativa exclusivamente visual, sem texto, da autoria de Iela Mari (que foi originalmente publicado com o título A Árvore – pela editora Sá da Costa Infantil em 1973).
Esta narrativa começa no inverno, terminando na
mesma estação, apresentando uma visão cíclica do tempo e da natureza. Apercebemo-nos das
transformações na paisagem, ao longo das quatro estações, através da vida que
acontece na árvore e em torno da árvore – debaixo da terra, à superfície, nos
seus ramos…
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Uma das duplas páginas dedicadas à estação da primavera na narrativa visual As Estações de Iela Mari |
A Primavera é o Tempo a Crescer integra uma deliciosa coleção de quatro volumes, dedicada às quatro estações do ano, editada pela Sá da Costa Infantil, da autoria de Maria Isabel César Anjo e Maria Keil. Constitui um claro convite não só a redescobrir a natureza que se renova, mas também a estender o olhar sobre o Outro, como podemos ver, por exemplo, neste excerto
“A primavera é o tempo bom dos meninos das barracas que tiveram muito frio no inverno”.
A obra, cujo miolo apresentamos abaixo, é também da kalandraka, e tem como mote a peça musical de Vivaldi, As quatro estações. É da autoria de José Antonio Abad Varela e Emílio Urberuaga, e conta com a interpretação musical de Sara chang. Trata-se de um interessante diálogo entre a literatura e a música, do qual já falamos AQUI, AQUI e AQUI.
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Pormenor do miolo de As Quatro Estações (as duas primeiras duplas páginas - dedicadas à primavera). |
Poemas para as quatro estações é uma coletânea de poesia da autoria de Manuela Leitão e Catarina Correia Marques, editada pela Máquina de Voar, em 2017. Trata-se de um livro muito bonito, com poemas para todas as estações e para todos os gostos. Já por cá passou, tendo dado corpo às Andorinhas, mensageiras de esperança, e tendo também integrado as Representações do verão na literatura infantojuvenil.
Aqui convivem animais, árvores, flores, frutos (muitos frutos!), mas também cá chegam outras vozes, como a de Sophia, por exemplo, no poema a menina de Sophia, e até alguns textos em jeito de receita, como “Edital para a hibernação”, “Receita para esperar o inverno”, ou ainda “Como fazer o melhor Castelo de Areia”. Escolhemos para partilhar, nesta primavera de livros, “Cerejas”, um poema da primavera:
“Quando ela come cerejas,
daquelas gordas, vermelhas.
Põe sempre quatro ou cinco,
como se fosse um brinco,
a enfeitar as orelhas!
(Eu sei, eu sei… A minha mãe às vezes parece uma criança!)”
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Dois poemas da primavera, da obra Poemas para as quatro estações |
Num registo diferente, O Livro dos Quintais, de Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho, editado pela Planeta Tangerina em 2010, é uma viagem pelos 12 meses do ano, que tem como pano de fundo oito quintais, onde moram oito famílias diferentes, que o leitor acompanha nos seus mais distintos afazeres, ao ritmo das cores e da transformação da paisagem, ao mesmo tempo que tentamos localizar o "Gatuno" (um dos gatos que integrou a nossa seleção Aqui há gatos (literários) que miam em português).
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Pormenor do miolo de O Livro dos Quintais: dupla página correspondente ao mês de março e à chegada da primavera. |
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Do pop-up Seasons, páginas dedicadas à primavera. |
Neste segundo grupo de livros, cujas capas podemos ver na imagem abaixo, as
estações do ano, a passagem do tempo e a visão de um universo circular são
apresentadas a partir do ciclo de vida das sementes.
Nesta obra de Eric Carle, também
de 2020, editada pela Kalandraka, A pequena Semente, o leitor é
convidado a acompanhar a viagem de uma semente, desde o outono, momento em que
se desprende da árvore, a conhecer as dificuldades por que passa até se tornar
numa grande e exuberante planta, admirada por todos no verão, até à chegada,
novamente, do outono, onde tudo passa e tudo recomeça. (Falamos desta obra AQUI).
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Pormenor do interior do livro A pequena Semente, anunciando a chegada da primavera. |
Podemos ver este mesmo ciclo na obra Começa numa semente, de Lara Knowles e Jennie Webber, de 2018, editada pela Fábula, à qual nos referimos em Dá Guarda(s) à Terra, no dia da Terra de 2020.
Para além da delicadeza das ilustrações, de que é exemplo a imagem abaixo, apreciamos
particularmente a página final, que se desdobra em quatro, apresentando de
um lado a grandeza de algo que havia começado apenas numa semente, e, de outro,
uma espécie de enciclopédia da árvore que o leitor acompanhou, com informação
de caráter científico (estas páginas podem ser vistas AQUI).
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Pormenor do interior do livro Começa numa Semente, correspondente à primavera. |
Também da Planeta Tangerina, o
livro de Isabel Minhós Martins e Yara Kono, de 2017, Cem sementes que voaram.
Nesta obra destacamos a paciência e a sabedoria da árvore que viu partir as
suas sementes e que soube ficar à espera, mesmo quando parecia que nenhuma
tinha sobrevivido. E, na verdade, das cem sementes que voaram, apenas
sobreviveram dez… uma opção que encerra, em nosso entender, uma mensagem
profunda que em muito pode contribuir para uma maior compreensão e aceitação
das leis do Universo. Também falamos desta obra AQUI.
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