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terça-feira, 30 de junho de 2020

Colorir Violinos

É verão e as férias grandes já começaram. 
Este é um tempo propício à leitura demorada e à descoberta inesperada.
Para que não faltem ideias de leitura e de atividades divertidas a partir dos livros, a encerrar o mês de junho propomos uma (re)leitura de As Quatro Estações, uma das obras que compõe a nossa seleção de verão, e uma mão cheia de ideias para tirar (ainda) mais partido desta belíssima obra de josé António Abad Varela, Emílio Urberuaga e Sarah Chang, inspirada no concerto de Vivaldi. 

"Os esquilos madrugavam para evitar o calor do dia e, à tarde, dormiam a sesta à sombra enquanto a suave brisa lhes acariciava o pelo vermelho e amenizava o calor" (pp. 20-21)

Trata-se de um trabalho onde a harmoniosa conjugação das linguagens verbal, icónica e musical, proporciona ao leitor uma viagem quase sensorial, onde convivem, por vezes de forma dicotómica, a serenidade da paisagem com a tempestade, o aconchego com o abandono, a alegria com a tristeza, a esperança com o medo, a vida com a morte, numa espécie de analogia com a própria vida e o seu caráter igualmente cíclico. A componente musical parece cumprir, aqui, a missão de potenciar os distintos climas emocionais sugeridos pela diversidade de episódios presentes na obra literária, que por sua vez foi construída para ilustrar a peça musical, permitindo, assim, várias possibilidades de apropriação e cruzamento dos vários intertextos que compõem o livro.



Nesta obra, o verão é apresentado como um tempo lento, que convida a sestas prolongadas e ao sonho. É a estação da abundância de alimentos, do nascimento das crias, do canto do cuco, do pintassilgo e das rolas, mas também das moscas e dos moscardos. É a época de armazenar, atividade partilhada pelos animais e pelo homem, como é o caso do lenhador. A linguagem do bosque (e da natureza) parece ser conhecida pelos seus habitantes, que se recolhem porque “o intenso calor anunciava a trovoada” (pp. 22), que, qual tempestade de verão, depressa volta a dar lugar ao brilho do sol.

Dupla página que anuncia o verão (pp. 16-17)

Para tornar ainda mais memoráveis as tardes de verão em família, apresentamos algumas sugestões de atividades em torno da obra.

1. Desenhar ao som do verão de Vivaldi


Esta obra constitui uma excelente oportunidade de encontro com a música erudita, e com os efeitos que esta pode ter em cada um de nós. Propomos a audição dos andamentos relativos ao verão, e o desenho livre simultâneo. (podemos também visitar esta interessante experiência)


CD que acompanha a obra
 2. Da música às palavras ou das palavras à música


Na origem da narrativa de José António Abad Varela está o concerto de Vivaldi (1720), que também terá escrito um poema para cada estação do ano (no blogue Música e Cultura encontramos mais informação sobre este assunto, assim como os referidos textos). 
Comparar o texto e a composição musical de Vivaldi com o trabalho final dos autores do livro As Quatro Estações pode revelar-se um interessante trabalho de descoberta de diferentes manifestações de arte em torno de um mesmo tema (neste caso as estações do ano).

"Depois, pouco a pouco, os trovões e a chuva afastaram-se e o bosque acalmou. Os esquilos e os pássaros sacudiram os corpos para se livrarem da humidade. O sol brilhou de novo e os esquilos voltaram a correr por entre as árvores." (pp. 24-25)
 3. Colorir Violinos

Recuperando a ideia do concerto para violino, propomos a construção, com recurso a cartão, de quatro violinos, que podem ser personalizados com ilustrações ou colagens representativas das quatro estações do ano. Podemos experimentar ilustrar ao jeito de Emílio Urberuaga, ou descobrir o nosso próprio jeito. Com os violinos podemos construir original mobile.

4. Um livro artesanal ou as minhas leituras de verão

Esta sugestão, para além de poder representar uma segunda vida para aqueles CDs que temos lá por casa, sem uso, poderá transformar-se numa original compilação de leituras de verão
Recolhemos alguns CDs, que podemos forrar com papel ou tecido, e unimo-los pelo orifício central com uma corda ou uma fita. Escolhemos os mais belos excertos de textos de verão, das leituras das férias, ou de outro tema ao nosso gosto, e registamo-los nos CDs, que funcionarão como páginas do nosso livro artesanal, que embelezaremos com desenhos, pinturas, colagens, "segredos"...
Em alternativa podemos fazer uma pesquisa sobre Vivaldi e usar o livro feito de CDs para escrever / desenhar uma breve biografia do autor.

Exemplo de trabalho realizado a partir da obra,
no âmbito do programa ELF: "o meu álbum de artistas" (família Dias)
5. Conhecer Sarah Chang

Para os apreciadores (e também para os que não apreciam tanto, pois poderão mudar de ideias!)), visitar alguns excertos do concerto da autora musical desta obra pode constituir um programa alternativo para aquelas tardes mais quentes, a pedir vagar... aqui fica uma sugestão:


 A todos desejamos boas férias e boas leituras em família!

sábado, 20 de junho de 2020

Representações do Verão na Literatura para a Infância

"O verão é o tempo grande", quem o diz é Maria Isabel César Anjo, no título do pequeno volume dedicado a esta estação do ano. Concordamos: verão pede vagar, pede um olhar demorado sobre a beleza que nos rodeia, pede mergulhos no verde dos campos, das montanhas, das florestas, dos rios e regatos... e pede livros! 



Fomos em busca do verão num conjunto de obras de potencial receção leitora infantil e encontrámo-lo em registos de diferentes épocas: descobrimos que as representações do verão de Aquilino Ribeiro, por exemplo, encontram eco nas de António Mota, e que o verão cantado por Eugénio de Andrade parece ser retomado por Manuela Leitão e Catarina Correia Marques... e descobrimos também que há na literatura mensagens que são hinos à natureza, que nos podem ajudar a restabelecer o tão necessário equilíbrio que nasce do conhecimento e respeito pelos seus ciclos, pelas suas estações, pelo seu tempo, e sobretudo pela sua generosidade.


Na literatura para a infância ainda encontramos as Quatro Estações do Ano (cujos limites se vêm tornando cada vez menos nítidos no plano real). Talvez como afirmação, como necessidade de recordar que somos todos habitantes de um mesmo cosmos (que tem as suas leis), talvez como alerta, como indicação de um caminho mais ecocênctrico  (alternativo ao exagerado antropocentrismo que tem vindo a caracterizar a sociedade).


Pormenor do miolo de O verão é o tempo grande

Da enorme sensibilidade que jorra dos quatro pequenos volumes de Maria Isabel César Anjo e Maria Keil (imagens acima) ao diálogo de linguagens que convivem em As Quatro Estações, de José António Abad Varela e Emilio Urberuaga, obra inspirada no trabalho musical de Vivaldi (falamos deste texto AQUI), ao humor e à leve sátira aos tempos modernos, que caracteriza O Zé e as Estações, de Luísa Ducla Soares e Raquel Leitão, até à riqueza sensorial que encontramos em Poemas para as Quatro Estações, de Manuela Leitão e Catarina Correia Marques, são evidentes as preocupações em materializar elementos característicos de cada estação, que contemplam aspetos ligados à fauna, à flora, mas também às ações ou hábitos próprios de cada estação, apresentando-os de forma bem definida e distinta, sem perder de vista a ciclicidade da natureza.

Pormenor da obra O Zé e as Estações, onde é possível verificar a presença de informação relativa ao tempo, à fauna, à flora e também aos hábitos (férias, gelados...)
Por vezes este trabalho é feito de modo implícito (mas eficaz), pela mão do ilustrador, que ao cenário e à ação da narrativa vai acrescentando informação sobre o passar do tempo, através da caracterização da paisagem. É o caso de uma interessante adaptação do conto popular inglês A Galinha Ruiva, de Pilar Martinez e Marco Somà, como podemos ver nas imagens abaixo. 





As obras que versam explicitamente sobre as estações do ano não se limitam, todavia, à apresentação do lado mais agradável de cada estação. Por exemplo, em As quatro Estações, de José Antonio Abad Varela e Emilio Urberuaga, o verão faz-se acompanhar de uma típica "tempestade de verão": 

Pormenor da obra As quatro Estações: excerto que acompanha a composição de Vivaldi "Trovoada de Verão"

As típicas tempestades de verão já marcavam presença na obra de Aquilino Ribeiro destinada à infância. No seu célebre conto Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia (Arca de Noé III Classe), a tempestade que acaba por levar a abóbora rio abaixo até ao moinho, deixando o Sr. José Barnabé Pé de Jacaré consternado é um dos elementos do enredo que completa todo o cenário de verão em que decorre a história, e que concorre para o seu divertido desfecho:
"- José Barnabé?
- Ué?!!
- Seria aquele papa-moscas ou o eco? E deitou a correr. Foi encontrá-lo à beira do rio, de olhos fitos na corrente, como se estivesse à espera de um bacalhau.
- Mulher - exclamou - lá se foi a aboborinha!
- Ai foi?! Pois se foi, nem telhado nem panelinha!
Em seu desafogo, mestre grilo fazia à boca da lura, para cigarras, ralos, rãs, sapos, a histórias - a sua história - da catástrofe dum dia de verão:
- Cri-cri-cri! Muito me eu ri!!! Ci-cri-cri!..."

Pormenor do texto Mestre Grilo cantava e a Giganta dormia
Já em O dia em que o regato secou, o trabalho de António Mota e Sebastião Peixoto que completa a trilogia protagonizada pelos coelhos Bitó, Fabi e D. Fofa (Onde está a minha mãe, de que falamos AQUI, tem como cenário a primavera, e A casa da janela azul, tem como pano de fundo o inverno), é possível conhecer os hábitos de verão de uma grande diversidade de pequenos seres, como o facto de se refugiarem em tocas para fugir ao calor, e encontrar as representações mais terríveis do verão, como a seca e os incêndios. Neste interessante trabalho, a "tempestade" de verão é claramente apresentada como uma bênção:
"- Chuva de verão, chuva de verão! - gritou a cabra cabrela muito feliz (...)"
Das palavras que encerram este texto parecem, aliás, ecoar as vozes ancestrais ligadas aos rituais e celebrações dos solstícios:
"Quando chegaram à toca, e viram que no lugar do muro havia muita água, juntaram-se aos bichos que ali festejavam, e também dançaram com muita alegria" (imagem abaixo).  

Dupla página final de O dia em que o regato secou

Amoras
"Doces e formosas,
Talvez por serem da família das rosas
Recolho-as sempre no regaço"

Os aromas e os sabores do verão marcam especial presença na poesia. A coletânea Poemas para as quatro Estações dedica ao verão seis poemas, quatro dos quais em torno dos frutos: A que cheira o verão?, Na esplanada, Figo e Amoras, "ensinando" ainda ao leitor Como fazer o melhor castelo de areia, e o caminho para conhecer A menina de Sophia.

Pormenor da obra Poemas para as quatro estações: Na esplanada.
Falamos sobre esta obra AQUI, a propósito da Primavera, onde apresentamos sugestões de atividades.

Este verão sumarento marca também presença na coletânea Conversas com Versos, de Maria Alberta Menéres e Rui Castro, no divertido poema O almoço dos pardais:

Pormenor da coletânea Conversas com Versos
A poesia canta também o calor do verão, numa espécie de convite a abrandar. Quem não se recorda, por exemplo, do célebre poema Verão de Eugénio de Andrade (imagem abaixo), que integra a obra Aquela Nuvem e Outras?  

Pormenor da obra Aquela nuvem e outras: Verão.
Ou d'O Livro de Marianinha, de Aquilino Ribeiro e Maria Keil:

"Da minha varanda, defronte,
na luzerna e trevo da fonte
pastavam novilho e cordeiro,
qual deles mais lambareiro.

A mãe ovelha ficara no bardo
a mãe-vaca puxava ao arado.

Eu via-os comer, saltar, vadiar
enquanto caía um sol de rachar.

Era meio verão
inda a flor do trambolhão,
que anda com a sesta,
e a vagem da giesta
não sentia da estiagem,
a ardente bafagem.

No prado, por esta altura
tudo é vida de doçura."

Para que nada falte ao nosso verão, podemos seguir o conselho dos habitantes da obra de António Mota:

Pormenor da obra O dia em que o regato secou
Ou podemos seguir com Leonoreta de Eugénio de Andrade:

"Canção de Leonoreta

Borboleta, borboleta,
flor do ar
onde vais, que me não levas?
Onde vais tu, Leonoreta?

Vou ao rio, e tenho pressa,
não te ponhas no caminho.
Vou ver o jacarandá
que já deve estar florido.

Leonoreta, Leonoreta
Que me não levas contigo."


Demos, então, as boas vindas ao verão. Celebremos com a ajuda dos livros e das mensagens que a literatura encerra 
(e até a chuva de verão ganhará um novo significado).


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dá guarda(s) à Terra #Fique em Casa 12

Para comemorar o Dia Mundial da Terra, escolhemos dois livros unidos pelas sementes, Começa numa Semente, uma obra de Lara Knowles e Jennie Webber, editado em Portugal pela Fábula, e Cem sementes que voaram, um trabalho nacional, de Isabel Minhós Martins e Yara Kono, editado pelo Planeta Tangerina.

Livros para homenagear a Terra

Na obra Começa numa semente (algumas páginas disponíveis AQUI) podemos acompanhar a vida de uma semente, desde a sua chegada à Terra até à transformação numa imponente árvore que é também "um mundo maravilhoso", como podemos ver na imagem abaixo. 

Dupla página do miolo da obra


O texto poético, acompanhado pela sobriedade das ilustrações em tonalidades Terra, transforma-se numa viagem pelas estações do ano e pelo caráter cíclico da Natureza, culminando no natural curso das "coisas da Terra":



"Mal as sementes estão prontas,
partem no sopro da brisa
e talvez algumas delas
venham  a ser um dia
árvores cheias de vida."


Quádrupla página final


Este belíssimo livro, para além das sementes, partilha com o álbum Cem sementes que voaram, páginas finais informativas, uma tendência crescente na edição literária para a infância e juventude.


Páginas finais: o texto que preenche o livro (aqui condensado)
e informação científica sobre a árvore desta história e seus elementos. 

O álbum do Planeta Tangerina podia ser uma continuação desta história... pois conta as aventuras de uma árvore que estava à espera... 
(algumas páginas disponíveis AQUI)


Dupla página inicial de Cem sementes que voaram
Das suas cem sementes que voaram... aparentemente, todas foram desaparecendo: na estrada, no mar, nas pedras, no bico dos pássaros, na barriga de um esquilo... tendo restado apenas uma, que depois de germinar serviu de lanhe a um coelhinho. Mas será que foi mesmo assim?
Ao que parece, a espera valeu a pena, pois 

"A árvore já sabia:
muitas vezes,
para tudo correr bem,
basta saber esperar."

E o livro termina com umas belíssimas guardas finais que são uma espécie de enciclopédia poética das sementes.


Guardas Finais

Estes livros são um convite a deter o olhar sobre as pequenas coisas, e a refletir sobre a grandeza dos mistérios que a Terra encerra.


Contracapa de Cem sementes que voaram

São também uma oportunidade para aprender a tirar partido de aspetos do livro que muitas vezes nos passam despercebidos: a capa, a contracapa, e sobretudo as guardas. Estes elementos paratextuais são excelentes meios para aguçar a curiosidade dos pequenos leitores, e, no caso destas obras, para enriquecer o seu conhecimento enciclopédico.

Recuperamos, a este propósito, as dicas de leitura que partilhamos no âmbito das comemorações do dia internacional do livro infantil:




A nossa sugestão de atividade, a realizar em família, é uma oficina de Capas, Contracapas e Guardas. Sugerimos:


- escrever palavras soltas ou pequenos textos, dedicados à Terra (pode ser uma quadra, um poema, uma carta de agradecimento, um recado, um abecedário ilustrado...)


- desenhar / pintar os nossos locais verdes preferidos (uma árvore, um recanto do jardim, um parque, uma memória de um piquenique ou de um passeio...)

- fotografar "bocadinhos de verde" (um cantinho do jardim, um pássaro, uma árvore em flor, o brotar das folhas...)


Guardas iniciais de Cem sementes que voaram

- Com esses elmentos (e/ou com outros que entendam por bem utilizar) vamos construir capas, contrapas e guardas para Livros / Álbuns Verdes. Podemos inspirar-nos nas capas, contracapas e guardas destas obras. 

- Depois de prontas, podemos lá colocar (sempre que tivermos vontade ou encontrarmos por acaso) textos / desenhos / fotografias / artigos de jornal ou revista... dedicados à Mãe Terra (no fim teremos construído um belo portefólio que é também um hino à Natureza).

Contracapa de Começa numa Semente
A literatura é sempre um auxílio precioso à abordagem das grandes questões. Vamos homenagear a Terra com a ajuda dos livros!

Partilhem connosco as vossas experiências e façam-nos chegar os vossos trabalhos. Vamos engrossar o caudal de gratidão à Terra.



Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos!




quinta-feira, 2 de abril de 2020

#Fique em Casa 10 Especial Dia Internacional do Livro Infantil

Hoje comemoramos mais um dia Internacional do Livro Infantil, uma efeméride que é uma homenagem àquele que é considerado o pai da Literatura Infantil, Hans Christian Andersen, nascido a 2 de abril de 1805, na cidade de Odense, na Dinamarca.
Girando os assuntos que nos ocupam neste espaço em torno da Leitura, da Literatura e da Educação Literária na Família, hoje, neste especial #Fique em Casa, vou falar-vos das escolhas dos meus filhos (que têm hoje 20 e 15 anos).

A escolha do mais velho e um "caracol literário"

Questionados sobre que leitura(s) recordavam, de modo particular, da sua infância, obtive respostas curiosas. Enquanto o mais velho, sem grande hesitação, respondeu: Contos da Mata dos Medos de Álvaro Magalhães e Cristina Valadas, o mais novo recordou-se de O Gato Comilão, um conto popular dinamarquês, recontado por Patacrúa e Oliveiro Dumas.

A escolha do mais novo, aprovada pela Luísa.

Contos da mata dos medos foi (é) uma obra marcante na família. O primeiro volume desta tetralogia foi publicado em 2003. Terá sido aí por 2005 que chegou cá a casa, tendo-se tornado companheiro de leitura diária em família. As personagens que se reuniam na "clareira do pinheiro grande", o Chapim, a Toupeira, o Coelho, o Caracol, e a "Pequenita" (a lagarta peluda) passaram, de certo modo, a fazer parte da família, até aos dias de hoje. Não raro, alguém anda a "ouriçar" (como o ouriço), a descobrir coisas "muito úteis" (como a toupeira), "atarefado e apressado" (como o chapim), com medo de algo (como o coelho), ou em modo caracol, que está sempre a partir para ver o mar.


Os Contos da Mata dos Medos
já deram tema a várias festas de família.
Na imagem,
um caracol literário encontrado numa "Caça aos Caracóis"

Ao primeiro volume seguiram-se mais três:  A Criatura Medonha – Novos Contos da Mata dos Medos (2007); Um Problema Muito Enorme – Novíssimos Contos da Mata dos Medos (2008); e O Lugar Desconhecido – Últimos Contos da Mata dos Medos (2010). Ao longo de cerca de meia década, estas obras foram responsáveis por momentos de verdadeiro prazer, cá em casa.
A par dos aspetos que singularizam a obra de Álvaro Magalhães, que consegue abordar questões tão profundas como o amor e a morte, com uma generosa dose de humor, esta tetralogia levanta questões de ordem ecológica que passam não apenas pelas ameaças do homem, como o fogo, a caça, ou a poluição, mas também pelos próprios fenómenos naturais, como as inundações ou as tempestades.

Ilustração inicial: os habitantes da clareira do pinheiro grande.

É muito fácil, de facto, criar o gosto pela leitura junto de crianças de tenra idade. Se aos bons livros (e hoje há livros muito bons!) juntarmos um pouco de tempo e entrega (total), diariamente, os momentos de leitura entre pais e filhos convertem-se, efetivamente, em memórias positivas duradouras. 
Apesar de o meu filho mais velho ter aprendido a ler durante o período em que esta coleção passou por nós, estas obras foram, sempre, lidas em voz alta, por mim ou pelo pai. Era um momento aguardado por todos.

A sugestividade dos capítulos do primeiro volume
ou a força das palavras de Álvaro Magalhães

Gostava, pois, de deixar um apelo aos pais que têm agora crianças pequenas: Não deixem de ler aos vossos filhos, pelo facto de eles já terem aprendido a ler. Na verdade, na maioria das vezes, apenas aprenderam a decifrar, e continuam a precisar de quem os guie e acompanhe na descoberta do prazer de ler.


Pormenor do miolo: o ouriço, a toupeira e o caracol.


Esta coleção foi, entretanto, "compilada" num único volume que tem por título A Mata dos Medos (2015), uma obra com ilustrações de Sebastião Peixoto, da qual podemos ler alguma páginas AQUI.

Capa da obra que reúne todos
 os Contos da Mata dos Medos

Sobre a escolha do mais novo...


Dupla página inicial de O Gato Comilão

A escolha do mais novo, O Gato Comilão, encontra-se, sem dúvida, associada ao lado lúdico e à vertente jogo que as narrativas de estrutura acumulativa proporcionam. Trata-se de uma divertida história de um gato que come tudo o que lhe aparece: a velha com quem vive, a panela das papas, e todos aqueles que lhe perguntam: "- Ó gato, porque estás tão gordo?", e a quem vai respondendo  "- Porque comi...".


Dupla página do miolo:
o gato comilão já comeu as papas, a panela, a velha, o anão,
o homem do burro, os cinco pássaros, e prepara-se para comer mais alguém...

É claro que alguém terá de pôr termo à gula do gato...


Dupla página do miolo:
 "o lenhador empunhou o machado que levava às costas e..."

O final inesperado desta narrativa, que coincide com o regresso do gato no momento em que a velha se prepara para comer (finalmente) as papas, ao mesmo tempo que acentua o lado nonsensical que permeia a obra, reforça a sua componente lúdica com um convite para "voltar a jogar". É que... um gato tem sete vidas!


Momento lúdico em torno de O Gato Comilão:
o livro transformou-se num jogo (criado pela educadora de infância)
 e circulou pelas casas das crianças (2006/2007).

(Podem ver AQUI uma recriação que os Triquiteiros de S. João fizeram desta obra)

Que a passagem deste Dia Internacional do Livro Infantil, que este ano se comemora em condições excecionais, em casa, constitua uma oportunidade de reflexão sobre a importância de tornarmos os livros uma presença assídua nos nossos lares, e de fazermos da Leitura um verdadeiro Valor de Família.

Como referiu Pedro Cerrillo (2014), “A literatura, na qualidade de depositária de conhecimentos que deveriam ser obrigatórios numa sociedade de pessoas livres, críticas e interventivas, não pode ser considerada um luxo cultural dispensável”.*

Memórias felizes da família

Hoje é dia de criarmos memórias felizes em torno dos livros e da leitura!

#Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos.


*Cerrillo, P. (2014). “El Poder de la Literatura”. Lección Magistral impartida por Pedro C. Cerrillo en el acto de inauguración del curso académico de la Universidad Española, presidido por SS.MM. los Reys de España. Toledo: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Quando as personagens dos livros ficam a morar em nossas casas

Os companheiros de aventura, ao longo da última semana, nas casas ELF de Trovela, passaram a ser "A Pita Pinta", que deu origem a uma bela melodia ao jeito de Frozen, a "Mara", que, transformada numa bela boneca, passará a viver em casa da família Corvas, um avô dedicado (parecido com alguns dos avôs das crianças), o apressado senhor Sebastião (que foi comparado a algumas mães 😊), entre outros populares habitantes do livro O Som das Lengalengas, como "os sete irmãos" ou "a criada lá de cima".

A Mara ficará a morar no quarto da Juliana eternizando a passagem da família
pelo Programa ELF

No TOP das preferências das crianças está Orelhas de Borboleta, e a carismática Mara, que pinta o mundo de mil cores com as suas inusitadas respostas aos comentários trocistas dos colegas.
A mamã Marília aproveitou e escreveu, juntamente com o Duarte, um interessante texto ao jeito de Luísa Aguilar: Força de Leão.

A mamã Susana, porque não quer separar-se da Mara, deu corpo à personagem construindo uma belíssima boneca que ficará a morar no quarto da Juliana, qual confidente de pequenos segredos ou comentários menos oportunos (imagem acima).

Já a mamã Lurdes partilhou o encanto que quer a Inês, quer a Camila, experimentaram com a leitura da obra: a Camila aproveitou para criar um interessante quadro onde procurou ilustrar as diferentes respostas da Mara aos comentários dos seus colegas.

Respostas da Mara ilustradas pela Camila

O meu avô, de Catarina Sobral, parece ter gerado uma pertinente reflexão sobre a ocupação do tempo lá por casa… Se o João Pedro achou que tinha um avô muito parecido com o da obra, já a Inês referiu que o Dr. Sebastião lhe lembrava a mãe… 😉 Hora de refletir!...



Já o Som das Lengalengas foi alvo de leituras bem engraçadas: devagar, depressa, a rir, a soluçar e… imaginem: até a cantar! É verdade. E nós tivemos o prazer de ouvir a Susana (porque treinou toda a semana) a cantar "Eu tenho uma Pita Pinta" com a melodia de Let it be. Confidenciou-nos a mãe que a sugestão da filha a deixou um pouco baralhada, pois um som tão doce e melódico parecia ter pouco a ver com as “tripas e as patas” de que fala a lengalenga… as experiências de leitura em família não param de nos surpreender! :D 
Em casa da mamã Marinha, os sete irmãos foram um verdadeiro êxito: o João Pedro, segundo relatou a mãe, descobriu o que era “a marreca” graças às ilustrações, pois depois de associar cada irmão à sua “maleita” (conhecida), sobrava o corcunda!! 😊😊😊




Finda a partilha, é hora de recarregar os “frascos do (com) tempo”. A este propósito, e pedindo um bocadinho de tempo à mãe, a Inês personalizou um quantos-queres com corações coloridos aos quais atribuiu significados especiais.


Depois de tão generosa partilha, estamos, naturalmente, ansiosos pelos resultados do novo kit de leituras...


Até já!