sexta-feira, 25 de outubro de 2024

LER fora da escola: 10 livros para aguçar o olhar sobre o que nos rodeia

Tal como falamos AQUI, quinzenalmente dão entrada no #Espaço dos Livros dez novas sugestões de leitura. 10 livros para aguçar o olhar sobre o que nos rodeia foi o mote para a seleção do Espaço dos Livros #2.

Nesta seleção continuamos a privilegiar o texto literário, mantendo-se a diversidade como principal critério, sobretudo em termos de discurso e tipologia de livro. 

Em termos temáticos, poderíamos dizer que a CASA é o fio condutor nesta dezena de livros: a Casa TERRA, que abriga as sementes (que se tornarão flores) que encontramos em A pequena semente; a Casa LUA, um livro cheio de quartos e meninos que se veste de poesia, dando forma aos Filhos da Lua. A Casa dos AVÓS, que ora aparece como ponto de partida, em Corre, Corre, Cabacinha, ora como ponto de chegada em Ainda falta Muito?, ora como palco de festa, como acontece em O Rosto da Avó. A casa que convida a espreitar pela JANELA, permitindo o acesso a mundos surpreendentes, que se revelam em Espreita pela Janela; a Casa CANTEIRO, onde se escondem e descobrem os talentos que nos tornam únicos e especiais, como aprendemos com Herberto, a Casa de FAMÍLIA, que encerra e conta histórias a quem lá entrar, a Casa CORAÇÃO, onde se inventam medidas para os afetos, que encontramos nas páginas de Adivinha quanto eu gosto de ti,  e a Casa do ESPANTO, que se desvenda a cada página de OH! 

Estes livros acolhem-nos como uma verdadeira casa, convidando-nos a olhar o que nos rodeia com olhos de primeira vez. Boa parte deles também mora nesta casa. É uma boa altura para os (re)visitarmos.

A pequena semente integra uma das nossas seleções sobre as Representações do ambiente na LIJ (e é também uma excelente leitura para os dias de outono); Herberto dá corpo à nossa primeira seleção de obras para uma Pedagogia da Felicidade, e aparece amiúde nos livros de LIJ recomendados a adultos. Falamos de O rosto da avó a propósito dos Avós que povoam a atual literatura para a infância, sendo um título igualmente presente nos pódios de recomendações para adultos; Espreita pela janela fez parte do corpus inaugural da nova temporada ELF; Entre os 12 livros que compõem uma das nossas bibliotecas para afilhados encontramos Adivinha quanto eu gosto de ti; e integrado nas representações da arte na literatura infantil, falamos de OH!

Corre, corre cabacinha, de Eva Mejuto e André Letria, é uma obra que nos é muito cara, é um clássico desta casa, pois fez parte do nosso primeiro kit de livros Lê para mim que depois eu conto... (o nosso primeiro projeto de promoção de leitura em família - 2007). Trata-se de uma belíssima adaptação do conto popular português A Velha e os Lobos (recolha de Adolfo Coelho) e é também uma excelente sugestão de leitura de outono! Ainda falta muito?, uma obra de Carla Maia de Almeida e Alex Gozblau (2009) é o livro ideal para ver com olhos de primeira vez. À boleia da pequena narradora e do seu irmão, vamos fazer o percurso da cidade até à aldeia, observando tudo o que habitualmente não vemos. Falamos desta obra AQUI, aquando da última visita da autora ao AE António Feijó.

E é hora de abrir a porta desta casa a dois novos inquilinos: Casa de Família e Filhos da Lua.
Casa de família, um belíssimo álbum de Sophie Blackall (autora de que já falamos AQUI e AQUI) editado pela Fábula, em fevereiro de 2024, é um convite a percorrer os espaços da casa e os da memória, é um livro para nos perdermos e encontrarmos: grandes e pequenos irão recordar aquela porta ou parede onde um lápis marca(va) os centímetros que crescemos, aquela peça de roupa que conta uma história única, ou até o dia da varicela...:). Um livro-casa que promete muitas horas de conversa-aconchego. Filhos da Lua, de Clara Cunha, um livro editado pela Prodidático em 2021, é um hino à imaginação vestido de brincadeira de crianças: quem nunca se sentiu "perseguido" pela lua? quem nunca brincou às escondidas com a lua? Uma brincadeira de crianças que (também) esconde temas sérios... um poema para desvendar ao ritmo das páginas que se desdobram em planos horizontais e verticais, compondo cenários tão diversos como as fases da Lua. Para os apreciadores da Lua dos livros, recomendamos uma visita à nossa seleção de Livros da Lua.

No Diário do Projeto (3) partilhamos sugestões de abordagem a alguns destes títulos.



segunda-feira, 14 de outubro de 2024

LER fora da escola: diário do projeto (2)

Os livros na família: observar, conversar e criar.

Foi este o tema de fundo no segundo encontro com as famílias do JI de Trovela, participantes do projeto LER fora da escola.

 À hora marcada, as mães foram chegando, envergando sorrisos e colocando na mesa os frascos do tempo. O entusiasmo era grande e contagiante, tendo resultado em generosas partilhas sobre as experiências em torno dos livros e da leitura, que foram tendo lugar ao longo da quinzena. 

Em resposta ao desafio do primeiro encontro, a criação de ambientes de leitura - espaço, tempo e sentido, o grupo falou das experiências de criação e organização dos cantinhos da leitura em cada família, da "nova" forma de ler, e, claro, dos frascos do tempo.


Momentos do 2.º encontro | Frascos do tempo

A grande novidade nos cantinhos de leitura foi a escolha do livro (ou livros) a expor. Descobrimos, por exemplo, que há livros com elevado valor afetivo, porque já passaram de mães para filhos, livros especiais que os manos mais velhos não deixam ao alcance dos mais pequenos... 

Mas a maior surpresa foi a revelação de uma mãe que confessou ter muitos livros mas nenhum que mexesse consigo como aqueles que tinham sido apresentados na 1.ª sessão do projeto. Esta mãe, emocionada, referia ter contado as histórias que ouviu, partilhando o efeito surpreendente que tiveram em toda a família. Esta família, para além de espaço e tempo, já descobriu (novo) sentido na leitura. E esta é, sem dúvida, uma das questões determinantes para fazer da leitura em família um valor e um hábito. 

Momentos do 2.º encontro | Frascos do tempo

Já os frascos do tempo permitiram sobretudo aumentar a consciência da importância do tempo de interação entre pais e filhos. Foram várias as mães que referiram ter pintado com os filhos, uma das atividades mais solicitadas, mas muitas vezes adiada por "falta de tempo" Brincar em conjunto, fazer "teatro", desenhar foram algumas das atividades referidas.

 A dinâmica em torno do frasco do tempo permitiu, paralelamente, trabalhar a gestão do tempo em família: uma mãe relatava o facto de os seus filhos se terem mostrado muito mais disponíveis para ajudar os pais em tarefas domésticas, de modo a libertar tempo para fazerem coisas em conjunto. Nesta família, o impacto foi tão grande que a mãe decidiu partilhar a sua experiência no local de trabalho, tendo passado a "oferecer" frascos do tempo a colegas e clientes.

Como podemos ver nas imagem acima, alguns frascos ganharam novos rótulos, "Tempo, o bem mais preciso" e "Doce Tempo" são expressões que constam de dois dos rótulos elaborados, e que refletem a importância que as famílias atribuíram ao tempo em conjunto. É ainda percetível a exploração do conceito "rótulo" no frasco "Doce Tempo". Nesta família, de acordo com o testemunho da mãe, pais e filhos estiveram a analisar diferentes rótulos de outros produtos alimentares. O rótulo elaborado, "Doce Tempo: temperado e adoçado pela família..." espelha o resultado desta "análise". Como refere Michel Desmurget, no seu recente trabalho Ponham-nos a Ler, a propósito da leitura em família, "divertimento, caso contrário, nada".

Os livros que vão rodar pelo grupo de famílias ao longo deste mês

A segunda parte desta sessão foi dedicada à apresentação de alguns livros e à exploração de possíveis estratégias de abordagem aos mesmos, em família.
Uma vez experimentada a exploração de elementos paratextuais, e testado o seu efeito ao longo da última quinzena, deixamos ao grupo um conjunto de sugestões para tirar ainda mais partido dos livros, enquanto meios privilegiados para observar, conversar e criar. 

Neste conjunto de obras, que integram a seleção 10 livros para o leitor em formação, disponível no Espaço dos Livros, encontramos diferentes representações da família, um tema próximo da criança e da família, que favorece a identificação e a interação.

Todos fazemos tudo

-  Criar diferentes famílias / grupos de pessoas, a partir do jogo com as “fatias” (oralmente).

-  Criar pequenas histórias baseadas nas personagens e ações do livro: por exemplo, a rotina de uma família ao longo de um dia; a rotina de uma pessoa ao longo de uma semana (escolher pessoas de diferentes idades: o avô, a criança, o jovem…); um dia nas férias, um dia noutro lugar do mundo (explorar a diversidade); (oralmente);

-  Criar, em conjunto, um minilivro ao jeito deste, representando, em tiras, os elementos da família e as diferentes tarefas da casa / jardim, etc. Brincar com o livro.

 Aqui estamos nós

-  Observar as ilustrações do livro, os pormenores, as palavras soltas e conversar sobre o que vão observando.

-  Incentivar a criança e outros elementos da família a indicar a sua página favorita, referindo porquê; a encontrar situações parecidas com as dos seus ambientes.

-  Comparar as páginas preferidas de cada um; registar algum excerto poderoso no diário do projeto.

 A Manta do José

Conversar sobre as diferentes transformações que o José e a Manta vão sofrendo, ao longo da história.

-  Conversar sobre as atitudes de cada personagem: o José, a mãe e o avô;

Escolher uma peça de roupa que já não tenha uso e dar-lhe uma nova vida: fazer uma bola, um rótulo para o frasco, uma capa para o diário, o forro de um boião, etc…


O grupo de watsapp mantém-se ativo e, à semelhança do que foi acontecendo depois do 1.º encontro, também desta vez foram sendo partilhadas algumas experiências decorrentes das leituras realizadas. Na imagem acima podemos ver uma atividade em família que cruza a utilização do "tempo do frasco" com a leitura do livro A Manta do José


Acompanhe este projeto na nossa salinha virtual.




sábado, 12 de outubro de 2024

Ler fora da escola: 10 livros essenciais para o leitor em formação

No âmbito do projeto LER FORA DA ESCOLA são disponibilizados, quinzenalmente, no portal RBE e na plataforma LER, Roteiros para Pais com orientações para ler com os filhos. No portal RBE são também apresentadas sugestões de livros.

A cada quinzena, dez novos livros dão entrada no Espaço dos Livros.

10 livros essenciais para o leitor em formação foi o mote para a seleção que acompanha o Roteiro 1.

Da literatura popular, passando pelas representações da Natureza e da Família, até aos temas difíceis, ora sob a forma de narrativa, de poesia, de abecedário,  de álbum sem texto ou de livro brinquedo, neste primeiro conjunto privilegiamos a diversidade autoral, editorial, discursiva e temática, com o objetivo de oferecer uma pequena amostra do vasto universo literário para a infância, e das potencialidades de que se reveste a literatura.

Encontramos a tematização da Natureza em As Estações, de Iela Mari, obra de que falamos aqui, a propósito da representação das estações do ano; em Boa noite, mocho, de Pat Hutchins, uma belíssima narrativa de estrutura cumulativa, que integra o corpus que analisamos em Quando os Livros se tornam família; e em Zoodário, um divertido abecedário literário, em forma de poesia, de Luísa Ducla Soares e Eli Gallego. Estes livros ajudam-nos a apreciar a beleza do que nos rodeia, a conhecer e a experimentar as leis e os ritmos da Natureza (e os nossos).

Um cheirinho de literatura popular na belíssima edição do Capuchinho Vermelho da Jacarandá, com texto dos Irmãos Grimm e ilustrações de Roccio Bonilla (para os fãs de Capuchinhos Vermelhos recomendamos uma espreitadela AQUI), e no Livro das Lengalengas 2, de António Mota e Elsa Fernandes, um convite a revisitar a infância e a brincar com as palavras.

Frederico, de Leo Lionni, é já um "clássico" das nossas seleções (integra as bibliotecas para afilhados e as recomendações de LIJ para adultos) e O Caminho da Montanha, de Marianne Dubuc, é uma pequena grande maravilha da literatura infantil, um hino à sensibilidade e à coragem, e, simultaneamente, um convite à reflexão sobre a efemeridade da vida, a inevitabilidade dos fins e a continuidade dos ciclos (esta obra integrou o nosso 31 de livros 2023).

Diferentes representações da família podem ser encontradas nas obras Aqui estamos nós, de Oliver Jeffers, e A manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, livros que integraram o corpus inaugural da nova temporada ELF, e ainda em Todos fazemos tudo, de Madalena Matoso, um belíssimo livro às fatias, que além de uma excelente reflexão sobre as questões de género, é também um convite a brincar e a criar.

No diário do projeto (2) partilhamos algumas sugestões de abordagem a estas três obras (AQUI).


sábado, 5 de outubro de 2024

Ler fora da escola: diário do projeto (1)

Criar ambiente ricos de leitura: espaço, tempo e sentido.

Foi este o mote para o primeiro encontro oficial LER FORA DA ESCOLA, com o "grupo piloto" (de que falamos AQUI). 

Cantinhos e momentos de leitura, em casa, após o 1.º encontro

Depois de uma primeira abordagem na reunião geral de encarregados de educação, na abertura do ano letivo 2024/2025, junto de uma sala da EPE da EB de Trovela, onde explicamos sucintamente o projeto, e oferecemos aos presentes uma primeira leitura de degustação (escolhemos o texto Onde está a felicidade, de Álvaro Magalhães, que apresentamos AQUI), marcamos o primeiro encontro para o dia 16 de setembro.

(Atendendo ao facto de estas famílias constituírem o grupo piloto, precisávamos de ganhar algum avanço)

À hora marcada, a biblioteca escolar de Trovela (uma das bibliotecas de António Feijó) acolhia um simpático grupo de mães, ávidas e curiosas, acompanhadas pela educadora dos seus filhos, a professora Carmo. 

Nesta sessão inaugural focamo-nos no espaço, tempo e sentido, como aspetos determinantes para a criação de ambientes ricos de leitura.

O conto Tiempo de Sol, horas de Luna, que podemos encontrar em Leamos Juntos (pág, 10-13) ofereceu-nos o contexto ideal para abordarmos a inquietante questão da falta de tempo. Inspirados em Vicente, o protagonista deste conto, oferecemos aos pais um frasco do tempo, desafiando-os a conversar em família sobre o que gostam / gostariam de fazer em conjunto, prevendo tempo para o concretizarem. 

Apresentamos, depois, dois exemplos de obras literárias para a infância que serviram o propósito de experimentar algumas estratégias de abordagem ao livro: a exploração de elementos paratextuais (capa, contracapa, guardas, folha de rosto...), a ativação de conhecimento do mundo, a antecipação de possibilidades narrativas, as potencialidades do diálogo texto-ilustração, etc.

(Recorremos a dois textos que há muito nos acompanham nos projetos que vimos desenvolvendo em ambiente familiar: a Princesa de Aljustrel, de Patacrua e Agora não, Duarte, de David Mackee - falamos destas obras AQUI).

Cantinhos da Leitura com diferentes disposições, onde é visível a exposição de capas e alguns frascos do tempo!

A finalizar, convidamos os pais a criarem; durante a quinzena, o cantinho dos livros, organizando-os de acordo com critérios a acordar com as suas crianças (temas, tamanhos, preferências). Completamos a sessão com algumas dicas de arrumação, como por exemplo, a exposição frontal de alguns livros, convidando os presentes a partilhar connosco as experiências que fossem tendo lugar em suas casas.

Cantinhos da Leitura e frasco do tempo em lugar de destaque.

Foi, pois, com muita satisfação que, ao longo da quinzena, vimos chegar ao grupo de watsapp criado para o efeito os cantinhos da leitura que se iam compondo em casa destas famílias.

No 2.º encontro ficaremos a saber o que contêm os frascos do tempo e os detalhes da experiência de criação e organização destes cantinhos: fazer da leitura um valor de família passa por aqui.

Até já!

                                     

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Novo projeto: LER FORA DA ESCOLA

"Para que os livros e a leitura sejam uma realidade em todas as famílias!"

É este o mote do projeto LER FORA DA ESCOLAuma parceria entre a Rede de Bibliotecas Escolares e a EDULOG. 

Porque acreditamos profundamente na bondade dos livros e no poder da leitura, aceitamos o desafio e abraçamos este novo projeto.



O "grupo piloto" é composto por pais de crianças da Educação Pré-Escolar da EB de Trovela, do Agrupamento de Escolas António Feijó (AEAF). Este grupo, juntamente com a educadora, assumiu o compromisso de, mensalmente, reunir connosco para partilhar as suas experiências de leitura em casa com os seus filhos, descobrir novos livros e estratégias de leitura, e colocar a sua experiência ao serviço das demais escolas e famílias que, pelo país, vão abraçar este projeto.
Um "cheirinho" das experiências iniciais foi já partilhado na comunicação Leitura: um valor de família, que integrou a sessão de apresentação nacional do projeto.
Esta iniciativa integra, no AEAF, as ações a Ler mais e melhor, no eixo Envolvimento da Família.

À semelhança do que vimos fazendo com outros programas e iniciativas, LER FORA DA ESCOLA terá "nesta casa" uma salinha própria: AQUI, onde os nossos leitores poderão acompanhar o diário do projeto, conhecer os livros que aconselhamos e lemos com os pais, e ainda aceder aos diferentes materiais que a RBE e a EDULOG disponibilizam nas suas plataformas.

Seguimos juntos, "para que os livros e a leitura sejam uma realidade em todas as famílias!"

Até já!

sábado, 22 de junho de 2024

O mundo seria melhor se os adultos lessem mais literatura infantil

O título deste texto é um excerto do testemunho de uma aluna de Licenciatura em Educação Básica (LEB) na aula de balanço da UC de Literatura infantojuvenil.

É sempre deste modo que encerramos o ano letivo. Os estudantes são convidados a responder a duas questões: o que levam da UC, e que livro de literatura infantil recomendariam a um adulto.

A leitura gratuita, o conhecimento de livros, em quantidade e diversidade, e as estratégias de abordagem à obra literária encontram-se entre os aspetos mais valorizados na UC.  No top+ das recomendações de livros LIJ aos adultos estão as representações dos avós, os temas fraturantes, os "livros perguntadores" e os álbuns poéticos.

Algumas das obras mais recomendadas pelos estudantes da LEB

Alguns estudantes referiram um antes e um depois desta UC, pelos horizontes que se abriram ao longo do ano, no que diz respeito ao livro e à leitura. Houve alunos que começaram a ler, e outros que retomaram o hábito. A frequência de bibliotecas tornou-se assídua para alguns, e as secções do livro infantil, em livrarias e grandes superfícies, passaram a ser de visita obrigatória. Houve estudantes que começaram a construir a sua própria biblioteca, e outros que começaram a oferecer livros aos familiares e amigos. 

É incontornável a questão do mundo novo que se abre a partir da LIJ.

"Um novo olhar sobre a Literatura Infantil", reflexão retomada muitas vezes neste balanço, que envolveu cerca de 70 alunos, encontra-se espelhado nos 36 títulos da LIJ, referidos como sugestões de leitura para adultos. Vamos falar um bocadinho desta seleção literária, e conhecer os livros e os motivos que estiveram na base destas recomendações. 

As representações dos avós são um dos temas de eleição deste público

Ao podium chegaram, em primeiro lugar, O Rosto da Avó, de Simona Ciraolo, As mãos do meu pai, de Deok Kiu Choi, e Se o mundo inteiro fosse feito de memórias, de Joseph Coelho, ex aequo.
"Este livro é um lembrete para criar mais rugas, que é como quem diz, viver mais", referia uma aluna a propósito de O Rosto da Avó, uma obra considerada um hino à memória, um acordar de histórias de vida, um espaço de nostalgia... (falamos desta obra AQUI).
Na verdade, a quantidade de títulos onde os avós são a figura central, evocados pelos estudantes, são reveladores da importância que têm nas suas vidas. Alguns alunos "encontraram-se" no livro, percebendo que "não estavam sós", como aconteceu com O avô tem uma borracha na cabeça, de Rui Zink e Paula Delecave,  ou com Maria Nêsperade Patrícia Martins e Joana Miguel, uma obra que é um hino à Terra, à Mulher, à Vida, às Sementes, à Ternura e ao Legado Feminino que pode passar de geração em geração; um livro onde a Saudade e a Esperança andam de mãos dadas.
"As nossas raízes e as memórias de infância estão sempre connosco", referiram alguns alunos a propósito destes títulos, e de outros como Jerónimo e Josefa, de José Saramago e João Fazenda ou a  A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, obra que também traz uma reflexão sobre "a valorização emocional das coisas", nas palavras de uma das estudantes (também falamos deste livro AQUI).
As mãos do meu Pai, um livro quase sem palavras, "atípico" como se lhe referiu uma aluna, teve na origem das recomendações motivos bem diferentes entre si. Quer junto de filhos de pais separados, onde a figura paterna se encontra pouco presente, quer junto de filhos com estreita ligação ao pai, quer pela reflexão em torno do envelhecimento e do caráter cíclico da vida, esta obra teve um forte impacto junto dos estudantes: 
Foi a propósito deste livro que foi apresentado o testemunho que dá título a este texto "o mundo seria melhor se os adultos lessem mais literatura infantil, lessem este livro." 
(esta obra fez parte da nosso "31 de livros", uma seleção 2023, que apresentamos na nossa página de instagram)
Os diálogos entre avó e neto, mas sobretudo as respostas desconcertantes (e com um toque de humor) da avó, foram os motivos da escolha de A última Paragem, de Matt de la Peña e Christian Robinson. Dentro desta temática encontra-se ainda a obra Todos fazemos tudo, de Madalena Matoso, um livro "às fatias", exclusivamente composto por imagem, referido pelas "potencialidades de reflexão e conversa que pode gerar, sobretudo no que às questões de género diz respeito".
Alguns dos títulos que os estudantes consideraram abordar temas difíceis

Os temas difíceis, ou fraturantes, encontram-se igualmente, de forma expressiva, entre as recomendações LIJ para adultos. Nesta seleção encontramos textos que têm por base acontecimentos de cunho histórico, como O Autocarro de Rosa Parks, de Fabrizio Silei e Maurízio A. C. Quarelo (também falamos desta obra AQUI e AQUI), Capitão Rosalie, de Isabelle Arsenaut e Timotée de Fombelle, Com 3 novelos, o mundo dá muitas voltas, de Henriqueta Cristina e Yara Kono, que, à semelhança do recente 25 Mulheres, de Raquel Costa (2024), assenta em questões decorrentes do 25 de Abril, com especial ênfase nas representações da Mulher, "o livro apresenta um vasto leque de representações da mulher que é preciso fazer ouvir", referia uma aluna a propósito da obra. Trata-se, com efeito, de um livro que muito apreciamos, quer em termos de tema, quer de discurso, um livro que podemos incluir nos Abecedários ou Dicionários Literários.
Destas obras emergem temáticas como a guerra, a segregação racial, a morte, o bullying, a liberdade... mas também a esperança, como dizia uma estudante a propósito de O Mar Viu, de Tom Percival. A originalidade, ditada pela subtileza do humor presente em Orelhas de Borboleta, de Luísa Aguilar e André Neves, foi o motivo que ditou a recomendação deste popular álbum, presença assídua em várias edições do programa ELF, assim como Depois da Chuva, de Miguel Cerro, obra que chegou ao TOP+ pela abordagem que propõe ao preconceito, "um assunto muito atual", segundo este público.
Alguns dos "Livros Perguntadores" recomendados a adultos pelos estudantes da LEB

Livros especialmente indutores de reflexão, ou "Livros Perguntadores" dão forma a uma generosa fatia deste conjunto de recomendações. Algumas destas obras já adquiriram o estatuto de "clássicos" entre nós, tão frequente é a sua nomeação. É o caso de A árvore generosa, de Shell Silverstein, de que falamos num balanço anterior, ou de Frederico, de Leo Lionni, porque "precisamos de alimento para a alma", defendia uma das estudantes. 
A encabeçar esta temática estão O muro no meio do livro, de Jon Agee, que trouxe uma reflexão sobre "o bem e o mal", "o certo e o errado", e, sobretudo, "o hábito adulto de julgar pelas aparências", no dizer dos estudantes; O Destino de Fausto, de Oliver Jeffers, "poque nos ajuda a entender o nosso lugar no mundo e a valorizar o que temos", e Herberto, de Lara Hawthorne, pela identificação, e porque constitui
 "um convite a olhar para nós: o que posso entregar ao mundo e oferecer à sociedade?", como, generosamente, partilhou uma aluna, referindo-se aos efeitos que esta obra teve em si.
De Oliver Jeffers, entra ainda neste TOP a sua emblemática obra Aqui estamos nós, apontamentos para viver no planeta Terra, porque encerra uma valiosa reflexão sobre o Tempo e o que fazemos com ele, trazendo-nos a consciência de que pertencemos a algo maior, motivo que também esteve na origem da escolha de Não há dois iguais, de Javier Sobrino e Catarina Sobral. Tratam-se, com efeito, de dois excelentes livros sobre as representações da Diversidade e da Alteridade. 
Chocolata, de Marisa Nuñez e Helga Bansch, e Ainda Nada, de Christhian Voltz, voltam a entrar nesta lista, pela reflexão que propõem sobre nós mesmos, "a busca incessante pelo que não temos, e a impaciência perante as coisas da vida, até descobrirmos que afinal estava tudo tão perto", reflexão que também emerge de Onde está a felicidade, de Álvaro Magalhães, outro dos "clássicos" nestas recomendações.
(A obra Ainda Nada integrou o primeiro corpus Lê para mim que depois eu Conto..., projeto que marca o arranque do nosso percurso na promoção da leitura em família).
Especialmente reservado à importância do Sonho está o livro O voo do golfinho, de Ondjaki e Danuta Wojciechowska, uma obra que questiona "a obrigatoriedade de nos encaixarmos num modelo de sociedade com o qual não nos identificamos" e que "conversa com Frederico".


Alguns dos álbuns poéticos que integram as recomendações do público estudantil 

Particularmente surpreendente foi o número de álbuns poéticos referidos pelos estudantes. A descoberta do Haiku, de Matsuo Bachô, em O Eremita Viajante, foi uma autêntica revelação que despoletou uma espécie de "corrida ao haiku" e a outros poemas breves. Autores como João Pedro Messéder, com Coisas que gostam de coisas ou Canções do ar e das coisas altas, obras ilustradas por Rachel Caiano, ou João Manuel Ribeiro, com Burburinhos ou o Beijo dos Relâmpagos à Montanha, encontram-se entre as preferências poéticas deste público estudantil. "São poemas que nos interrogam, que nos obrigam a pensar no porquê; que nos ajudam a ver para além do óbvio, que apresentam um olhar diferente sobre a poesia", referiram alguns dos estudantes que elegeram o álbum poético para recomendar aos adultos, reconhecendo que haviam feitos "as pazes com a poesia".
A liberdade, tema forte do ano, esteve na origem da escolha do recente trabalho A canção do Pássaro Toc, uma coletânea de Fran Pintadera e Anna Font (2024), com destaque para o texto De que é feita uma gaiola, "poema anticonformista", de acordo com a aluna que o escolheu. 
Partilhamo-lo, aqui, em jeito de miminho de encerramento:

De que é feita uma gaiola?
Não importa o material
com que seja fabricada:
uma gaiola é sempre feita de medos.
E quando se prende um pássaro
com ferro,
vime ou madeira,
talvez o que se esteja a prender
seja o medo de voar.
(Pintadera e Font, 2024)

Apenas um apontamento final para os Clássicos da LIJ. O Principezinho, de Antoine de Saint Éxupery, foi a escolha de um aluno que referiu ter redescoberto este texto que havia lido na adolescência, mas que não tinha tido o mesmo efeito em si (este é um dos efeitos dos clássicos, vai-se revelando a cada nova leitura), e A rapariguinha dos fósforos, o incontornável conto de Hans Christian Andersen, que não deixa ninguém indiferente. Inesperado foi o motivo que a aluna que recomendou este texto apresentou "trata-se de um conto que mexeria com muitos adultos que passaram dificuldades na infância, como aconteceu na minha família". 
De facto, nunca sabemos qual é a "cordinha" que a obra vai tocar...


Durante um ano letivo, passam alguma centenas de obras da LIJ pelas mãos dos estudantes da LEB, futuros educadores e professores, mas também futuros (e às vezes atuais) pais, tios, padrinhos e madrinhas. Mediadores de Leitura, portanto.
Apostar no apetrechamento da enciclopédia literária destes estudantes é investir na construção de um mundo melhor. Partilhamos da opinião da aluna que referia que o mundo poderia ser melhor se os adultos lessem mais literatura infantil. Os livros têm um papel importante na descoberta do nosso caminho, daquilo que podemos entregar ao mundo, como referia outra aluna.
Ninguém ama o que não conhece. Ninguém dá o que não tem. Dar a conhecer é missão da escola, pois se a escola não o fizer, ninguém o fará.
Ainda que um ano não permita um aprofundamento das muitas questões em torno da LIJ, acreditamos que tenha permitido deixar algumas sementes. Aqueles que conseguimos seduzir, serão professores diferentes.
Obrigada por mais um ano a crescer convosco!
Seguimos acreditando na bondade dos livros e no poder transformador da leitura literária.
Até já!

quinta-feira, 21 de março de 2024

(Re)pensar a Leitura em Família a partir da Biblioteca Escolar - publicação CNE

"Que a leitura traz benefícios ao nível do enriquecimento lexical e da correção ortográfica, que, por sua vez, se traduzem num melhor desempenho escolar, é uma ideia globalmente aceite. E se, afinal, esses forem só os efeitos secundários da leitura? E se a leitura puder também contribuir, não apenas para o sucesso e exercício da cidadania, mas também para o bem-estar e felicidade das crianças, das suas famílias e até das nossas escolas? Nos nossos dias, a escola em geral, e a biblioteca escolar, em particular, oferecem o contexto e as condições ideais para conhecer, experimentar e viver os benefícios da leitura. É, todavia, necessário, conhecer e deixar-se seduzir. Apostar na formação dos principais mediadores de leitura, pais e professores, poderá ser a peça em falta entre o investimento tutelar e os desejados resultados no que respeita aos hábitos de leitura dos jovens portugueses. No agrupamento de Escolas António Feijó (Ponte de Lima), a leitura em família faz parte da sua identidade." (Barros & Gandra, 2023) 

É à luz desta questão que apresentamos o percurso das Bibliotecas António Feijó no artigo (Re)pensar a Leitura em Família a partir da Biblioteca Escolar, da autoria de Lúcia Barros, coordenadora da Biblioteca Escolar A. Feijó e de Carla Gandra, Coordenadora Interconcelhia RBE, no primeiro número da DICA - Divulgar, Inovar, Colaborar, Aprender, uma publicação do Conselho Nacional de Educação "cujo principal propósito é contribuir para que o trabalho das escolas/agrupamentos e de todos os seus profissionais seja mais conhecido por parte das comunidades escolares e da sociedade em geral".

Artigo completo:

 (Re)pensar a Leitura em Família a partir da Biblioteca Escolar

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O (novo) Natal dos Livros

A cada ano, a nossa biblioteca de Natal vai crescendo: as representações do Natal na literatura para a infância e juventude constituem um gosto e interesse pessoal. Na vastíssima publicação que encontramos à volta deste tema, é possível conhecer ou revisitar o imaginário de Natal que nos enforma, familiarizar-se com o Natal de outras paragens, e (em tendência crescente) refletir sobre problemáticas sociais emergentes.

Para ilustrar o novo Natal dos livros, selecionamos quatro títulos, publicados em 2023, que nos parecem constituir uma amostra interessante das tendências temáticas da (atual) literatura de Natal para a infância e juventude. Com a criança no centro e "as solidões" ao fundo, nesta seleção encontramos famílias diferentes que partilham angústias comuns. Estes títulos integram o nosso "31 de livros", que, ao longo do mês de dezembro, ao ritmo de um por dia, nas redes sociais FB e Instagram, vem dando corpo à seleção 2023


Algures na Neve, de Linde Faas (2023), editado pela Baduga, foi uma das últimas entradas na nossa “biblioteca de Natal". Trata-se de um livro marcado pela beleza das ilustrações e pela subtileza da mensagem. 

Sofia vive com o pai e a sua casa destoa das demais, nesta época natalícia. É pela mão desta criança, e à boleia de um alce, que somos conduzidos bosque adentro em busca da Luz. É neste lar que a pequena Sofia vai encontrar um pouco do amparo e do aconchego que lhe faltam no seu. 

Um livro que coloca o dedo numa das feridas dos tempos que vivemos: a dádiva do Tempo e como escolhemos gastá-lo. Um livro com neve por fora e por dentro, porque “arrepiar-se” pode ser o primeiro passo para descobrir auroras.


Um desejo de Natal, de Helen Mortimer e Rachael Dean (2023), editado pela Minutos de Leitura, é um livro "com livros dentro”, outra das nossas paixões literárias. 

Henrique, a criança que protagoniza esta narrativa, vive com os pais por cima da livraria O Encanto das Palavras, um lugar ao fundo da rua, cada vez menos procurado e mais solitário, numa cidade onde "as pessoas seguem apressadas". É seguindo os sonhos desta criança, que voltamos a acreditar no poder das palavras e na possibilidade de fazermos acontecer.

Este livro junta a infância, a magia e o imaginário de Natal numa missão urgente, revelando-se, mais do que um livro de Natal, um elogio ao livro e às livrarias. 


Aquele Natal inteiro e limpo, de José Gardeazabal e Susana Matos (2023), editado pela Kalandraka, foi o último livro a dar entrada na nossa biblioteca deste ano. Consideramo-lo o livro do Natal 2023.

Trata-se de uma original analogia entre o Natal e a revolução do 25 de abril, numa narrativa protagonizada por uma neta curiosa e um avô que se “perdeu nos labirintos da memória”. 

E é entre as perguntas da neta e as respostas do avô, que compreendemos que nada é para sempre, que para que o Natal seja todos os dias, assim como a a Liberdade (não são a mesma coisa afinal?), precisamos de arregaçar as mangas (a cada nova manhã). 

É com as palavras de Sophia em música de fundo que percorremos as páginas desta obra, tentando manter a esperança e acreditando que cada Natal encerra a possibilidade de uma nova madrugada com um final feliz.


Como é que o Pai Natal desce pela chaminé?, de Marc Barnett e Jon Klassen (2023), editado pela Orfeu Negro. Retomando a figura do Pai Natal, apreciamos, sobretudo, o espírito perguntador que o atravessa.

Nesta obra podemos intuir um narrador criança ou adulto, dependendo da idade natalícia de cada um. Aliando o humor ao espírito perguntador, num desfilar de perguntas desconcertantes acompanhadas de inusitadas possibilidades de resposta (com novas perguntas dentro), este livro é um excelente alimento para o pensamento crítico e criativo.

Um olhar mais demorado à componente pictórica pode conduzir-nos a outras reflexões, como a solidão do Pai Natal. Um livro com muitos espaços em branco para o leitor preencher (ou não).

Desengane-se, pois, quem acha que já tudo foi dito ou escrito sobre esta emblemática figura do imaginário do Natal.

Se, tal como nós, são fãs de livros onde mora o Natal, poderão gostar de (re)visitar o nosso calendário de leituras de advento, assim como o Natal dos (novos) livros.

Se são fãs de Literatura Infantil, poderão gostar de conhecer a nossa secção Livros por Temas.

A todos desejamos um quadra festiva cheia de paz, de amor e de boas leituras! [LMB]