Formar mediadores de leitura, aproximando a investigação do público em geral, e das famílias em particular, é a nossa missão.
O nosso trabalho tem por base o conhecimento de livros e de estratégias simples de abordagem à leitura partilhada, que privilegiam a afetividade, a ludicidade e a literacia familiar.
Hoje regressamos com sugestão de uma dupla nacional: Clara Cunha, bem conhecida entre nós pelos seus famosos Cuquedos, e Natalina Cóias: Feliz Natal Lobo Mau é o livro que espreita da janelinha nº3 do nosso Calendário de Leituras de Advento.
"Esta é a história do Lobo Mau, que na noite de Natal andava à procura da Capuchinho Vermelho, mas não a encontrou. Quem ele viu foi o Pai Natal, que estava escondido da Avozinha, que por pouco não o apanhou a comer as bolachinhas."
É assim que começa este divertido texto, que, recuperando elementos dos contos populares, como a Capuchinho Vermelho, os Três Porquinhos ou a Velhinha da Cabaça, se aresenta com um enredo hilariante e um final bastante surpreendente.
Esta obra reúne, então, algumas das personagens bem conhecidas de todos nós, e reinventa alguns "clichés" (sabiam, por exemplo, que a cada mentira do Lobo Mau, não lhe crescia o nariz, mas sim a cauda?), propiciando um interessante diálogo intertextual.
Paralelamente, este álbum narrativo desconstrói também alguns lugares comuns: parece que afinal o Pai Natal não é assim tão conhecido... (pelo menos o Lobo Mau não o reconhece, chegando quase a confundi-lo com a Capuchinho Vermelho, o que deixa o velhinho de barbas brancas bastante aborrecido).
O nosso Lobo Mau é, de facto, um Lobo Mau, como ele próprio diz... o que torna difícil pôr em prática algumas das sugestões que o Pai Natal lhe dá (imagem abaixo).
Ainda assim, o Lobo Mau acaba por ter direito a um presente bem surpreendente (será que o feitiço se pode virar contra o feiticeiro?)
Para além da leitura, sugerimos:
1. Um presente para o Lobo Mau: o que oferecerias ao lobo? Porquê? Vamos desenhar esse presente?
2. Uma receita de "Bolachinas de Natal": aproxima-se o fim-de-semana, um tempo propício a fazer bolachinas. A nossa sugestão é procurar uma receita e reunir os ingredientes, para que não falte nada no dia de as confecionar!
Não se esqueçam de partilhar connosco as vossas experiências.
Lá dentro esconde-se um belíssimo livro, onde convivem um sonho, um agricultor, uma árvore e outros habitantes muito especiais...
Trazemos Sonho de Neve do inconfundível Eric Carle.
Este livro, para primeiros leitores, guarda uma narrativa bem ternurenta, marcada pela simplicidade que caracteriza o estilo do autor, que é também ilustrador.
Sonho de Neve conta a história de um agricultor que "tratava muito bem do Um, do Dois, do Três, do Quatro e do Cinco. Alimentava-os todos os dias e limpava-lhes os estábulos...". Já descobriram quem são os misteriosos habitantes desta quinta?
Depois de tratar dos seus "Números", o nosso agricultor ia para ,casa, "sentava-se no seu cadeirão favorito, bebia um chá quente de hortelã-pimenta e comia uma fatia de pão com mel". Uma noite, teve um sonho... que se tornou um bocadinho realidade: um sonho de neve, que tinha pintado a (sua) paisagem de branco (imagem acima).
Tão deslumbrado ficou o nosso agricultor que quase se esquecia de algo muito importante... Mas afinal, ainda foi a tempo!
Esta história recupera alguns dos elementos mais emblemáticos do Natal, como a neve, os presentes, o estábulo, a árvore, o Pai Natal... reinventando-os numa narrativa que é (também) um convite à simplicidade e à vivência diária da essência do Natal.
O que sugerimos para além da leitura?
1. Já descobriste quem são os misteriosos habitantes? Se tu fosses o agricultor, que nomes lhes davas?
2. Já reparaste que alguns dos animais do estábulo fazem parte do presépio? E se os outros também fizessem? Que função poderiam ter? Podes escolher um dos animais e representar, num desenho, por exemplo, a sua "tarefa" no presépio.
3. E se continuássemos a história de Eric Carle? Os presentes estão mesmo a pedir para serem abertos... O que terá recebido cada um dos animais do estábulo?
Ficamos à espera das vossas respostas! Enviem-nos através do formulário desta página, ou respondendo nos comentários de cada publicação, ou então através das nossas páginas de Facebook e Instagram. Divulgaremos todos os trabalhos e no dia de Natal sortearemos dois livros entre todos os participantes.
E porque gostamos do Natal e queremos fazer valer 2020, decidimos ir em busca do Natal nos Livros e trazer, ao longo destes 24 dias, em jeito de Calendário de Advento, 24 sugestões de leituras de Natal.
Alguns dos livros que vão espreitar do nosso Calendário de Leituras do Advento
Este é o mês em que chega o inverno, em que sabe bem estar à lareira, é um mês com feriados e com férias, e, neste ano tão diferente, é um mês para voltar a ficar em casa... Prometemos, pois, tornar este mês especial: com livros por perto, uma mantinha e uma caneca de chocolate quente, não há tédio que resista!
E para tornar o Natal com Livros ainda mais interessante e interativo, do nosso calendário sairá, em cada dia, uma, ou mais, sugestões de atividades relacionadas com o livro do dia e com o Natal.
Muito nos agradará, pois, que nos façam chegar as vossas experiências e testemunhos, inspirados neste calendário especial. No dia de Natal teremos uma surpresa...
Dia 1: O Livro do Natal de José Jorge Letria e Afonso Cruz
Para abrir o calendário, e porque ainda haverá quem não fez o presépio, ou não escolheu o menu da consoada, ou esteja a decidir se "encomenda" o presente ao Menino Jesus ou ao Pai Natal... propomos este maravilhoso álbum poético, que reúne 18 poemas em torno desta época:
O Presépio, A Estrela de Belém, Maria e José, O Burro do Presépio, A Vaca do Presépio, A Ovelha do Presépio, A fala do Menino Jesus, Os Reis Magos, O Sonho do Menino Jesus, O Presépio dos Avós, O Preru da Consoada, A Árvore de Natal, A Missa do Galo, O Pai Natal, Os doces de Natal, As Prensas de Natal, O Natal da Escola, e O Espírito de Natal.
A Ovelha do Presépio: um dos poemas da obra
Trata-se, sem dúvida de um livro muito interessante, onde se cruzam o habitual engenho com as palavras, tão característico de José Jorge Letria, com as inconfundíveis ilustrações de Afonso Cruz, cujo humor acrescenta novas interpretações aos textos, como é possível constatar na imagem acima.
Um livro para ativar o imaginário do Natal.
O que sugerimos para além da leitura?
1- Verificar se falta algum "assunto importante" nos 18 títulos. Há sempre alguma coisa em falta, pois cada Natal tem as suas particularidades. Vamos acrescentar um título?
2- Construir uma ovelha, em material de desperdício, e atar-lhe uma legenda com um desejo ou uma mensagem de Natal.
Ficamos à espera das vossas "janelinhas" do calendário (que é como quem diz, das vossas respostas às nossas sugestões). Partilharemos os trabalhos nesta página e nas nossas páginas de Instagram e Facebook. Espreitem no menu à direita.
No dia de Natal, sortearemos dois livros entre todos os participantes.
O Programa ELF tem vindo a ser distinguido, nas várias edições desde 2017/2018, com o selo Escola Amiga da Criança. Em 2019/2020 a distinção foi atribuída à EB de Rebordões Souto (Ponte de Lima), a escola que viu nascer o primeiro projeto de promoção da leitura em ambiente familiar, no "longínquo" ano de 2007.
Momentos da Tertúlia de Encerramento
A edição ELF 2019/2020 teve lugar entre janeiro e março, tendo a tradicional tertúlia de encerramento coincidido com a abertura da semana da leitura 2020, um momento que ficará na memória de todos os que nela participaram, não só pelas marcas que o projeto deixa naqueles que o vivem, mas também porque foi o último momento festivo do ano letivo (dias depois assistíamos ao encerramento das escolas).
Mensagem da Direção: o professor João Carlos Gonçalves parabeniza as famílias participantes.
Vale a pena, portanto, no âmbito desta distinção, reviver o passado dia 6 de março e recordar alguns dos momentos marcantes dessa festa, que reúne a leitura e os afetos à mesma mesa.
Duas mães participantes partilham o seu testemunho com os presentes
O entusiasmo com que cada família partilha a sua experiência é revelador da transformação proporcionada pela participação no projeto. Na imagem acima é visível a alegria da partilha de dois trabalhos que resultaram de uma experiência muito especial em torno das obras O meu avô, de Catarina Sobral e O Princípio, de Paula Carballeira e Sonja Danawsky, um dos livros mais surpreendentes, sobretudo pelo tema difícil que aborda (falamos desta experiência AQUI).
Sonhos com Asas: Leituras de Mãe. A participação especial da professora Helena Imperadeiro
Às tertúlias ELF, pelo caráter intimista que as caracteriza, trazemos convidados que partilham genuinamente do amor aos livros e à leitura. Este encerramento contou com a participação especial de Helena Imperadeiro, professora bibliotecária no agrupamento de escolas de Barroselas (Viana do Castelo), que partilhou com os presentes a sua experiência de mãe leitora (apesar de os filhos já serem crescidos) e do potencial dos livros (e dos sonhos).
Maria José Machado, mãe ELF, apresenta o projeto Nuvem Vitória
O caminho que os participantes ELF percorrem depois de passarem pelo programa é revelador da mudança que se opera nas suas vidas. A Maria José Machado (de quem falamos AQUI) é uma dessas mães. Depois do programa ELF, tornou-se voluntária da leitura, voluntária na replicação do projeto ELF junto de outros pais, e hoje é uma Nuvem que leva sorrisos, em forma de livro, às crianças hospitalizadas. É voluntária do projeto Nuvem Vitória, experiência que veio partilhar com os mais recentes pais ELF.
Susana Corvas e uma nova forma de contar histórias: estreia do tapete narrativo
E foi em ambiente intimista que pudemos conhecer, em estreia, o primeiro tapete narrativo de Susana Corvas, uma mãe ELF, que, contagiada pelo vírus da leitura, depois da sua participação no projeto na EB de Trovela, não mais parou. Tornou-se voluntária da leitura e colaborou ativamente na dinamização desta edição do projeto.
Na imagem acima podemos ver o momento em que conta a história de Herberto, de Lara Hawthorne, através de um original tapete narrativo construído por si. Curiosamente, esta pequena grande obra (que já integrou outras edições ELF) é um hino aos talentos de cada um (e este projeto tem-se revelado especialista em acordar talentos adormecidos...).
Trabalhos baseados na obra de António Mota A Casa de Palavras (o autor visitou a escola na semana da leitura)
E em ambiente de festa, numa biblioteca já decorada para receber António Mota e Daniel Completo (imagem acima), a tertúlia terminou em alegre confraternização, aquecida por sorrisos, enquanto um sugestivo bolo se encarregava de plantar uma memória doce em cada um dos presentes.
Vale a pena recordar e revisitar esta rubrica, que acaba de ser distinguida com o selo Escola Amiga da Criança, na categoria Escola em Casa, uma das quatro distinções atribuídas ao Agrupamento de Escolas António Feijó.
São quase 40 sugestões de atividades que em muito poderão contribuir para fazer valer 2020, sobretudo agora que um novo estado de emergência foi decretado, e que é em Casa que somos convidados a permanecer.
Algumas das obras que integraram a rubrica
Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntosnasceu durante o período de confinamento, no âmbito do E@D, e tevecomo principais objetivos colmatar
a falta dos livros físicos, uma das principais valências dasbibliotecas escolares, e
disponibilizar propostas de trabalho a pais e professores, passíveis de
integrar quer os planos de aula, quer o tempo em família, tendo como base o
livro.
Guardas iniciais de Cem sementes que voaram, obra que integra as sugestões Dá guardas à Terra
A rubrica, composta por uma (ou mais) sugestões de leitura,
em cada entrada, e por propostas concretas de atividades a partir dos livros
sugeridos, contou com 15 publicações (entradas) entre os meses de março e maio
2020, que integraram um total de 29 obras literárias e 38 sugestões de
atividades.
As diferentes propostas de
leitura / atividade foram cuidadosamente selecionadas, tendo em conta não
apenas a nova realidade que se instalava (pandemia e confinamento), mas também
as efemérides e comemorações que iam tendo lugar(dia do pai, dia do livro
infantil, dia da Terra, 25 de abril, dia da Mãe...), no sentido de oferecer
contexto e conferir significado à leitura.
Pormenor do miolo de O Farol, a obra que deu corpo às Sugestões Leituras Luminosas
As obras apresentadas contemplaram
autores e ilustradores nacionais e internacionais, clássicos e contemporâneos,
géneros e discursos variados, e também novidades de 2020. As sugestões de
atividades, embora mais direcionadas para a Educação Pré Escolar e 1º Ciclo de Ensino Básico, eram adaptáveis a
qualquer nível de ensino.
Fica o convite para revisitar a rubrica FIQUE EM CASA, onde se encontram as quase 40 sugestões de atividades (interessantes e divertidas) em torno da boa literatura:
Quer celebremos, ou não, o Halloween, a figura da bruxa acaba sempre por se fazer notar nas celebrações do meio do outono. Não podíamos, pois, perder esta oportunidade oferecida pelo contexto, para sugerir uma viagem pelo universo das bruxas, personagens incontornáveis na literatura para a infância (e não só!).
Seleção literária "histórias com bruxas dentro"
Quase sempre a representar o vilão, a bruxa desempenha um importante papel nas narrativas que integra.
Se é verdade que nem sempre simpatizamos com elas, também é certo que sem os seus feitiços a história não teria o mesmo efeito.
Três contos populares, "A Bela Adormecida", "Rapunzel" e "Hansel e Gretel", maravilhosamente ilustrados, onde a bruxa desempenha o papel de vilã.
Muito presente no conto popular (quem não se recorda da "velhinha" que mora na Casinha de Chocolate? Ou da bruxa que aprisionou Rapunzel? Ou daquela que garantiu que Bela Adormecida se picasse no fuso? Ou ainda da malvada madrasta de Branca de Neve?), a bruxa continua a marcar presença na atual produção literária para a infância, ora em novas edições do conto popular, ora em registos onde vai deixando cair a sua capa de vilã.
Pormenores do início da narrativa de Hansel e Gretel
Os dez títulos que selecionamos integram bruxas para todos os gostos. Revisitamos Hansel e Gretel, dos irmãos Grimm, numa bonita edição com ilustrações de Elizabeth Zwerger, uma obra sem condescendências, com total respeito pelo texto dos Irmãos Grimm (imagem acima).
De Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo, trazemos Os dois Irmãos e a Bruxa, um conto popular português onde ecoa a saga dos irmãos da Casinha de Chocolate (imagem abaixo), mas com "toques" bem portugueses, como este arranque da narrativa:
"Era uma vez uma mulher que tinha um filho e uma filha. Um dia, mandou o filho buscar cinco réis de tremoços, e depois disse aos dois:
- Vou para a floresta apanhar lenha. Se eu não voltar, sigam as cascas de tremoços que vou deitando pelo caminho até me encontrar."
Este belíssimo trabalho de Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo apresenta-nos um conto popular português com fortes ecos de Hansel e Gretel (ou a Casinha de Chocolate).
Fomos em busca da princesa que dormiu o mais longo sono da história dos contos, e descobrimo-la num belíssimo álbum pop-up: A Bela Adormecida. Um interessante trabalho, onde texto verbal e imagem tridimensional dialogam em perfeito equilíbrio, mantendo bem visíveis as dicotomias do conto: a fada e a bruxa, a bondade e a maldade, a alegria e a tristeza..., culminando numa clara vitória do bem sobre o mal com o incontornável "viveram felizes para sempre".
Pormenores da ilustração tridimensional do livro pop-up A Bela Adormecida
A cuidar dos seus rapúncios, fomos encontrar a bruxa que aprisionou Rapunzel, numa original edição da Oqo, da autoria de Iratxe López de Munáin, responsável pelo texto (que recupera dos Irmãos Grimm) e pelas ilustrações. Nesta obra destacamos a originalidade das ilustrações, que conferem um clima muito peculiar à narrativa, condizente com o estado de espírito que vai marcando o percurso das personagens, e, simultaneamente, complementar em termos de informação enciclopédica: repare-se, por exemplo, nas guardas preenchidas com a flor que acaba por ditar o destino de Rapunzel: os rapúncios (imagem abaixo).
Pormenores da obra Rapunzel: dupla página do miolo, capa e guardas iniciais preenchidas com rapúncios.
Surpreendente e inusitada é a obra que nos chega da editora The Poets and Dragons Society, Bruxa, Bruxa, vem à minha festa, de Arden Druce e Pat Ludlow, um álbum de dimensões generosas e recheio "assustador", onde cabe ao leitor decidir se a bruxa é, ou não, vilã. Este álbum convoca um conjunto de personagens que habitam o imaginário do pequeno leitor, como o gato, o dragão, o unicórnio, o duende, o pirata, o lobo, ou o capuchinho vermelho, que vão sendo convidados para a festa do narrador, por encadeamento,
"Bruxa, Bruxa, por favor, vem à minha festa.
Obrigada. Irei sim, se convidares o gato."
"Gato, gato, por favor, vem à minha festa.
Obrigado. Irei sim, se convidares o ..."
culminando num inesperado final...
Pormenor da dupla página inicial e da capa de Bruxa, Bruxa, vem à minha festa.
A nossa viagem pelo universo das bruxas literárias levou-nos, inevitavelmente, a paragens onde esta personagem parece ter-se cansado da fama de vilã. É o que acontece, por exemplo, em "As duas bruxas gémeas", um texto de Luísa Ducla Soares, com ilustrações de Célia Fernandes, que integra a obra Histórias com Números. Trata-se de uma narrativa bem disposta, onde assistimos ao célebre "virar do feitiço contra o feiticeiro". Começa com o anúncio do nascimento das duas bruxas:
"Querido marido, Feiticeiro do Diabo,
Tivemos hoje duas filhas. Uma é linda, cheia de sardas, com o nariz torto como um papagaio, cabelo espetado e duas verrugas enormes na cara. Vais ter orgulho nela. Vou chamar-lhe Lua Nova, por ser tão escurinha.
Mas a outra... parece defeituosa. Saiu loura, com dois grandes olhos azuis, e não tem sequer um sinal na pele. Que desgraça! Vou chamar-lhe Raio de Sol, porque é mesmo um raio de uma bruxa!
Quando puderes vem cá vê-las, e aproveita para trazeres um caldeirão novo, porque o nosso já está esburacado.
Que todas as maldições te acompanhem!
Bruxa Repuxa
Não estranhem o tom da carta, porque as bruxas não costumam ser muito simpáticas." (acrescenta a autora em jeito de lembrete).
Pormenor do miolo de "As duas Bruxas Gémeas" de Luísa Ducla Soares e Célia Fernandes, e capa da obra que integra o conto.
Já Henriqueta, a bruxinha que protagoniza Henriqueta e o bruxedo da lua, de Lurdes Breda e Manuela Rocha, tem como passatempo favorito fazer bruxarias (que é afinal o trabalho das bruxas), atormentando a vida dos que se cruzam com ela. E tudo corre bem para Henriqueta até ao dia em que decide fazer um bruxedo à Lua, e se vê, literalmente, a andar para trás.
Trata-se de uma história ternurenta, à qual não faltam os ingredientes típicos de uma história com bruxas (aranhas, morcegos, corujas, caldeirões, poções...), com a particularidade de apresentar os cenários a preto e branco, convidando à cumplicidade do leitor para dar o tom e o toque final à narrativa.
Capa e pormenor do miolo de Henriqueta e o bruxedo da lua: destaque para a possibilidade de o leitor colaborar na construção dos cenários.
E como bruxa que se preze tem um gato preto, não podíamos deixar de convidar Leonardo, o gato preto que vivia nas ruas e que ansiava encontrar uma bruxa que cuidasse de si. Mora na obra Desculpa... Por acaso és uma bruxa? de Emily Horn e Pawel Pawlak, e conquista qualquer leitor.
Leonardo costuma refugiar-se na biblioteca, pois é um lugar quentinho, e, um dia, ao folhear a enciclopédia das bruxas, descobre que todas as bruxas têm um gato preto, uma vassoura, um caldeirão e usam chapéus pontiagudos e meias às riscas.
Decidido na sua missão de ser "adotado" por uma bruxa, enceta uma divertida viagem pelas ruas da cidade à procura de uma... será que a vai encontrar? Onde? A imagem abaixo dá-nos uma pista...
Capa e pormenor do miolo de Desculpa...Por acaso és uma bruxa?
E quem disse que as bruxas não podem ser divertidas? António Mota, no seu célebre poema "Numa casa muito estranha", diz-nos que sim! Este texto, inicialmente publicado em Se tu visses o que eu vi, e recentemente incluído na coletânea Casa de Palavras, uma edição comemorativa dos 40 anos de vida literária do autor, com ilustrações de João Vaz de Carvalho e música de Daniel Completo, é garantia de sucesso e gargalhada junto dos mais novos. (Recordamos, a propósito, uma das vistas que o autor fez em março 2020 à EB da Feitosa):
Tendo como ingrediente principal o humor, e como condimento os jogos de palavras, onde o ritmo e a musicalidade marcam forte presença, este texto apresenta-se ainda como pretexto para refletir e desconstruir alguns dos principais estereótipos veiculados pelo conto popular.
Capa e dupla página correspondente ao texto "Numa casa muito estranha"
A encerrar a nossa seleção de livros com bruxas dentro, propomos a leitura de A casa com patas de galinha, um livro de Sophie Anderson, que recupera e reatualiza a figura de Baba Yaga. São 282 páginas de convívio com personagens que oscilam entre o mundo dos vivos e o dos mortos, de reflexão sobre o lugar e a missão de cada um, num registo bastante emotivo: para degustar em família.
"O meu destino não está traçado, e é assim que gosto dele. As possibilidades são tão infindáveis quanto as estrelas. Enchem o mundo dos vivos e o mundo Yaga e até cintilam nas festas para os mortos." (Sophie Anderson)
Capa e contra capa de A Casa com Patas de Galinha.
Desejamos que a magia da leitura conquiste todas as famílias.
Celebrar o outono pode ser um caminho de descoberta da beleza, um caminho de gratidão à Natureza, e uma oportunidade para refletir sobre o lugar de cada um de nós nesta Casa comum.
Representações do outono na Literatura para a Infância (e não só).
Tornou-se habitual a expressão "agora já não há quatro estações" (o que não deixa conter alguma verdade, sobretudo devido às alterações climáticas).
No entanto, ainda é
possível encontrar características específicas de cada uma das quatro estações,
e parece-nos que também será possível, de algum modo, reverter esta situação
(recordemos os meses de confinamento, quando o mundo parou e a natureza se
revelou – imagens de cidades sem fumo, de espécies animais que regressaram,
etc, inundaram os noticiários e as redes socias).
Há um conjunto considerável de obras que têm por base a temática das estações do ano. Falamos de algumas, a propósito das representações do verão na LIJ, AQUI. Na imagem, podemos ver representações do outono em A Árvore, de Iela Mari, O outono é o tempo a envelhecer, de Mª Isabel César Anjo e Mª Keil, um livrinho que integra Estações do Ano, de que falamos AQUI, e Começa numa Semente, de Webber Knowles, obra a que já nos referimos a propósito das comemorações do dia da Terra, AQUI.
As representações do ambiente na literatura para a infância apontam, hoje, para uma visão mais
ecocêntrica do mundo, em detrimento da visão antropocêntrica, que durante muito
tempo prevaleceu. Estas obras podem ser um caminho paraaguçar o olhar para o Belo, para a riqueza e
diversidade da Natureza.
Representação do outono, num belíssimo pop-up (em inglês) que faz o pequeno leitor participar das descobertas que se revelam a cada nova estação. Seasons, de Anna Milbourn e Alexandra Badiu.
Trazemos, neste sentido, um conjunto de sugestões literárias (e não só) para celebrar o outono. Obras que nos convidam a (re)descobrir a essência, a abrandar, a aprender que tudo tem o seu ritmo e o seu tempo.
Pormenores das obras Seasons, de Anna Milbourn e Alexandra Badiu e As quatro Estações de António José Abad Varela e Emílio Urberuaga.
Conhecer
para amar.
Conhecer a Terra, o Planeta, a Natureza, o Universo e as suas leis, para o
aprendermos a amar e a respeitar. Neste
campo, obras que versem sobre os ritmos e os ciclos da natureza, por exemplo,
podem desempenhar um importante papel.
A incontornável Floresta de Sophia e o emblemático passeio pelas quatro estações, pela mão de Isabel, a protagonista desta belíssima narrativa.
Enquanto parte do mesmo cosmos, nós também somos seres de ciclos e de ritmos. Ritmos esses que deixamos de respeitar, e o resultado está à vista! Portanto, regressar às origens, através da literatura, constitui um possível (e poderoso) meio de reflexão sobre o nosso lugar nesta Casa que é de Todos.
Pormenor da primeira página de A Pequena Semente, de Eric Carle, uma narrativa que começa e acaba no outono, reforçando a ciclicidade da natureza. Falamos desta obra AQUI.
O outono, que "é tempo em que o sol parece morno" (Anjo, Mª. I. e Keil, Mª. in O outono é o tempo a envelhecer), convida a passeios pelo campo, pelo monte, pela floresta. Sair para passear e recolher alguns elementos característicos desta estação, para além de proporcionar a experiência real do contacto com a natureza e a sua exuberância cromática nesta época do ano, pode resultar em atividades bem divertidas, e ao mesmo tempo, formativas. Podemos, por exemplo, construir um alfabeto de outono, inspirando-nos nas ideias que a Marie Claire apresenta, AQUI, e depois brincar com as letras, elaborando um Alfabeto Literário, inspirado nesta estação do ano (Falamos de Abecedários Literários AQUI).
Capa e pormenor de duas páginas dedicadas ao outono, em Um Ano Inteiro, Agenda para explorar a Natureza
Os passeios pelo exterior podem ainda ser enriquecidos com as sugestões apresentadas em Um Ano Inteiro (imagem acima), um livro que faz recordar os antigos almanaques, e que é um manancial de ideias para pôr em prática. Há propostas para todas as semanas do ano. Em outubro, por exemplo, os autores recomendam:
Semana 1: Escuta a brama dos veados: é agora!
Semana 2: Faz uma Arca do Tesouro com Sementes (gostamos particularmente desta ideia:)
Semana 3: Sai à procura de flores outonais
Semana 4: Faz as aves voar no teu caderno
Pormenores das páginas dedicadas ao início do outono, em O Grande Livro das Tradições Populares Portuguesas, de José Viale Moutinho.
O outono, pelo recolhimento que começa a pedir, é também o momento ideal para resgatar tradições, recolher lendas, provérbios e histórias (dos livros ou da vida). O Grande Livro da Tradições Populares Portuguesas, de José Viale Moutinho (imagem acima) é um excelente livro para toda a família, com um texto para cada dia do ano, ao longo das quatro estações, dos doze meses do ano.
Excerto do conto "Quando o outono não apareceu", in Brincar às escondidas com a Mãe Natureza, de Rosário Alçada Araújo e Catarina França.
A beleza desta estação é também uma fonte de inspiração para criar pequenas histórias. Agarrando a ideia que o título do texto da imagem sugere ("Quando o outono não apareceu"), vamos criar! O que poderia impedir o outono de aparecer? O que lhe teria acontecido? Por onde andaria?
"O outono entra sempre pela janela", um dos poemas dedicados ao outono em Poemas para as quatro estações, de Manuela Leitão e Catarina Correia Marques, obra de que falamos AQUI, a propósito da primavera.
E para completar este puzzle de ideias para celebrar o outono (com livros), só falta mesmo trazer a poesia. Voltamos a sugerir os Poemas para as quatro estações, obra de que já falamos na Primavera, com a sugestão Andorinhas mensageiras de esperança, e no verão, a propósito das representações do verão na LIJ. Para celebrar o outono, as autoras trazem-nos "O outono entra sempre pela janela" (imagem acima), "Menu serrano" (imagem abaixo), "A lenda de 11 de novembro", "A invasão" e "Árvores caducas".
Excerto de "Menu Serrano" in Poemas para as quatro estações.
Para trazer poesia para o nosso "caderno de criações de outono", sugerimos "escrever ao jeito de...", a partir do poema "Menu Serrano". É simples:
É só pegar no modelo e estrutura das estrofes (imagem acima) e substituir os nomes das serras (que podem ser terras), das pessoas, das ações e dos petiscos.
Por exemplo:
Fui à quinta de pentieiros
Levei comigo o Tomé
Comemos broas de mel
E bebemos água-pé!
Representações do outono nos livros
Em O
Amanhã não está à venda, um texto
do brasileiro Ailton Krenak,
publicado durante o confinamento, o autor refere:
“A nossa mãe, a Terra, nos dá de
graça o oxigénio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã (…). Tomara que
não voltemos à normalidade, pois se voltarmos é sinal que não valeu de nada a
morte de milhares de pessoas no mundo inteiro (…) e aí teremos provado que a
humanidade é uma mentira”.
Desejamos a todos belos passeios pelos caminhos do outono, e belas criações inspiradas nos livros! E desejamos, sobretudo, que este tempo seja um tempo de contemplação e deslumbramento que nos conduza à reflexão, sobretudo neste momento delicado que vivemos, que nos faz questionar a “normalidade”.
P.S. Podem continuar a fazer-nos chegar os vossos trabalhos, as vossas experiências, as vossas criações de outono. Usem, para o efeito, o formulário de contacto aqui do blogue ou enviem através da nossa página de FB.