Formar mediadores de leitura, aproximando a investigação do público em geral, e das famílias em particular, é a nossa missão.
O nosso trabalho tem por base o conhecimento de livros e de estratégias simples de abordagem à leitura partilhada, que privilegiam a afetividade, a ludicidade e a literacia familiar.
Da nossa janelinha número 5, espreita uma obra de um dos nomes mais conhecidos da Literatura Infantil em Portugal, Luísa Ducla Soares, uma autora que não se escusa a trazer para os seus livros, entre outros assuntos, questões como as desigualdades sociais ou o culto pelo consumo exagerado. Sendo o Natal uma época que faz sobressair estas realidades, são vários as obras que Luísa Ducla Soares dedica ao tema, sendo, portanto, uma autora a que regressaremos ao longo deste calendário de advento.
Os livros sobre a temática natalícia, ora versam sobre um imaginário mais ligado à figura do Pai Natal, como pudemos ver nas sugestões 3 e 4, por exemplo, ora sobre um imaginário mais voltado para a figura do Menino Jesus, como teremos oportunidade de ver ao longo deste advento. Há, porém, um conjunto de publicações, que nos parece em crescendo, que junta estes dois imaginários, provando que há lugar para ambos. A nossa sugestão de hoje é um desses exemplos, e tem por título O Pai Natal e o Menino Jesus.
Esta obra tem como cenário o centro comercial, e como protagonistas a avó Mariana, que recorda, nostalgicamente, o Natal da sua infância e vê o Natal de hoje como um negócio, e a neta Sandra, a menina pedinchona que escreve cartas de três páginas ao Pai Natal, e que vê em cada ida às compras, uma oportunidade para pedir mais uma coisa à avó.
A reviravolta acontecerá quando, depois de o Presépio ter sido usado como "painel de publicidade" para os logistas (imagem acima), o Pai Natal entrar em ação e decidir dar um uso inesperado aos artigos ali expostos.
Com o gesto do Pai Natal, até a avó Mariana reconsidera a sua visão do Natal...
E para além da leitura, o que sugerimos?
1. O Pai Natal decide oferecer um presente ao Menino Jesus. Vamos ajudá-lo a escolher o presente ideal?
2. Vamos fazer um postal de Natal? Ao jeito da ilustradora desta obra, recorrendo ao recorte e à colagem, vamos criar um postal de Natal!
Não se esqueçam de partilhar connosco as vossas experiências!
Em jeito de resposta ao Lobo Mau, que espreitou da janelinha do nosso calendário, ontem, trazemos hoje um divertido trabalho de autoria internacional: Eu sei tudo sobre o Pai Natal, de Nathalie Delebarre e Aurélie Blanz.
Este é um bom livro para alimentar as conversas em torno da inevitável questão, que, em algum momento, tocará a todos os pais: Mas, afinal, o Pai Natal existe?
Pela voz de um narrador infantil, e num registo pautado pelo humor, as autoras desconstroem os habituais argumentos que os adultos usam em relação a esta questão.
Um discurso a que poderiamos dar o nome de "Lista de ideias para desarmar os nossos pais", como podemos ver pelos exemplos que se seguem (e pelos que constam das imagens apresentadas).
"Os crescidos dizem que o Pai Natal não tem tempo para ler as cartas de todos os meninos. Dizem que são tantas que nem se consegue contá-las.
Mas eu sei que ele as lê, porque nunca se engana nos presentes."
"Os crescidos dizem que o Pai Natal não pode estar em todas as lojas ao mesmo tempo.
Mas eu acho que isso é um disparate, porque toda a gente sabe que os pais natais das lojas são a fingir." (imagem abaixo)
Ao longo do livro, e à medida que o pequeno narrador vai "desmontando as verdades" dos adultos, são apresentados alguns dos mais emblemáticos elementos associados à figura do Pai Natal, como a árvore da Natal, a chaminé, as renas, o trenó, a Mãe Natal, os presentes, as cenouras para as renas, as cartas, etc.
Trata-se, pois, de um divertido livro, capaz de gerar interessantes conversas em torno deste imaginário de Natal, mais ligado à figura do Pai Natal, mas também de conduzir a reflexões sobre alguns comportamentos dos adultos, que confundem as crianças (como podemos verificar na imagem acima).
E para além da leitura, sugerimos:
1. A criação de um novo argumento, ao jeito dos que são apresentados nesta obra, para juntar à lista de "ideias para desarmar os nossos pais".
2. A construção de um acróstico, a partir da palavras Pai Natal, que poderá ser embelezado com recortes de folhetos de supermercado, onde não faltam os elementos que povoam este livro.
Divirtam-se! E Partilhem connosco a vossas criações! (Já sabem que no dia de Natal haverá surpresas...)
Hoje regressamos com sugestão de uma dupla nacional: Clara Cunha, bem conhecida entre nós pelos seus famosos Cuquedos, e Natalina Cóias: Feliz Natal Lobo Mau é o livro que espreita da janelinha nº3 do nosso Calendário de Leituras de Advento.
"Esta é a história do Lobo Mau, que na noite de Natal andava à procura da Capuchinho Vermelho, mas não a encontrou. Quem ele viu foi o Pai Natal, que estava escondido da Avozinha, que por pouco não o apanhou a comer as bolachinhas."
É assim que começa este divertido texto, que, recuperando elementos dos contos populares, como a Capuchinho Vermelho, os Três Porquinhos ou a Velhinha da Cabaça, se aresenta com um enredo hilariante e um final bastante surpreendente.
Esta obra reúne, então, algumas das personagens bem conhecidas de todos nós, e reinventa alguns "clichés" (sabiam, por exemplo, que a cada mentira do Lobo Mau, não lhe crescia o nariz, mas sim a cauda?), propiciando um interessante diálogo intertextual.
Paralelamente, este álbum narrativo desconstrói também alguns lugares comuns: parece que afinal o Pai Natal não é assim tão conhecido... (pelo menos o Lobo Mau não o reconhece, chegando quase a confundi-lo com a Capuchinho Vermelho, o que deixa o velhinho de barbas brancas bastante aborrecido).
O nosso Lobo Mau é, de facto, um Lobo Mau, como ele próprio diz... o que torna difícil pôr em prática algumas das sugestões que o Pai Natal lhe dá (imagem abaixo).
Ainda assim, o Lobo Mau acaba por ter direito a um presente bem surpreendente (será que o feitiço se pode virar contra o feiticeiro?)
Para além da leitura, sugerimos:
1. Um presente para o Lobo Mau: o que oferecerias ao lobo? Porquê? Vamos desenhar esse presente?
2. Uma receita de "Bolachinas de Natal": aproxima-se o fim-de-semana, um tempo propício a fazer bolachinas. A nossa sugestão é procurar uma receita e reunir os ingredientes, para que não falte nada no dia de as confecionar!
Não se esqueçam de partilhar connosco as vossas experiências.
Lá dentro esconde-se um belíssimo livro, onde convivem um sonho, um agricultor, uma árvore e outros habitantes muito especiais...
Trazemos Sonho de Neve do inconfundível Eric Carle.
Este livro, para primeiros leitores, guarda uma narrativa bem ternurenta, marcada pela simplicidade que caracteriza o estilo do autor, que é também ilustrador.
Sonho de Neve conta a história de um agricultor que "tratava muito bem do Um, do Dois, do Três, do Quatro e do Cinco. Alimentava-os todos os dias e limpava-lhes os estábulos...". Já descobriram quem são os misteriosos habitantes desta quinta?
Depois de tratar dos seus "Números", o nosso agricultor ia para ,casa, "sentava-se no seu cadeirão favorito, bebia um chá quente de hortelã-pimenta e comia uma fatia de pão com mel". Uma noite, teve um sonho... que se tornou um bocadinho realidade: um sonho de neve, que tinha pintado a (sua) paisagem de branco (imagem acima).
Tão deslumbrado ficou o nosso agricultor que quase se esquecia de algo muito importante... Mas afinal, ainda foi a tempo!
Esta história recupera alguns dos elementos mais emblemáticos do Natal, como a neve, os presentes, o estábulo, a árvore, o Pai Natal... reinventando-os numa narrativa que é (também) um convite à simplicidade e à vivência diária da essência do Natal.
O que sugerimos para além da leitura?
1. Já descobriste quem são os misteriosos habitantes? Se tu fosses o agricultor, que nomes lhes davas?
2. Já reparaste que alguns dos animais do estábulo fazem parte do presépio? E se os outros também fizessem? Que função poderiam ter? Podes escolher um dos animais e representar, num desenho, por exemplo, a sua "tarefa" no presépio.
3. E se continuássemos a história de Eric Carle? Os presentes estão mesmo a pedir para serem abertos... O que terá recebido cada um dos animais do estábulo?
Ficamos à espera das vossas respostas! Enviem-nos através do formulário desta página, ou respondendo nos comentários de cada publicação, ou então através das nossas páginas de Facebook e Instagram. Divulgaremos todos os trabalhos e no dia de Natal sortearemos dois livros entre todos os participantes.
E porque gostamos do Natal e queremos fazer valer 2020, decidimos ir em busca do Natal nos Livros e trazer, ao longo destes 24 dias, em jeito de Calendário de Advento, 24 sugestões de leituras de Natal.
Alguns dos livros que vão espreitar do nosso Calendário de Leituras do Advento
Este é o mês em que chega o inverno, em que sabe bem estar à lareira, é um mês com feriados e com férias, e, neste ano tão diferente, é um mês para voltar a ficar em casa... Prometemos, pois, tornar este mês especial: com livros por perto, uma mantinha e uma caneca de chocolate quente, não há tédio que resista!
E para tornar o Natal com Livros ainda mais interessante e interativo, do nosso calendário sairá, em cada dia, uma, ou mais, sugestões de atividades relacionadas com o livro do dia e com o Natal.
Muito nos agradará, pois, que nos façam chegar as vossas experiências e testemunhos, inspirados neste calendário especial. No dia de Natal teremos uma surpresa...
Dia 1: O Livro do Natal de José Jorge Letria e Afonso Cruz
Para abrir o calendário, e porque ainda haverá quem não fez o presépio, ou não escolheu o menu da consoada, ou esteja a decidir se "encomenda" o presente ao Menino Jesus ou ao Pai Natal... propomos este maravilhoso álbum poético, que reúne 18 poemas em torno desta época:
O Presépio, A Estrela de Belém, Maria e José, O Burro do Presépio, A Vaca do Presépio, A Ovelha do Presépio, A fala do Menino Jesus, Os Reis Magos, O Sonho do Menino Jesus, O Presépio dos Avós, O Preru da Consoada, A Árvore de Natal, A Missa do Galo, O Pai Natal, Os doces de Natal, As Prensas de Natal, O Natal da Escola, e O Espírito de Natal.
A Ovelha do Presépio: um dos poemas da obra
Trata-se, sem dúvida de um livro muito interessante, onde se cruzam o habitual engenho com as palavras, tão característico de José Jorge Letria, com as inconfundíveis ilustrações de Afonso Cruz, cujo humor acrescenta novas interpretações aos textos, como é possível constatar na imagem acima.
Um livro para ativar o imaginário do Natal.
O que sugerimos para além da leitura?
1- Verificar se falta algum "assunto importante" nos 18 títulos. Há sempre alguma coisa em falta, pois cada Natal tem as suas particularidades. Vamos acrescentar um título?
2- Construir uma ovelha, em material de desperdício, e atar-lhe uma legenda com um desejo ou uma mensagem de Natal.
Ficamos à espera das vossas "janelinhas" do calendário (que é como quem diz, das vossas respostas às nossas sugestões). Partilharemos os trabalhos nesta página e nas nossas páginas de Instagram e Facebook. Espreitem no menu à direita.
No dia de Natal, sortearemos dois livros entre todos os participantes.
O Programa ELF tem vindo a ser distinguido, nas várias edições desde 2017/2018, com o selo Escola Amiga da Criança. Em 2019/2020 a distinção foi atribuída à EB de Rebordões Souto (Ponte de Lima), a escola que viu nascer o primeiro projeto de promoção da leitura em ambiente familiar, no "longínquo" ano de 2007.
Momentos da Tertúlia de Encerramento
A edição ELF 2019/2020 teve lugar entre janeiro e março, tendo a tradicional tertúlia de encerramento coincidido com a abertura da semana da leitura 2020, um momento que ficará na memória de todos os que nela participaram, não só pelas marcas que o projeto deixa naqueles que o vivem, mas também porque foi o último momento festivo do ano letivo (dias depois assistíamos ao encerramento das escolas).
Mensagem da Direção: o professor João Carlos Gonçalves parabeniza as famílias participantes.
Vale a pena, portanto, no âmbito desta distinção, reviver o passado dia 6 de março e recordar alguns dos momentos marcantes dessa festa, que reúne a leitura e os afetos à mesma mesa.
Duas mães participantes partilham o seu testemunho com os presentes
O entusiasmo com que cada família partilha a sua experiência é revelador da transformação proporcionada pela participação no projeto. Na imagem acima é visível a alegria da partilha de dois trabalhos que resultaram de uma experiência muito especial em torno das obras O meu avô, de Catarina Sobral e O Princípio, de Paula Carballeira e Sonja Danawsky, um dos livros mais surpreendentes, sobretudo pelo tema difícil que aborda (falamos desta experiência AQUI).
Sonhos com Asas: Leituras de Mãe. A participação especial da professora Helena Imperadeiro
Às tertúlias ELF, pelo caráter intimista que as caracteriza, trazemos convidados que partilham genuinamente do amor aos livros e à leitura. Este encerramento contou com a participação especial de Helena Imperadeiro, professora bibliotecária no agrupamento de escolas de Barroselas (Viana do Castelo), que partilhou com os presentes a sua experiência de mãe leitora (apesar de os filhos já serem crescidos) e do potencial dos livros (e dos sonhos).
Maria José Machado, mãe ELF, apresenta o projeto Nuvem Vitória
O caminho que os participantes ELF percorrem depois de passarem pelo programa é revelador da mudança que se opera nas suas vidas. A Maria José Machado (de quem falamos AQUI) é uma dessas mães. Depois do programa ELF, tornou-se voluntária da leitura, voluntária na replicação do projeto ELF junto de outros pais, e hoje é uma Nuvem que leva sorrisos, em forma de livro, às crianças hospitalizadas. É voluntária do projeto Nuvem Vitória, experiência que veio partilhar com os mais recentes pais ELF.
Susana Corvas e uma nova forma de contar histórias: estreia do tapete narrativo
E foi em ambiente intimista que pudemos conhecer, em estreia, o primeiro tapete narrativo de Susana Corvas, uma mãe ELF, que, contagiada pelo vírus da leitura, depois da sua participação no projeto na EB de Trovela, não mais parou. Tornou-se voluntária da leitura e colaborou ativamente na dinamização desta edição do projeto.
Na imagem acima podemos ver o momento em que conta a história de Herberto, de Lara Hawthorne, através de um original tapete narrativo construído por si. Curiosamente, esta pequena grande obra (que já integrou outras edições ELF) é um hino aos talentos de cada um (e este projeto tem-se revelado especialista em acordar talentos adormecidos...).
Trabalhos baseados na obra de António Mota A Casa de Palavras (o autor visitou a escola na semana da leitura)
E em ambiente de festa, numa biblioteca já decorada para receber António Mota e Daniel Completo (imagem acima), a tertúlia terminou em alegre confraternização, aquecida por sorrisos, enquanto um sugestivo bolo se encarregava de plantar uma memória doce em cada um dos presentes.
Vale a pena recordar e revisitar esta rubrica, que acaba de ser distinguida com o selo Escola Amiga da Criança, na categoria Escola em Casa, uma das quatro distinções atribuídas ao Agrupamento de Escolas António Feijó.
São quase 40 sugestões de atividades que em muito poderão contribuir para fazer valer 2020, sobretudo agora que um novo estado de emergência foi decretado, e que é em Casa que somos convidados a permanecer.
Algumas das obras que integraram a rubrica
Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntosnasceu durante o período de confinamento, no âmbito do E@D, e tevecomo principais objetivos colmatar
a falta dos livros físicos, uma das principais valências dasbibliotecas escolares, e
disponibilizar propostas de trabalho a pais e professores, passíveis de
integrar quer os planos de aula, quer o tempo em família, tendo como base o
livro.
Guardas iniciais de Cem sementes que voaram, obra que integra as sugestões Dá guardas à Terra
A rubrica, composta por uma (ou mais) sugestões de leitura,
em cada entrada, e por propostas concretas de atividades a partir dos livros
sugeridos, contou com 15 publicações (entradas) entre os meses de março e maio
2020, que integraram um total de 29 obras literárias e 38 sugestões de
atividades.
As diferentes propostas de
leitura / atividade foram cuidadosamente selecionadas, tendo em conta não
apenas a nova realidade que se instalava (pandemia e confinamento), mas também
as efemérides e comemorações que iam tendo lugar(dia do pai, dia do livro
infantil, dia da Terra, 25 de abril, dia da Mãe...), no sentido de oferecer
contexto e conferir significado à leitura.
Pormenor do miolo de O Farol, a obra que deu corpo às Sugestões Leituras Luminosas
As obras apresentadas contemplaram
autores e ilustradores nacionais e internacionais, clássicos e contemporâneos,
géneros e discursos variados, e também novidades de 2020. As sugestões de
atividades, embora mais direcionadas para a Educação Pré Escolar e 1º Ciclo de Ensino Básico, eram adaptáveis a
qualquer nível de ensino.
Fica o convite para revisitar a rubrica FIQUE EM CASA, onde se encontram as quase 40 sugestões de atividades (interessantes e divertidas) em torno da boa literatura:
Quer celebremos, ou não, o Halloween, a figura da bruxa acaba sempre por se fazer notar nas celebrações do meio do outono. Não podíamos, pois, perder esta oportunidade oferecida pelo contexto, para sugerir uma viagem pelo universo das bruxas, personagens incontornáveis na literatura para a infância (e não só!).
Seleção literária "histórias com bruxas dentro"
Quase sempre a representar o vilão, a bruxa desempenha um importante papel nas narrativas que integra.
Se é verdade que nem sempre simpatizamos com elas, também é certo que sem os seus feitiços a história não teria o mesmo efeito.
Três contos populares, "A Bela Adormecida", "Rapunzel" e "Hansel e Gretel", maravilhosamente ilustrados, onde a bruxa desempenha o papel de vilã.
Muito presente no conto popular (quem não se recorda da "velhinha" que mora na Casinha de Chocolate? Ou da bruxa que aprisionou Rapunzel? Ou daquela que garantiu que Bela Adormecida se picasse no fuso? Ou ainda da malvada madrasta de Branca de Neve?), a bruxa continua a marcar presença na atual produção literária para a infância, ora em novas edições do conto popular, ora em registos onde vai deixando cair a sua capa de vilã.
Pormenores do início da narrativa de Hansel e Gretel
Os dez títulos que selecionamos integram bruxas para todos os gostos. Revisitamos Hansel e Gretel, dos irmãos Grimm, numa bonita edição com ilustrações de Elizabeth Zwerger, uma obra sem condescendências, com total respeito pelo texto dos Irmãos Grimm (imagem acima).
De Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo, trazemos Os dois Irmãos e a Bruxa, um conto popular português onde ecoa a saga dos irmãos da Casinha de Chocolate (imagem abaixo), mas com "toques" bem portugueses, como este arranque da narrativa:
"Era uma vez uma mulher que tinha um filho e uma filha. Um dia, mandou o filho buscar cinco réis de tremoços, e depois disse aos dois:
- Vou para a floresta apanhar lenha. Se eu não voltar, sigam as cascas de tremoços que vou deitando pelo caminho até me encontrar."
Este belíssimo trabalho de Carlos Nogueira e Patrícia Figueiredo apresenta-nos um conto popular português com fortes ecos de Hansel e Gretel (ou a Casinha de Chocolate).
Fomos em busca da princesa que dormiu o mais longo sono da história dos contos, e descobrimo-la num belíssimo álbum pop-up: A Bela Adormecida. Um interessante trabalho, onde texto verbal e imagem tridimensional dialogam em perfeito equilíbrio, mantendo bem visíveis as dicotomias do conto: a fada e a bruxa, a bondade e a maldade, a alegria e a tristeza..., culminando numa clara vitória do bem sobre o mal com o incontornável "viveram felizes para sempre".
Pormenores da ilustração tridimensional do livro pop-up A Bela Adormecida
A cuidar dos seus rapúncios, fomos encontrar a bruxa que aprisionou Rapunzel, numa original edição da Oqo, da autoria de Iratxe López de Munáin, responsável pelo texto (que recupera dos Irmãos Grimm) e pelas ilustrações. Nesta obra destacamos a originalidade das ilustrações, que conferem um clima muito peculiar à narrativa, condizente com o estado de espírito que vai marcando o percurso das personagens, e, simultaneamente, complementar em termos de informação enciclopédica: repare-se, por exemplo, nas guardas preenchidas com a flor que acaba por ditar o destino de Rapunzel: os rapúncios (imagem abaixo).
Pormenores da obra Rapunzel: dupla página do miolo, capa e guardas iniciais preenchidas com rapúncios.
Surpreendente e inusitada é a obra que nos chega da editora The Poets and Dragons Society, Bruxa, Bruxa, vem à minha festa, de Arden Druce e Pat Ludlow, um álbum de dimensões generosas e recheio "assustador", onde cabe ao leitor decidir se a bruxa é, ou não, vilã. Este álbum convoca um conjunto de personagens que habitam o imaginário do pequeno leitor, como o gato, o dragão, o unicórnio, o duende, o pirata, o lobo, ou o capuchinho vermelho, que vão sendo convidados para a festa do narrador, por encadeamento,
"Bruxa, Bruxa, por favor, vem à minha festa.
Obrigada. Irei sim, se convidares o gato."
"Gato, gato, por favor, vem à minha festa.
Obrigado. Irei sim, se convidares o ..."
culminando num inesperado final...
Pormenor da dupla página inicial e da capa de Bruxa, Bruxa, vem à minha festa.
A nossa viagem pelo universo das bruxas literárias levou-nos, inevitavelmente, a paragens onde esta personagem parece ter-se cansado da fama de vilã. É o que acontece, por exemplo, em "As duas bruxas gémeas", um texto de Luísa Ducla Soares, com ilustrações de Célia Fernandes, que integra a obra Histórias com Números. Trata-se de uma narrativa bem disposta, onde assistimos ao célebre "virar do feitiço contra o feiticeiro". Começa com o anúncio do nascimento das duas bruxas:
"Querido marido, Feiticeiro do Diabo,
Tivemos hoje duas filhas. Uma é linda, cheia de sardas, com o nariz torto como um papagaio, cabelo espetado e duas verrugas enormes na cara. Vais ter orgulho nela. Vou chamar-lhe Lua Nova, por ser tão escurinha.
Mas a outra... parece defeituosa. Saiu loura, com dois grandes olhos azuis, e não tem sequer um sinal na pele. Que desgraça! Vou chamar-lhe Raio de Sol, porque é mesmo um raio de uma bruxa!
Quando puderes vem cá vê-las, e aproveita para trazeres um caldeirão novo, porque o nosso já está esburacado.
Que todas as maldições te acompanhem!
Bruxa Repuxa
Não estranhem o tom da carta, porque as bruxas não costumam ser muito simpáticas." (acrescenta a autora em jeito de lembrete).
Pormenor do miolo de "As duas Bruxas Gémeas" de Luísa Ducla Soares e Célia Fernandes, e capa da obra que integra o conto.
Já Henriqueta, a bruxinha que protagoniza Henriqueta e o bruxedo da lua, de Lurdes Breda e Manuela Rocha, tem como passatempo favorito fazer bruxarias (que é afinal o trabalho das bruxas), atormentando a vida dos que se cruzam com ela. E tudo corre bem para Henriqueta até ao dia em que decide fazer um bruxedo à Lua, e se vê, literalmente, a andar para trás.
Trata-se de uma história ternurenta, à qual não faltam os ingredientes típicos de uma história com bruxas (aranhas, morcegos, corujas, caldeirões, poções...), com a particularidade de apresentar os cenários a preto e branco, convidando à cumplicidade do leitor para dar o tom e o toque final à narrativa.
Capa e pormenor do miolo de Henriqueta e o bruxedo da lua: destaque para a possibilidade de o leitor colaborar na construção dos cenários.
E como bruxa que se preze tem um gato preto, não podíamos deixar de convidar Leonardo, o gato preto que vivia nas ruas e que ansiava encontrar uma bruxa que cuidasse de si. Mora na obra Desculpa... Por acaso és uma bruxa? de Emily Horn e Pawel Pawlak, e conquista qualquer leitor.
Leonardo costuma refugiar-se na biblioteca, pois é um lugar quentinho, e, um dia, ao folhear a enciclopédia das bruxas, descobre que todas as bruxas têm um gato preto, uma vassoura, um caldeirão e usam chapéus pontiagudos e meias às riscas.
Decidido na sua missão de ser "adotado" por uma bruxa, enceta uma divertida viagem pelas ruas da cidade à procura de uma... será que a vai encontrar? Onde? A imagem abaixo dá-nos uma pista...
Capa e pormenor do miolo de Desculpa...Por acaso és uma bruxa?
E quem disse que as bruxas não podem ser divertidas? António Mota, no seu célebre poema "Numa casa muito estranha", diz-nos que sim! Este texto, inicialmente publicado em Se tu visses o que eu vi, e recentemente incluído na coletânea Casa de Palavras, uma edição comemorativa dos 40 anos de vida literária do autor, com ilustrações de João Vaz de Carvalho e música de Daniel Completo, é garantia de sucesso e gargalhada junto dos mais novos. (Recordamos, a propósito, uma das vistas que o autor fez em março 2020 à EB da Feitosa):
Tendo como ingrediente principal o humor, e como condimento os jogos de palavras, onde o ritmo e a musicalidade marcam forte presença, este texto apresenta-se ainda como pretexto para refletir e desconstruir alguns dos principais estereótipos veiculados pelo conto popular.
Capa e dupla página correspondente ao texto "Numa casa muito estranha"
A encerrar a nossa seleção de livros com bruxas dentro, propomos a leitura de A casa com patas de galinha, um livro de Sophie Anderson, que recupera e reatualiza a figura de Baba Yaga. São 282 páginas de convívio com personagens que oscilam entre o mundo dos vivos e o dos mortos, de reflexão sobre o lugar e a missão de cada um, num registo bastante emotivo: para degustar em família.
"O meu destino não está traçado, e é assim que gosto dele. As possibilidades são tão infindáveis quanto as estrelas. Enchem o mundo dos vivos e o mundo Yaga e até cintilam nas festas para os mortos." (Sophie Anderson)
Capa e contra capa de A Casa com Patas de Galinha.
Desejamos que a magia da leitura conquiste todas as famílias.