domingo, 9 de abril de 2023

Coelhos Literários para uma Páscoa animada (passatempo à vista)

Há livros para todos e para todos os gostos. E, por altura da páscoa, não é só da cartola que saem coelhos... pois, na verdade, parecem surgir de todo o lado. Bem, aproveitando a onda (porque qualquer pretexto é bom para brincar com livros e às histórias) fomos em busca de coelhos literários pela nossa biblioteca. E selecionamos 20 (juntamos-lhes as suas primas, as lebres).

(Até montamos uma "coelhobiblioteca", como se pode ver na imagem abaixo, e como explicamos nas nossas páginas de FB e Instagram).


Há, de facto, coelhos espalhados por muitos livros e por muitas histórias!!

Encontramos coelhos nos Clássicos da Literatura Infantojuvenil: o conhecidíssimo coelho do relógio em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, com ilustrações de Lisbeth Zwerger, e, das mesmas paragens, o famoso Pedrito Coelho, de Beatrix Potter. Dos bosques austríacos, trouxemos a lebre, uma das personagens de Bambi, uma vida nos bosques, de Félix Salten, obra que nos tem ocupado nos últimos tempos, uma vez que estamos comemorar o seu centenário. Para esta "coelhobiblioteca", escolhemos a edição ilustrada por Benjamin Lacombe. (Já agora, sabiam que não há nenhum coelho neste clássico da literatura? O célebre Tambor que conhecemos da Disney é apenas do cinema - da Disney).

E ainda dentro deste leque de clássicos, recuperamos, naturalmente, a fábula A lebre e a tartaruga.

Capa e pormenores do miolo de Bambi, Pedrito Coelho e A lebre e a Tartaruga


Descobrimos coelhos portugueses, como o popular Coelhinho Branco, reescrito pelos nossos vizinhos galegos Xosé Ballesteros e Óscar Villan (obra de que falamos recentemente, AQUI), e O Coelho Branco, de António Mota, um dos títulos da coleção biblioteca Pedro e Mariana, ilustrado por Danuta Wojciechowska. Do mesmo autor, os coelhos Bitó e Fabi que protagonizam a trilogia Onde está a minha mãe, A casa da janela azul e O dia em que o regato secou, todos ilustrados por Sebastião Peixoto, e já por cá apresentados. Descobrimos, ainda, em Aquilino Ribeiro, a História do Coelho Pardinho que ficou sem rabo, conto que integra a obra Arca de Noé III Classe, ilustrada por Luís Filipe de Abreu, e de que também já falamos AQUI.

Pormenores de O Coelho Branco e História do Coelho pardinho que ficou sem rabo



Ainda no panorama nacional, encontramos coelhos literários em Luísa Ducla Soares e Teresa Lima, no divertidíssimo álbum Se os bichos se vestissem como gente, e em Álvaro Magalhães e Cristina Valadas, na sua emblemática obra Contos da Mata dos Medos, de que já falamos AQUI.

Capa e pormenores do miolo de A Horta do Simão e A Toupeira que queria saber quem lhe fizera aquilo na cabeça


Já no panorama internacional mais recente, descobrimos o Leopoldo e a Clementina, na obra Os Tesouros de Leopoldo, de Deborah Macero, uma obra que vem integrando o kit de livros perguntadores, nas nossas sessões de Filosofia para Criançaso Sr. Coelho e o Sr. Pato, dois vizinhos (que bem podíamos ser nós...) que vivem na obra Perto, de Natália Colombo (prémio Compostela 2008), outro excelente texto perguntador; o Simão, o coelho que protagoniza o livro A horta do Simão, de Rocío Alejandro, também prémio Compostela (2017), a lebre interrogada pela célebre Toupeira que queria saber quem lhe fizera aquilo na cabeça, de Werner Holzwarth e Wolf Erlbruch, e as conhecidas Lebres Castanhas (a grande e a pequena) que vivem no ternurento livro de Sam McBratney e Anita Jeram, Adivinha quanto eu gosto de ti. Para esta "coelhoteca", selecionamos o título Gosto de ti todo o Ano.


Capa e pormenor do miolo de Arrumado


Finalmente, encontramos alguns livros cuja presença dos coelhos se manifesta apenas na ilustração. É o caso dos títulos de Emily Gravett, Arrumado e Demasiado, e Começa numa Semente, de Lara Knowles e Jennie Webber, obra de que já falamos AQUI e AQUI.


Capa e pormenor do miolo de Demasiado


Pormenores de Começa numa semente e Contos da Mata dos Medos

À semelhança do que fizemos na Páscoa de 2022, nas nossas RS, uma original Caça aos ovos literários, esta Páscoa prometemos igual animação com uma divertida Corrida aos Coelhos de História. Acompanhem tudo nas nossas páginas de Facebook e Instagram.


A todos desejamos boas leituras e uma páscoa feliz!!

Até já!


domingo, 5 de março de 2023

Os livros da nova temporada ELF

A edição inaugural da nova temporada ELF, que marca o regresso do programa ao terreno, caminha já para a reta final.

(Temos dado conta do desenrolar das sessões nas nossas páginas de facebook e instagram).

Para este regresso, selecionamos novas obras: dez livros organizados em três conjuntos distintos.

As obras da nova temporada ELF

Na base desta seleção estiveram critérios como a data de edição (privilegiamos publicações recentes), a representatividade de autores, ilustradores, editoras e discursos, e os temas, de modo a oferecermos um repertório o mais vasto possível.

Neste conjunto de livros encontramos autores nacionais e internacionais, livros de autoria única e de autoria partilhada, textos narrativos e textos poéticos (e ainda outros discursos), livros-objeto, textos do património popular, livros onde a família é protagonista, em diferentes representações, livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores) e livros dos quais espreitam questões de índole ambiental (ou o nosso lugar na casa comum que é o planeta).

O 1º kit

Começamos com três obras representativas do património popular:

Destrava-Lengas: Trava-Línguas e Lengalengas, de Luísa Ducla Soares e Helder Peleja, um trabalho de 2022, editado pela Livros Horizonte, que reúne alguns textos inéditos e outros selecionados, pela autora, brilhantemente iluminados pelas ilustrações de Peleja, que acrescenta a estas pérolas populares notas de humor e sentidos menos evidentes. Um livro para recordar que o nosso primeiro contacto com a poesia tem lugar logo nos primeiros dias de vida. Quem nunca cantarolou, por exemplo, "A galinha põe o ovo e o Joãozinho papa-o todo?", para uma criança ainda de poucos meses?

O Coelhinho Branco, de Xosé Ballesteros e Óscar Villan, uma adaptação do conto popular português com o mesmo nome, editada pela Kalandraka (última edição de 2014). Uma narrativa com uma estrutura próxima da cumulativa, que permite um interessante jogo de papéis, que potenciamos através de um mini teatro de fantoches, uma sugestão que acompanhou o livro. Este texto prima também pelo humor, visível, por exemplo, nas variações que o autor introduziu nas referências à Cabra Cabrês. 

(Este foi o único livro que mantivemos das edições ELF anteriores. Um interessante testemunho pode ser encontrado no livro Crianças Leitoras, Famílias Felizes, "Batizando as cabras do avô".) 

Espreita pela Janela, de Katerina Gorelik, uma obra de 2021, editado em Portugal pela Poets and Dragons Society. Trata-se de um livro com janelas cortadas nas páginas do livro, permitindo um interessante jogo, pois raramente aquilo que parece é... Por exemplo, uma aparente simpática velhinha pode afinal ser uma bruxa terrível, ou um aparente lobo mau, pode afinal ser só um convidado para o chá em casa da avozinha... um livro para ativar o imaginário popular coletivo e, simultaneamente, refletir sobre o que muitas vezes julgamos com base em "recortes da realidade".

O 2º Kit

Para o 2º kit, escolhemos quatro obras onde a família é protagonista. Neste conjunto, entre a narrativa e a poesia, vamos encontrar histórias de avós e netos, de pais e filhos e também de primos. Vamos encontrar alguns temas difíceis à espreita e muitos motivos para conversar em família. A escolha de obras protagonizadas pela família prende-se com a proximidade do tema. Depois do património popular (o tema  mais familiar e, por isso, o primeiro), alargamos o leque: um tema próximo, com questões de complexidade crescente.

A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina, uma obra da Bruáa, editada em 2019, que tem por base um conto judaico. Trata-se de uma ternurenta história que envolve um avô, um neto (e uma mãe "rabugenta", como se lhe referiram alguns participantes). Falamos desta obra AQUI a propósito da representação dos avós na literatura para a infância.

Aqui estamos nós, apontamentos para viver no Planeta Terra, um livro de Oliver Jeffers, editado pela Orfeu Negro (última edição 2021). Nesta obra, que o autor dedica ao filho, acabado de nascer, o narrador apresenta o Planeta Terra na sua diversidade e complexidade, como uma casa comum com lugar para todos e onde todos têm uma função "O tempo acaba antes que dês conta. Aproveita-o bem (...) Há muito para fazer" (Jeffers, 2021). Falamos da obra que se seguiu a esta - O que vamos construir, AQUI, integrada na rubrica Livros para uma pedagogia da felicidade.

O Mar Viu, de Tom Percival, um trabalho de 2022, editado pela Jacarandá. Um livro intenso, marcado por uma grande carga afetiva, protagonizado por pai e filha e um urso que havia pertencido à mãe, de permeio. Esta obra integra a secção "Uma rede de afetos", na 3ª parte de Crianças Leitoras, Famílias Felizes, compondo o leque de leituras selecionadas para uma Pedagogia da Felicidade.

Uma Quinta, de Alex Nogués e Alba Azaola, uma obra de 2022, editada pela Akiara. à semelhança de outros livros da editora (falamos de Coração de Pássaro AQUI), trata-se de um trabalho de rara beleza. Uma coletânea de poesia, cujos textos põem a descoberto memórias de infância dos narradores (textual e pictórico), memórias que têm por base os momentos vividos entre primos... numa quinta.

Outros livros sobre representações da família, de que já falamos aqui:

Especial Dia da Mãe

Especial Dia do Pai

Que avós povoam a atual literatura para a infância

Os avós das histórias e das memórias

Os relógios da família 

Literatura infantil e representações da família

3º Kit

O último kit compõe-se de livros especialmente indutores de questionamento (livros perguntadores), e de um pop-up, que, além de ser um interessante trabalho de engenharia do papel, é também um alerta para a problemática ambiental que vivemos.

O Vendedor de Felicidade, de Davide Cali e Marlo Somà, editado pela Nuvem de Letras em 2021 é um livro desconcertante. Belíssimo, de grande formato, com ilustrações que convidam o leitor a perder-se, interroga-nos sobre o grande tema que a todos nos move: a felicidade. Falamos deste livro AQUI.

Era uma vez (e muitas outras serão) de Johanna Sehaible, editado pela Planeta Tangerina em 2021, é um trabalho surpreendente: uma viagem no espaço e no tempo, que se desenrola ao ritmo do tamanho das páginas (que ora diminuem, ora voltam a crescer). É outro excelente livro perguntador, que ajuda pequenos e grandes leitores a colocarem-se em perspetiva e a refletirem sobre o seu lugar e o seu legado. Também falamos deste livro AQUI.

Na floresta da preguiça, de Sophie Strady, Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, editado pela Bruáa (última edição 2022). Este é um livro pop-up que convida o leitor a colaborar na construção da narrativa: primeiro a descobrir a preguiça e toda a fauna e flora da floresta amazónica, e depois (da destruição da floresta) a  voltar a plantar, para que as preguiças e os restantes animais também voltem. Um livro muito bonito, que precisa, contudo, de uma cuidada mediação: refazer uma floresta não acontece com um simples virar de página!

Sessão 1: apresentação do 1º kit


O trabalho em torno destes livros tem-se revelado muito gratificante e revelador. Cada edição ELF é uma surpresa, uma descoberta, uma aprendizagem.

Voltaremos em breve para falar um pouco da receção destes textos em ambiente familiar.

Até já!

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Programa ELF de regresso ao TERRENO (e uma espécie de balanço deste "intervalo")

Depois de três anos de interrupção forçada, o Programa ELF (Educação Literária na Família) regressa ao terreno. Ao longo dos meses de fevereiro e março, distribuído por seis sessões presenciais, este projeto vai marcar presença na EB da Feitosa, no agrupamento de escolas António Feijó, junto de um grupo de pais de alunos do 1º e 2º anos de escolaridade.

Recordando a "caça aos ovos literários" (Páscoa 2022)

Corria o mês de março de 2020, dias antes do fecho das escolas, quando encerramos a última edição presencial do programa ELF, na EB de Rebordões Souto, o lugar onde foi lançada, no "longínquo" ano de 2007, a primeira pedra Ler+ em Família, neste agrupamento.

E, se é facto que a pandemia nos privou de levarmos o programa para o terreno, durante dois anos letivos, também é verdade que nos proporcionou a oportunidade de desenvolvermos novas iniciativas, e de chegar a muitos lares, a partir desta "casinha virtual".

E como janeiro é o nosso mês de aniversário, e, por isso, tempo de balanços, recordamos algumas das ações que marcaram este "intervalo".

A primeira seleção de "Livros para uma Pedagogia da felicidade"

Ao longo destes três anos apresentamos algumas centenas de sugestões de leitura, na sua maioria organizadas por temas, como por exemplo Leituras para uma Pedagogia da Felicidade.

Levamos a efeito projetos como #Fiquem em casa e (re)descubram o prazer de ler juntos e Calendário de leituras de Advento, duas ações que mereceram a distinção Escola Amiga da Criança e que, para além de nos darem a conhecer muitos livros, também apresentam um vasto conjunto de sugestões de atividades (são mais de 100, ao todo!).

Promovemos passatempos (aqui e nas nossas páginas de Facebook e Instagram), como os Livros da Lua, os Feriados em Família, Como tomar conta de um capuchinho vermelho, a Fábrica de Histórias, a Caça aos Ovos Literários...(e mais alguns).

Criamos uma nova valência: Livros e Literacia Familiar, uma ação on-line que nos permite chegar junto de um maior número de pais de crianças da Educação Pré-Escolar e de alunos do 1º ano (e dos seus educadores). Esta valência tem uma "salinha própria", onde disponibilizamos alguns dos materiais que usamos nas sessões.



Em outubro passado, integrada no Mês internacional das bibliotecas escolares, fizemos uma festa!! Comemoramos os 15 anos aLer+ em Família, que assinalamos com o lançamento de um livro: Crianças Leitoras Famílias Felizes. A este projeto também oferecemos um "gabinete próprio", onde se encontram informações adicionais sobre o livro (sinopse, índice, reações dos leitores) e alguns registos, como o vídeo da apresentação, uma entrevista para a rádio e uma reportagem no jornal. É só espreitar AQUI.

Viajamos pelo mundo e também pelas quatro estações (Primavera, Verão, Outono, Inverno), sempre acompanhados de sugestões de leitura. Assinalamos efemérides, incluindo os campeonatos de futebol, e celebramos os 100 anos de José Saramago!!

 


Foi, afinal, um "intervalo" bastante produtivo!!
E agora, estamos "em pulgas", pois esta nova temporada do programa ELF, com novos livros, novas experiências vividas, e, claro, novos pais: PROMETE!!
Iremos dando conta desta jornada nas nossas páginas de Facebook e Instagram ( que também nasceram neste "intervalo"). Acompanhem-nos por lá!

Boas leituras e até já!


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A magia do Natal nos livros

"É raro o autor de literatura infantil que, entre o seu repertório, não conte com uma ou mais obras sobre o Natal, quer na edição nacional, quer internacional. Podemos encontrar clássicos da literatura adaptados aos mais jovens, livros que privilegiam um imaginário mais voltado para o Pai Natal e outros mais centrados no imaginário religioso, onde a figura central é o Menino Jesus, e também livros onde convivem ambos os imaginários; livros que problematizam questões sociais, livros cuja tónica é a família, e livros que nos dão a conhecer o Natal de outras paragens; livros em prosa e livros em poesia, e também livros-brinquedo… Também em relação a este tema, há livros para todos os gostos. Sendo o Natal uma época que privilegia os encontros e convívios familiares, e, no nosso país, um tempo que convida ao aconchego da casa e da lareira, a leitura em família, de livros que tematizam o Natal, pode revelar-se uma experiência ainda mais intensa e transformadora, como o provam os testemunhos que se seguem." 

(Barros, 2022).

Calendário de Leituras de Advento volta a ser distinguido com o selo Escola Amiga da Criança (5ª edição) na categoria Família.

É assim que abre a secção A magia do Natal nos Livros em  Crianças Leitoras Famílias Felizes. Uma secção em que partilhamos testemunhos reais de famílias normais, que nos ajudam a acreditar na bondade dos livros. 

Índice completo AQUI

Para nos ajudar a viver melhor esta época, recuperamos o nosso Calendário de Leituras de Advento, iniciativa que fez um enorme sucesso na época natalícia de 2020, e que mereceu a distinção Escola Amiga da Criança em 2021, na categoria Literacias, e em 2022, na categoria Família. Podem recordar algumas das belíssimas criações inspiradas neste Calendário na nossa salinha "Trabalhos".

Uma das "surpresas" do Calendário. Há mais AQUI.


Podemos encontrar neste Calendário 24 sugestões de leituras de Natal, acompanhadas por 60 propostas de atividadesdesde tricotar uma mantinha para o menino Jesus, passando por confecionar e beber uma chávena de chocolate quente com o Pai Natal, construir um postal para oferecer a um vizinho, fazer poemas ou abecedários de Natal ilustrados, fazer bolachinhas para oferecer de presente, cantar, recolher tradições das Janeiras, até descobrir como se diz avó em três línguas diferentes, o leque é muito diversificado e garante bons momentos, quer em família, quer noutros contextos, como o escolar, por exemplo.

Alguns dos livros de Natal, de autoria nacional, do nosso Calendário.

Para além das 24 sugestões que espreitam deste calendário de leituras de advento, podem encontrar AQUI, mais dois títulos, de que falamos no Natal de 2021.

Alguns livros de Natal, de autoria internacional.


Vamos aproveitar a magia do Natal dos livros para viver mais intensa e genuinamente esta época tão especial. 

Aqui fica, então, em jeito de visita guiada, o roteiro pelas 24 janelas do nosso Calendário de leituras de Avento:



Boas leituras e até já!

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Representações da Família em José Saramago

Comemoramos hoje o centenário do nobel da literatura português, um nome incontornável, cuja obra parece não conhecer fronteiras etárias.

Saramago, que apenas escreveu uma obra destinada ao público infantil, A maior flor do mundo (mais informação AQUI) encontra-se hoje presente num número crescente de publicações de potencial receção leitora infantil. 

A juntar ao Silêncio da Água, um trabalho com ilustrações de Manuel Estrada que recupera um excerto de As pequenas memórias, e ao Lagarto, com ilustrações de J. Borges, que tem como pano de fundo um fragmento de A bagagem do Viajante, 2022 trouxe a lume dois novos trabalhos.


Uma Luz inesperada, um excerto da obra já referida, A Bagagem do Viajante, com ilustrações de Armando Fonseca, e Jerónimo e Josefa, um trabalho da Tcharan, com ilustrações de João Fazenda, que tem por base o discurso que José Saramago proferiu aquando da receção do prémio nobel, em 1998. 

Apesar de encontrarmos já em A Maior Flor do Mundo e O Silêncio da Água, a par da convivência íntima com os elementos da natureza, a alusão à família, nestes dois novos trabalhos, este tema ganha particular expressão. 

Jerónimo Melrinho (o homem mais sábio do mundo) e Josefa Caixinha (a mulher que tinha pena de morrer porque o mundo era "tão bonito"), avós do autor, apresentam-se no trabalho da Tcharan, com o auxílio das belas ilustrações de João Fazenda, como modelos de afeto e mestres da vida.

Uma luz inesperada, pode quase ser lido como uma "sequela" de Jerónimo e Josefa, atendendo ao tema de fundo: a vida dos avós de Saramago e o seu principal meio de subsistência, a "criação dos bácoros", desta vez já "prontos" para serem vendidos na feira de Santarém, um percurso que o protagonista menino percorre com o tio, e que lhe vale o vislumbre de um luar que passará a guardar para sempre dentro de si.

Para assinalar esta data, e para que estes textos possam também ser degustados em ambiente familiar, preparamos um vídeo com a sua leitura (e mais uma de bónus).

(versão integral das obras apenas disponível para uso interno:
sala de aula e biblioteca escolar)


O que podemos fazer, em família, a partir destas leituras?

1. Conversar sobre o autor, ir na sua pegada e descobrir um pouco mais do seu percurso;
2. Visitar (virtualmente) alguns dos seus lugares: Azinhaga (Ribatejo), Lisboa, Estocolmo, Lanzarote...

3. Representar episódios da infância do autor, através de desenhos, colagens... (ou as suas "camas" ao relento presentes nestas obras);
4. Conversar sobre a infância e os avós do autor... comparar com outras realidades familiares (por exemplo com a nossa);
5. Fazer um painel de curiosidades sobre Saramago;
6. Construir um postal de aniversário para o nobel, inspirando-se nas ilustrações das últimas obras...


(Poderão encontrar mais ideias, na página da Biblioteca Escolar António Feijó, AQUI)

Desejamos a todos boas leituras e boas comemorações (e não se esqueçam de partilhar connosco as vossas criações, para inspirar outras famílias!)

Se gostam desta temáticas, espreitem também:

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Crianças Leitoras, Famílias Felizes: O LIVRO!

Chegou o momento de partilhar com o mundo um pouco do muito que estes 15 anos de trabalho no terreno, com famílias (e não só), me ensinaram.

Àqueles com quem tive o prazer de privar, e que comigo partilharam, tão generosamente, os testemunhos dos "pequenos milagres" que os livros iam operando no dia a dia da sua família, ao ponto de, em alguns casos terem, efetivamente, transformado vidas, estou imensamente grata.

Não podia, contudo, guardar estes "tesouros" só para mim. O mundo tem de saber, através das  histórias de vida de pessoas reais, de famílias normais, que a leitura, de facto, tem o poder de nos tornar MAIS FELIZES!


Foi assim que nasceu este livro, que reúne cerca de meia centena de testemunhos/histórias de vida onde o livro certo, no momento certo, teve um papel verdadeiramente importante, revelando-se a peça chave para uma conversa há muito adiada, para abordar um tema delicado, para despertar uma memória boa, ou  para gerar uma boa gargalhada, à luz de uma cumplicidade até aí desconhecida. 

São histórias de pessoas que se deixaram seduzir pela beleza da literatura para a infância (que, afinal, também descobrimos que é boa para adultos), e que a incorporaram nas suas rotinas familiares, que "deixaram de ler para adormecer, e que passaram a ler para acordar" (como testemunhou uma mãe). 

São histórias que mexem connosco. Algumas carregam humor, outras embalam saudade; algumas sossegam-nos, outras inquietam-nos; algumas revolvem-nos mesmo as entranhas... no entanto, todas elas têm uma coisa em comum: não nos deixam indiferentes (porque se há desejo que nos une enquanto pessoas, é o de sermos felizes!).


Foi criada uma "salinha nova" neste espaço para falarmos um pouco mais deste livro, que será apresentado na próxima sexta-feira, dia 28 de outubro. Poderão espreitar AQUI e desvendar um pouco mais sobre este trabalho.

Entretanto, venham daí! Espero encontrar-vos entre os presentes (e, quem sabe, não recebem também um presente?...)

Até já!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Sabemos (muito) pouco sobre literatura (infantil)

Se há ideia que vai tomando forma e ficando cada vez mais clara é esta: a literatura infantil não se destina apenas a crianças. Como refere João Manuel Ribeiro, a literatura infantil é a mais democrática de todas, pois pode ser lida por toda a gente. Na verdade, nunca a literatura infantil se destinou tanto aos ADULTOS.

Os sete livros mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?"

Chegados ao final de mais um ano letivo, é prática comum, com os alunos da licenciatura em Educação Básica, fazermos um balanço: O que levam desta Unidade Curricular? Que livro recomendariam a um adulto? são duas das questões que norteiam esta "tertúlia" de encerramento.

E foi num destes momentos que uma aluna referiu: "levo a consciência de que se sabe muito pouco de literatura infantil, principalmente em contexto de família".

Esta constatação tem lugar depois de um ano de contacto semanal com a produção literária para a infância, de análise, de reflexão, de partilha de ideias, emoções e descobertas, de experimentação do poder da literatura (infantil). Depois de um ano "transformador", como mencionou outra aluna, acrescentando "tenho pena de não ter conhecido estes livros mais cedo".

Dois dos textos mais referidos (Onde está a felicidade? O Amor o que é?)

Ora, que livros são esses que tanto mexem connosco? Trazemos aqui os sete títulos mais referidos em resposta à questão "Que livro recomendaria a um adulto?" (primeira imagem).

Apenas uma breve análise aos títulos, permite-nos concluir que a Felicidade é algo que todos buscamos (está presente explicitamente em dois títulos), que o Amor, nas suas mais diversas formas, é o verdadeiro motor da vida, que os laços de Afeto são o nosso aconchego, que a Família é um porto seguro, e que o Humor é um ingrediente imprescindível para uma vida feliz! 

São muitos os alunos que referem o texto Onde está a felicidade?, de Álvaro Magalhães, como "história que todos os adultos deviam conhecer", um conto que integra a coletânea O Senhor do seu Nariz, e do qual já falamos AQUI, quando inauguramos a nossa rubrica Livros para uma Pedagogia da Felicidade. Este é, sem dúvida, um conto que não deixa ninguém indiferente, pois todos nos conseguimos rever na história do Sr. Pascoal. Do mesmo modo que facilmente nos identificamos com as diferentes personagens que povoam o Vendedor de Felicidade, um livro de David Cali e Marco Somá, que apresentamos AQUI, numa seleção de obras de 2021 sobre esta temática. 

 

Pormenores do miolo de O amor o que é? 

O amor o que é?, de José Jorge Letria e Catarina França, é também das obras mais aconselhadas a adultos, pelo facto de nos mostrar o AMOR nas suas diferentes vertentes e manifestações, sendo um livro que nos faz "olhar para coisas a que habitualmente não prestamos atenção, mas que fazem muita diferença na nossa vida", como referiu uma aluna. Na imagem acima, podemos conhecer um bocadinho desta maravilhosa poética do amor.

Capa e pormenor do miolo de A Árvore Generosa

O incontornável clássico de Shell Silverstein, A Árvore Generosa, é, ano após ano, um dos títulos que se repete nesta lista de "livros recomendados a adultos". Efetivamente, esta obra acompanha-nos desde o início da nossa caminhada nesta missão de promoção da leitura em família, tendo integrado o corpus do projeto Lê para mim que depois eu conto...2, e o Programa de Educação Literária na Família, ELF2 (Uma partilha entre mil-folhas).

Num momento em que proliferam edições de "emocionários" (a este propósito aconselhamos a leitura deste texto de Ana Garralón), A Árvore Generosa constitui o exemplo perfeito para apresentar a Literatura como o melhor "laboratório de emoções", um livro que nos "revolve as entranhas", pelo facto de não deixar ninguém indiferente. 

Trata-se de uma obra de múltiplas leituras, geradora de questões que passam, por exemplo, pela nossa relação connosco próprios, com o Outro e com o Planeta, pela busca do nosso lugar no mundo, pela impermanência, pela fugacidade da vida (e o que fazemos com ela). É (também) um livro sobre partidas e regressos, sobre silêncios e ruídos, enfim... sobre a VIDA no seu todo. É, sem dúvida, um livro de "leitura obrigatória" para adultos.

Pormenores do miolo de A Árvore Generosa

Livros que abordam as representações da família, nomeadamente os que versam sobre a relação avós-netos, encontram-se, igualmente, entre as recomendações destes estudantes. A Manta do José, de Miguel Gouveia e Raquel Catalina e O Rosto da Avó, de Simona Ciraolo, obras de que falamos AQUI, foram os títulos mais recomendados. 

A Manta do José, não apenas pela estreita relação entre um avô e o seu neto, mas também pela relação que estabelecemos com "as coisas", o valor emocional dos objetos, a sua ressignificação, enfim, esta obra encerra uma subliminar mensagem atual e urgente, que se destina a todos nós, que vivemos num mundo consumista, marcado pela moda do "descartável".

O Rosto da Avó é um hino à memória, um original convite para conhecer a história dos nossos avós (a quem, muitas vezes, não "atribuímos" uma infância e uma juventude). É uma obra surpreendente, marcada também por um interessante diálogo entre texto e ilustração.

O Nabo Gigante: capa.

O Nabo Gigante, de Alexis Tolstoi e Niam Sharkey, integra a lista de recomendações sobretudo pelos fatores envolvimento e humor. Esta obra foi apresentada a estes estudantes como exemplo de narrativa de estrutura cumulativa, e das potencialidades de que este tipo de texto se reveste, por exemplo, na interação com o "público." Este género de narrativa gera, efetivamente, um grande envolvimento do(s) leitor(es) ou ouvinte(s), resultando em momentos muito agradáveis e bem dispostos, prova de que "ninguém resiste a uma boa história (bem contada)". Estes alunos recordarão, certamente, a aula em que toda a turma deu consigo a arrancar nabos da sala de aula:) 

Pelo muito que há a dizer em relação às narrativas de estrutura cumulativa, é um assunto a que regressaremos numa próxima vez. 

Pormenor do miolo de O Nabo Gigante

Poderíamos juntar mais alguns livros a esta seleção, pois os temas difíceis na literatura (como a guerra e a morte) assim como outros livros perguntadores (de que já falamos AQUI), também foram referidos. Escolhemos, contudo, os que mais vezes foram mencionados, num universo de 50 alunos, pois parece-nos que são um bom exemplo do poder transformador que a literatura (infantil) pode ter em cada um de nós. 

Na verdade, concordamos com a aluna que disse sabermos muito puco sobre literatura infantil. E é, efetivamente, pelo facto de ao longo da nossa prática de mediação, virmos constatando que a falta de hábitos de leitura, quer em família, quer noutros contextos, se deve principalmente ao desconhecimento de bons livros de literatura infantil, que assumimos como missão a disseminação desse conhecimento, tornando-o acessível a todos. [LMB]